ANDRÉ LADEIA
André Luiz Cosme Ladeia nasceu no Rio de Janeiro, em 1983. Atualmente, mora no sul de Minas. É autor de “Suave como a morte”, seu livro de estreia publicado pela Editora Penalux.
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LADEIA, André. Alçapão. Rio de Janeiro: Oito e Meio, 2016. 82 p. 14x20,5 cm. ISBN 978-85-5547-019-6 N. O8 872 “André Ladeia” Ex. bibl. Antonio Miranda
LAVOISIER ÀS AVESSAS
Quando eu morrer,
Façam como as tribos indígenas:
Lancem meu corpo ao mar.
As flechas tesas
Retilíneas
Apontarão para
O céu oco
E a natureza
Cuidará do resto.
PERSPECTIVAS DO DE CUJUS
Em pé no caixão
— Com as mãos sob o ventre —
Observa-nos com seu semblante cerrado e corado.
Para ele, estamos deitados
— pálidos —
Nós que já morremos
UMA VIDA ENTRE OS LIVROS
Uma vida entre os livros
É mais do que uma vida;
Por quantos lugares já foste
Por entre as flavas
— e amiúde mofadas —
Páginas?
Quantas pessoas (não) conheceste?
Uma vida entre os livros
É apenas uma vida;
E nela
Há mais poeira
Do que numa casa em construção.
GRALHAS
Os poetas
— Como gralhas —
Disputam
Aos tapas
As migalhas
Deixadas;
Voam baixo
Rastejam
São cobras
Sem asas.
O HOMEM
O homem é uma
Singularidade
Que orbita
Em seu universo
Egocêntrico — e ptolomaico.
Anestesiado de dúvidas
Histérico
Como um sorriso incontido de nascimento
Ou uma lágrima fúnebre.
O homem é uma
Singularidade
Intumescida
De mistério;
Uma explosão de estrelas;
Um pélago infinito
Que deságua
No além.
LADEIA, André. Suave com a morte. “André Luiz Cosme Ladeia” Guaratinguetá, SP: Editora Penalux, 2014. 120 p. 14x21 cm. ISBN 978-85-8406-045-0 “André Luiz Cosme Ladeia” Ex. bibl. Antonio Miranda
“ ANTROPO TEOFAGIA”
E o Verbo se fez carne
E eu me fiz pão
E fomos repartidos
entre os pobre
“DUOMO”
Perto da majestosa Duomo
Um mendigo se curva e se prostra
Com seu decrépito dorso
Maltratado pelo tempo
E seu casaco verde abotoado
— um tanto quanto acinzentado —
Em decorrência dos anos
Roga, com sua caneca estendida,
Para os transeuntes que por ali passam,
por doação
compaixão
ou por alguma outra esmola
seja ela qual for
Está virado de costas para a Basílica
e de frente para os homens
que ignoram a sua miséria
Não há misericórdia no espelho.
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- Página publicada em maio de 2016; ampliada em junho de 2016.
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