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Imagem: http://krudu.blogspot.com/

 

NEWTON DE FREITAS

(1920 – 1940) 

 

José Newton de Freitas, morto aos 19 anos, vítima de tuberculose. 

 

 

BELO EXEMPLO

 

 

Olho a serra apontando para o céu

com os braços grandes dos seus picos,

com os dedos verdes das suas árvores.

Mas bem que ela não esquece os humildes,

nem o chão, nem as pedras que jazem a seus pés.

 

E pelo abismo, vinda das alturas,
como se fosse um véu de rendas,
como se fosse prata liquefeita,
salta a linda cascata, borbulhando eternal.

 

Ouço. A água geme entre as pedras lodosas,
canta e murmura, ou será que soluça?
Esse barulho de água beijando os penhascos
deve ser um poema de amor
que a serra sabe de cor para dizer ao chão...

 

Bendito o Deus-poeta que te fez, cascata!
Bendita a Natureza onde palpitam sonhos,
sonhos de amor, belezas, ilusões,
em todos os recantos, até nos abismos!
Cascata, és um sonho líquido e sublime.

 

De dia o sol se veste de ouro para contemplar-te,
de noite a lua e as estrelas te namoram sorrindo.
Tu vens do coração profundo das montanhas
e és um beijo eterno da nobreza da serra
à humilde chã das campinas sem glórias.

 

Quando os homens passarem a teus pés,
quando os homens te contemplarem,
os deslumbrados e os indiferentes,
ensina a eles o teu exemplo de fraternidade,
mostra-lhes a tua lição, cascata!

 

 

 

O NATAL

 

Senhor! No teu Natal tanta ventura,

tantos sorrisos, tantas esperanças,

e eu cansado e sozinho,

sentindo tanta mágoa em meu Natal?

Senhor, no teu Natal tanta alegria,

e eu sem fé, sem vontade de viver?

Ah! Meus dez anos de ilusão tão bons,

o tempo em que eu beijava a borda dos presepes

e sorria feliz, contemplando os pastores!

Senhor! No teu Natal tanta ventura

e eu pensando em saudade e eu sentindo amargura!

 

 

 

AMO A LUZ 

Deixai que a luz invada o meu quarto todinho.
Deixai! Nem que a chuva inunde este campo em redor;
Nem que o vento frio açoite o meu corpo cansado;
Nem que a luz me beije demoradamente.

 

Eu amo a luz que é ósculo de Deus;
A luz, que é ciência e liberdade!
 

Sorrio à noite quando um raio de luar

Vem enfeitar o meu sono,
intruso que salta pela minha janela
Porque sabe, talvez, que eu tenho a alma grande
E adoro as ilusões abençoadas.
 

Quando eu estiver morrendo, direi como Goethe
"Mais luz", e os que me assistirem hão de abrir as janelas
Senão eu os amaldiçoarei no derradeiro instante.
 

Mas quem sabe como será o meu momento final?
Quem sabe se haverá sol na minha última hora?
 

Deixai que a luz invada o meu quarto todinho;
A luz que é o beijo de Deus a tocar-me nos olhos,
 A luz que traz a poesia para os meus sonhos.
 

Deixai que a luz espante esta minha tristeza.

 

 

 

 

Página publicada em janeiro de 2020

 


 

 

 
 
 
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