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HERCULANO MORAES
(1945 – 2018)
Poeta, ensaísta, cronista, contista, romancista e crítico literário. Figura das mais destacadas e atuantes nos meios intelectuais do Estado. Jornalista dos mais brilhantes. Nasceu em São Raimundo Nonato, Estado do Piauí (1945). Ocupou importantes cargos na administração piauiense, entre os quais destacamos:
Secretário de Estado da Comunicação Social do Governo do Piauí, Diretor da Casa Anísio Brito e do Theatro 4 de Setembro. Atualmente, é Assessor Especial do Gabinete do Governador. Vereadora Câmara Municipal de Teresina no período de 1971-1973.
Autor de preciosas obras publicadas. É um dos intelectuais mais lidos no Estado.
Bibliografia. Poeta, é autor dos seguintes livros: Murmúrios ao Vento, 1965; Vozes Sem Eco, 1967; Meus Poemas Teus, 1968; Território Bendito, 1973; Seca, Enchente, Solidão, 1977; Pregão, 1978; Legendas, 1995; Oferendas, 1996. Romancista, escreveu: Fronteira de Liberdade. Ensaísta, é autor da Nova Literatura Piauiense, 1975; Visão Histórica da Literatura Piauiense, quatro edições; Fascículos de Literatura Piauiense, em que estuda: volume 1: Da Costa e Silva, volume 2: Assis Brasil; volume 3: Álvaro Pacheco; volume 4. Fontes Ibiapina; volume 5: O. G. Rego de Carvalho, Da Costa e Silva e Assis Brasil. É membro da Academia Piauiense de Letras, da Academia de Letras do Vale do Longá e da Academia de Letras do Médio Parnaíba. Fundador e primeiro presidente do Círculo Literário. Membro da União Brasileira de Escritores (seccional do Piauí e seccional de São Paulo). “Príncipe dos Poetas do Piauí” (1969). Homem de Ação (1982). Intelectual do Ano – prêmio Cabeça-de-Cuia (1987).
Honrarias. Cidadão honorário das cidades: Teresina, Barras e Campo Maior. Comendador da Ordem do Mérito Renascença do Piauí. Medalha do Mérito Visconde da Parnaíba. Cidadão da Cultura Popular (Salvador-Bahia)
(Foi membro efetivo da Academia Piauiense de Letras)
CANTIGAS DE MINHA TERRA
Um dia nós exportamos Milhares de marruás
O gado manso tangido pelos sertões De vastos carnaubais
No lombilho do jumento Ou sobre os trilhos de aço
A cera de carnaúba Desenvolvia o progresso
Bendito tempo de glória… Dentro dos sacos de açúcar
O coco de babaçu teve parte na história…
Ciclo bendito da riqueza brasileira
Velho tempo de fartura contado por meus avós
– Pra nossos netos, Socorro, Que lembrança teremos nós?
(Território Bendito, 1973)
GRAVURA
Não escreverei teu nome na areia.
O vento varre as palavras
e elas nunca se perpetuarão.
Escrever teu nome no tronco de uma árvore?
eis o enigma desta vã filosofia.
Até que a morte nos separe pelo assassínio da ecologia.
Escrever teu nome nos granitos, no cimento, nas nuvens,
nos muros rabiscados, talvez não seja a forma exata de te imortalizar.
Escreverei, teu nome sim
na folha indecifrável da memória, pois só assim este amor
sem preconceitos e limites ficará para a história.
(Oferendas, 1996).
A CANGA – O BOI
A canga e o boi
na alternância
de quem soluça
um tempo imaginário.
A canga e o boi
vaga lembrança
de um mundo
sempiterno e vário.
A canga e boi
legenda esmaecida
na face opaca
de um tempo sem medida.
A canga e o boi
gravura como (vida)
filete sanguíneo na face
da memória... diluída.
A canga...
O boi...
Os sulcos perenes,
de rodas rangindo
na pele de tempo.
A canga...
E o boi?
(Legendas, 1944)
PRAIA DE AMARRAÇÃO
Me sento na areia branca
da praia de amarração
doce marulho de mar
a vida numa canção
e viajo nas espumas
de sargaços e de areia
nas ondas de tua nudez
o meu olhar se incendeia
Um barquinho de papel
singra o mar azul-marinho
como o meu ser anda em busca
de instantes de carinho
Viajamos como anjos
num mundo de céu e mar
faço cama das espumas
e travesseiros do ar
entre nuvens de espumas
meu pensamento vadeia
me traz a sutil lembrança
dos astros de minha aldeia
aldeia de são Raimundo
sem mar, sem rio, sem mim
cheia de céu e de estrelas
tão rubra como carmim
Ah! se eu fosse presidente
no meu grande amor insano
daria pra minha gente
um céu, um rio, o oceano
Me sento na areia branca
da praia de amarração
viajando nas espumas
de sargaços e de areia
faço cama das espumas
e travesseiros do ar
(De Cantigas de amor fundamental, 1974)
O RIO DE MINHA TERRA
O rio de minha terra é um deus estranho.
Ele tem braços, dentes, corpo, coração,
muitas vezes homicida,
foi ele quem levou o meu irmão.
É muito calmo o rio de minha terra.
Suas águas são feitas de argila e de mistérios.
Nas solidões das noites enluaradas
a maldição de Crispim desce
as águas encrespadas.
O rio de minha terra é um deus estranho.
Um dia ele deixou o monótono caminhar de corpo mole
para subir as poucas rampas do seu cais.
Foi conhecendo o movimento da cidade,
a pobreza residente nas taperas marginais.
Pois tão irado e tão potente fez-se o rio
que todo um povo se juntou para enfrentá-lo.
Mas ele prosseguiu indiferente,
carregando no seu dorso bois e gente,
até roçados de arroz e de feijão.
Na sua obstinada e galopante caminhada,
destruiu paredes, casas, barricadas,
deixando no percurso mágoa e dor.
Depois subiu os degraus da igreja santa
e postou-se horas sob os pés do Criador.
E desceu devagarinho, até deitar-se
novamente no seu leito.
Mas toda noite o seu olhar de rio
fica boiando sob as luzes da cidade.
(De Legendas, 1994)
LITERATURA. Revista do Escritor Brasileiro. No. 12. Junho, 1997. Publicação semestral da Editora Códice. Diretor: Nilto Maciel. Editor: João Carlos Taveira Ex. bibl. Antonio Miranda
MOMENTO
Esses bois remoendo um sonho antigo,
essas pedra calando o meu segredo,
essa canavial gemendo o enredo
de um amor que não teve um doce abrigo.
Essas moitas chorando o meu degredo,
essa moenda lembrando o meu castigo,
essas flores a abrir cálice amigo
para um amor que feneceu tão cedo.
(Do livro Voz das Coisas, 1979)
ANTOLOGIA DE SONETOS PIAUIENSES [por] Félix Aires. [Teresina: 1972.] 218 p. Impresso no Senado Federal Centro Gráfico, Brasília. Ex. bibl. Antonio Miranda
[Aparece nesta antologia, como HERCULANO MORAIS DA SUIVA FILHO, 1946 como o anos do nascimento...]
CLAMOR LUMINOSO
“A minha terra é um céu
se há um céu sobre a terra”.
DA COSTA E SILVA
Já passaste o romper da alva, minha terra;
Já penetras para a vida o sol a iluminar.
É seguro... já bem forte o teu andar,
— A esperança no teu seio já se encerra.
A esmo teu futuro já não erra.
Vais serena... vais tranquila a caminhar...
Na estrada do progresso, a triunfar,
Surge teu nome, minha doce e amada terra.
A mocidade promissora do colégio,
Altaneira, pede ao paço, ao egrégio
O realismo de um sonho lucescente.
Quaremos nosso sonho realidade:
— Boa esperança: luz para o novo estado.
— Universidade: luzes para nossa gente.
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Página ampliada e republicada em abril de 2023
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Página ampliada e republicada em março de 2023
Página publicada em janeiro de 2020
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