FRED PINHEIRO
(1925- )
É de Teresina, Piauí, Brasil. Foi, com Fernando Ferreira de Loanda, um dos diretores da revista “Orfeu”, porta-voz, no Rio de Janeiro, da chamada “Geração de 45”. Publicou “Prisma” (195).
A NOVA POESIA BRASILEIRA. Organizado por Alberto da Costa e Silva. Lisboa, Portugal: Escritório de Propaganda e Expansão Comercial do Brasil em Lisboa, 1960. 291 p. 19 x 27 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
NA PÉTALA, O AZUL
Na pétala
o azul
deitado no olhar.
No azul
o menino de ouro
trânsfuga do sono.
No menino de ouro
o lúcido canto
acenando ao mar,
o perdido em mim,
proceloso
e nas vagas, eu.
Nas líquidas curvas
do horizonte
a pétala flutuando.
E na pétala
a sonhar,
o azul.
(De Prisma. Poemas)
PINHEIRO, Fred. Prisma. Poemas. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura, Serviço de Documentação, 1955. 63 p. (Os Novos) 16x22 cm.
NETUNIANA
O deus tenta um recado para nós:
esse ir e vir das águas, na impossível
ânsia de transcender o movimento
e realizar-se além do próprio nível,
é o das palavras escolhendo o segredo...
Essa violência com que fere agora
a praia mansa e o pávido rochedo,
é já a mensagem, vã — que se desflora
com gestos verdes que outro gesto apaga
sem que os alcance o nosso entendimento:
é o deus em fúria ao ver seu pensamento
morrer na língua irresoluta e gaga.
(Rosa dos Rumos)
CISNE
Pluma e silêncio, vinha pela vida
aceita com resignação, conquanto
talvez em hora alguma pretendida.
Presente no ar o aviso da partida
— urge tentar o eterno: um voo, um canto;
um gesto nunca ousado, alguma prece...
Canta, e se vai. O canto permanece.
(Rosa dos Rumos)
ADOLESCÊNCIA
Branca te vejo, como branca espuma
leve demais sobre o pesar das ondas.
O vento vagamente desarruma
teu penteado, e se recita ao som das
violas de marujos afogados.
Tão longe de teu ser o te tornares
outra, que nem a fantasia a inventa:
descuido à flora de preocupados mares,
que sabes desse azul que te sustenta ?
(O Arquipélago)
OS MANDAMENTOS
Amar como um homem amando
viver um homem vivendo:
ousar como um homem ousando
sonhar como um homem sonhando
querer como um homem querendo
lutar como um homem lutando,
morrer como um homem morrendo.
(Canto claro e Poemas Anteriores)
Página publicada em março de 2020
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