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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



Foto:  https://www.geleiatotal.com.br/2017/12/24/alvina-gameiro


Alvina Fernandes Gameiro  -  A poetisa, escritora, pintora, contista, romancista e professora Alvina Gameiro é natural de Oeiras-PI, nasceu em 1917 e faleceu em Brasília em 1999. É formada em Artes Plásticas pela Escola Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro, depois graduou-se pela Universidade de Colúmbia, NY – USA. Já ministrou aulas de inglês e português no Piauí, Maranhão e Ceará. Morou em Teresina, Fortaleza, Brasília e Los Angeles. Já ganhou prêmios. Publicou livros de contos, romance, poesia de cordel romance e novela. 15 contos que o destino escreveu (1970); A Vela e o temporal (1957), Chico Vaqueiro no meu Piauí (1971); Contos do sertão do Piauí (1988), Curral de serras (1980); O Vale das Açucenas (1963). Foi homenageada no 7º Salão do Livro do Piauí (Salipi). Alvina Gameiro fez parte dos imortais da Academia Piauiense de Letras, ocupando a Cadeira 14 – patrono: Cônego Raimundo Alves da Fonseca.

Data e local de falecimento: 13/08/1999 -  Brasília-DF

 

 


De

CHICO VAQUEIRO DO MEU PIAUÍ

Fortaleza:  Editora Henriqueta Galeno, 1971

 

         VI

 

         O Vaqueiro de pé, tem ares de um vigia,

         erguido no terreiro, amarrado à magia,

         de um sonho fascinante, eivado de poesia...

 

         Em palor o clarão da tarde se resume;

         já começa a dançar no espaço o vaga-lume;

         as estrelas no céu acenderam seu lume

         até que o dia surja entre os braços da aurora.

         Diáfana beleza empolga o campo a fora

         e o concerto do vento está parando agora.

 

A noite vai tomando o coração da mata;

a gentil açucena em néctar se desata.

Apenas, no silêncio, há notas de sonata,

que os sapos, em mil sons, rouquejam sem parar,

pois têm cada vivente em meio de saudar,

mostrando aos corações um jeito de agradar...

 

O esplendor do luar, que mais e mais fulgura,

de prata banha inteira a máscula figura,

tão imóvel que até nos lembra uma escultura

de guerreiro lendário ou místico profeta...

É que o Vaqueiro escuta em meio à noite quieta,

sua alma que se dá a cantares de poeta...

 

Tem BA boca apagado o coto do cigarro;

ouve atento o cri-cri desse grilo bizarro,

cantador do gramado ou da frincha de barro,

e lhe vem à cabeça a existência suprema

de um Deus que fez o amor, que da vida é o emblema,

como a rima de luz é a essência de um poema...

 

Falando à Natureza, ele pergunta apenas,

por que foi que o <<Senhor>> molhou com tantas penas

as delícias do amor nas estradas terrenas?

Com que fim acordou a estranha comoção

que sente sem querer, tomar-lhe o coração

e é misto de prazer e de atribulação?!...

 

E Chico sabe, sim, que este amor vinga e cresce

e se o tenta esconder, tanto mais aparece

e quanto mais na sombra, então, é que floresce...

 

 

XI

 

Quando o inverno chegou, alastrou-se a fartura;

o campo se cobriu inteiro de verdura,

e a chuva que fecunda a terra e a planta cria,

no peito pastoril, desabrocha a alegria.

 

E chove sem parar, e chove noite e dia.

a lavoura crescida ao toque da invernia,

rebenta em floração, e os imensos trançados

cobrem de jitirana as cercas dos roçados.

Emboneca-se o milho, o arrozal cacheia,

e de grandes melões a roça se faz cheia,

maxixe e melancia estendem cabeleiras

na estrada que ficou entre os seios das leiras.

 

Os rio colossais a essa hora já transbordam

sobre várzeas sem fim, onde as reses engordam.

Há lagoas brilhando entre o verde capim,

e reúnem-se ali, em perene festim,

comendo a trabalhar, pássaros ribeirinhos,

para o ninho fazer e esperar os filhinhos,

mostrando, na lição, a sábia Natureza

que antes da geração se faz o abrigo e a mesa.

 

Na alcatifa do campo há milhares de flores

desiguais em tamanho, em feitio e nas cores;

é a toalha pintada em estilo divino,

a dizer o <<Senhor>>, na grandeza do ensino,

que não fez distinção semeando os engodos,

no banquete do mundo onde o assento é de todos,

e do néctar do amor, que é o pólen da criação,

Deus serviu a toda a alma um brinde de emoção.

 

Que beleza é a pupila azul do firmamento,

lacrimejando amor, vazando o juramento

do verde que em fartura espraia, nasce e cresce

no campo, nos vergéis, na caatinga e na messe!...

        

 

XIV

 

E junho veio enfim, e como ele a moagem,

o ruído do engenho e as cheirosas tachadas.

E junho veio enfim, concedendo a hospedagem

aos que costumam vir brindar as vaquejadas.

 

Convidam-se ao redor, os vizinhos amigos,

e os vaqueiros que vêm testar a valentia.

Agregados se dão ao preparo de abrigos

Que vão dar cobertura aos heróis da porfia...

Entrega-se à alegria o povo da Fazenda.

Há latidos de cães no paio da morada

e os homens conversando, enquanto armam a tenda,

põem-se a rememorar casos de vaquejada.

 

Adiante, esfolam bois para fazer tassalhos

e o machado golpeia, enquanto o facão talha.

Na cozinha, onde alguém resmuninha  entre ralhos,

rude não de pilão, sobre a paçoca, malha.

E do forno de barro, arrastam cinza e brasa

para enfiar ali, muitas flandres de bolo:

cariri, caridade, e os sequilhos de casa,

pamonha, manauê, a peta, o engana-tolo.

 

Visitas da cidade os carros vêm trazer.

Chega o compadre branco e também chega o preto,

que as honras têm iguais no trato a receber,

e a carne vai servir aos dois no mesmo espeto.

Feliz o fazendeiro, exige na festança

tudo que há de melhor, fartura sem rival,

porque sempre viveu e vive na abastança,

que tributar desvelo é dom patriarcal.

 

E junho se derrama, alegrando as Fazenda

como o dinheiro do gado após a apartação,

transportando o Divino, a colher oferendas,

trazendo o boi-bumbá na festa de São João.

 


ANTOLOGIA DE SONETOS PIAUIENSES [por]  Félix Aires.  [Teresina: 1972.]   218 p.     Impresso no Senado Federal Centro Gráfico, Brasília.                                 Ex. bibl. Antonio Miranda

 

       
 CONFISSÃO

 
Eu te amo igual ao sol, que acorda o firmamento
 Na alvorada febril da aurora renascida,
 Escrevendo, com luz, todo o deslumbramento
 Da festa triunfal que gera a cor e a vida.

 Chamo-te como o poeta invoca o pensamento,
 Na ânsia de deslumbrar a rima preferida,
 A pintar o esplendor que adorna o sentimento,
 Com palavras fiéis à imagem concebida...

 Eu te amo assim, com toda esta forte paixão,
 Que faz lembrar o oceano a chorar entre escolhos
 E, às vezes, se assemelha à fúria de um tufão...

 Eu te quero e este afeto é comoção tão forte,
 Que aos lábios me traz riso e me traz pranto aos olhos,
 É taça onde, a beber, eu sorvo a vida e a morte...

 

ANUÁRIO DA POESIA BRASILEIRA 1995.  Organizador : Laís Costa Velho.  Rio de  Janeiro: CODPOE – Cooperativa de Poetas e Escritores, 1995.  116 p                 Doação do livreiro BRITO – RJ


       

        O ESTILO E O HOMEM

       
Tudo que tem vida se revela
        e estabelece ação.
        Segundo esse cânone,
        das relações mantidas entre a Língua
        A Cultura e a Literatura
        desabrochou o Estilo,
        descrevendo extensa trajetória
        nos movimentos
        de que se tem formado
        a Civilização Ocidental.
        E, seja individual
        ou da Época,
        é louvado
        à mercê do traje que ostenta
        e do impulso expressivo
        do contexto que transmite.
        Tem conceito ajustado ao ritmo do Tempo.
        Quando se reflete à luz do Verso,
        fragmentando a alma do poeta
        para esboçar com palavras
        o retrato da sensibilidade excelsa,
        é a Filosofia da Arte;
        é o sincronismo metafísico
       e entre os homens de todos os séculos
        unificados em prazer estético;
        é a manifestação psíquica;
        é a presciência da imortalidade;
        é o vínculo entre o homem e a Divindade,
        autenticando
        a partícula de Deus no intelecto humano.
        Quando se revela ao esplendor da Prosa,
        Literatura Viva,
        apenas,
        prescindiu da métrica.
        Segundo seu percurso,
        jamais o Estilo modificou o conteúdo das mensagens,
        unicamente,
        tem-lhes emprestado o invólucro:
        conservou-se fiel
        às regras de Aristóteles e Horácio;
        adaptou-se na Idade Média,
        do Clássico Pagão ao Deus-Cristianismo;
        não alterou a essência do enunciado,
        retornando às normas clássicas
        do Romantismo,
        quando o homem se achava em equilíbrio;
        transmitiu, no Barroco,
        o recado do homem em conflito;
        traduziu o rigor do preceito clássico
        na restauração do Neo-Classicismo;
        transladou no Romantismo,
        o estro do homem liberto
        para a concepção artística;
        usou de igual comportamento
        em contato com o Realismo,
        Naturalismo e Parnasianismo,
        justamente quando,
        através da reflexão e da análise,
        andava o homem
        ao encalço da dimensão científica;
        exprimiu no Simbolismo,
        o gênio introspectivos,
        avaliando sua amplidão psicológica;
        revelou, à face do real,
        no Impressionismo,
        o homem atento em fixar
        “a impressão do momento único”
        ao perpassar da vida...
        E eis que bate à porta deste século,
        onde o Modernismo
        enreda-se ao Purismo, Futurismo,
        Surrealismo, Dadaísmo, Cubismo e outros “ismos”,
        marcados com o enigma do hermetismo,
        e contempla o mesmo homem,
        que busca integração.
        Ou desintegração?

 

*

Página ampliada e republicada em julho de 2023.

 

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Página ampliada e republicada em março de 2023

 

 

 

Página publicada em junho de 2008

 

 




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