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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

DIRCEU RABELO


Antônio Dirceu Rabelo de Vasconcelos (Tuparetama, 14 de junho de 1939) é um advogado, professor, ensaísta e poeta brasileiro. Advogado, exerceu a profissão de Assistente Jurídico do Banco do Brasil e da Cooperativa de Crédito dos Plantadores de Cana de Pernambuco.

Professor, ensinou Português e Matemática em colégios de Garanhuns e noções de Direito Público e Privado nas faculdades de Economia e Administração de Mossoró. Ensaísta e poeta bissexto (como se auto-intitula), publicou trabalhos na Revista de Poesia e Crítica (em São Paulo, Brasília e no Recife) e na Revista da Academia Pernambucana de Letras.Profundo conhecedor da poesia brasileira, é, no dizer de Waldemar Lopes, … um poeta identificado com as matrizes telúricas da cultura popular e com as fontes mais nobres da arte poética, em seus valores essenciais. Com igual segurança, participa de criações espontâneas dos cantadores de sua terra natal e demonstra pleno domínio da arte poética, em dissertação teórica ou em exercício prático.

 

Membro da Academia Recifense de Letras; da Academia de Letras e Artes do Nordeste - cadeira 19, eleito em dezembro de 1987; e da Academia Pernambucana de Letras - Cadeira 21.

 

         

Livros publicados: O canto antecedente. Recife: Bagaço, 1974; Método de análise sintática. Recife, 1989;

Glosas, epigramas e outros versos de circunstância. Recife: Comunicarte, 1992; Livro de cantares (de lembrança e louvação). Recife: Comunicarte, 1995; Elegias e outros poemas reunidos. Recife: Bagaço, 1996;

Canto no fim da tarde. Recife: Comunigraf, 2000; Versos de circunstância. Recife: Comunigraf, 2003; Poemaquático. Recife: Bagaço, 2009.

 

 

 

RABELO, Dirceu. 30 poemas escolhidos. Recife: FacForm Gráfica, 2008. 74 p. 13 x 22,2 cm. ISBN 978085-98896-23- 6. Ex. bibl. Antonio Miranda 

 

SONETO PARA UMA DAMA IRREAL 

Misto de sortilégio e alegoria,
extramolecular força escondida,
atua de maneira inapreendida
e acima da consciência (nos dizia)

quem dela se fez mestre na alquimia
mágica das palavras). Pressentida,
comunica-se feito a melodia,
que encanta sem jamais ser entendida.
 

Essa dama irreal tão desejada,
que suscita paixão sem ser mulher,
esquiva companheira procurada,
 

que nem sempre se tem quando se quer,
foi amante ideal e bem amada
de Schiller, Alan Poe e Baudelaire.
 

 

RABELO, Dirceu. O canto antecedente. Recife: Edições Bagaço, 1994. 112 p. 12,5 x 21, 5 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda

 

SEXTINA DAS LIÇÕES DE POE E MALLARMÉ

 

Não procures nos versos a verdade
Deixa voar ao longe o pensamento:
o mágico segredo da poesia
está na eterna busca da beleza
esconsa, que através do sortilégio
ressurge no exercício da palavra.

 

Lavra com fina lâmina a palavra,
mas não a subordines à verdade.
Tece no seu manejo o sortilégio
com que se poetiza o pensamento,
corcel alado em rumo da beleza,
finalidade/casa da poesia.

 

O intemporal destino da poesia
depende só da escolha da palavra
que nos conduz à senda da beleza,
nem sempre companheira da verdade.
No vago caminhar do pensamento,
menos vale o real que o sortilégio,

 

pois é com se valer do sortilégio
que se descobre o encanto da poesia,
conjugando-se forma e pensamento

nos muitos artifícios da palavra.
A razão - que se busque na verdade;
procure-se a poesia n% beleza.

 

Lute o poeta, assim, pela beleza,
reinventando o sonho e o sortilégio,
liberto das algemas da verdade.
A descarga emotiva da poesia
ancora a nau no porto da palavra,
nuncia material do pensamento.

 

Domando-se a palavra, o pensamento

eleva-se ao fascínio da beleza
que h[a nas sutis nuanças da palavra,
instrumento maior do sortilégio:
nos irreais domínios da poesia
conta mais a beleza que a verdade.

 

Prescinde da verdade o pensamento
po
ético: a poesia é a beleza
que flui no sortilégio da palavra.

 

 

 

 

RABELO, Dirceu.  Livro de cantares.  Recife: Editora Comunicante, 1995..  41 p.  14x21,5 cm.  Col. A.M.  

 

BALADA PARA VINÍCIUS DE MORAIS

 

Dada a minha pequenez,

é o que te posso ofertar:

 

Teu grande irmão português,

que me ocorreu relembrar,

me disse uma certa vez

que a água do rio corre

e é sempre a mesma no mar.

 

Jamais poeta algum morre:

— muda apenas de lugar.

 

Tua face? Quem vai vê-la

e a tua voz escutar?:

 

- habitantes de uma estrela

que escolheste pra morar.

 

 

BILHETE AO POETA JACI BEZERRA

(em razão de uma dedicatória)

 

O azul do céu de Olinda e uma canção,

feita de sombra e luz, onda e sargaço,

eu cantaria, meu fosse o brasão

a que sabidamente jus não faço.

 

Discípulo sou eu. Sigo o compasso

do teu Livro de Olinda; e tenho em mão

o das Incandescências: neles pasto

iguarias da minha inspiração.

 

Pelo Comarca da Memória, irmão,

nas improvisas linhas que ora traço,

eu te ofereço, em forma de refrão,

 

além da gratidão do meu abraço,

o azul do céu de Olinda e uma canção,

feita de sombra e luz, onda e sargaço.

 

 

LOUVAÇÃO DA MULHER AMADA

 

Estando a própria vida encarregada

de me levar a crer que o amor existe,

na minha escuridão desmantelada

deu-se um raio de luz e tu surgiste.

 

Daí então, minha fiel amada,

daí então tu sempre preferiste

(franca de tudo e sem exigir nada)

padecer de tristeza a me ver triste.

 

Agora tudo o que de ti me vem

me reanima e alegra o coração

da forma e na medida que esperei.

 

E já me basta ter — aqui e além —

teu amor e a certeza do perdão

pelo que pude dar-te e não te dei.

 

RIBEIRO, Dirceu.  Cadernos de poesia. Olindas, PE: Editora Livro Rápido, 2006.   245 p.        16 x 21 cm.   

 

RIOS E BOÊMIOS DO RECIFE

 

Recife, te canta Capiba,
te banha Capibaribe.

Recife, afogando as mágoas,
bebe e se embebe nas águas
do Beberibe.

Beberibe/Capibaribe
aqui se dão as mãos
e entram no mar.

Boémios do Recife,
assim também sois vós:
- Cada porta de bar
é uma foz.

 

 

NOTURNO I

 

Lento passar da noite. No profundo
silêncio universal penso no abismo
de um dia nada mais haver no mundo,
além do que restar de um cataclismo.

E dentro do noturno imobilismo,
passo a fugir de mim. Cismo que tudo
a vir na voz do vento seja mesmo
o recado inaudível de um deus mudo.

 

E quando vai chegando a madrugada,
da janela abismal desses presságios
retorno ao meu lugar e vejo o ofício

solitário da lua, já cansada,
dando banho de luz nos edifícios e
derramando prata nas calçadas.


REVISTA DE POESIA E CRÍTCA   ANO XVII  No. 17   - Conselho Diretor: Afranio Zuccolotto, Cyro Pimentel, Geraldo Vidigal, Domingos Caravalaho da Silva e Waldemar Lopes..  Brasília – São Paulo – Olinda -  SETEMBRO – 1993.           Ex. doado pelo livreiro Brito – DF

 

 

        SONETO DE MEDITAÇÃO

      
Se a morte é consequência, não recaia
       a culpa sobre a morte. Está na vida
       a causa de findar assim. Cobaia,
       a criatura humana, compelida

       à sanção dessa norma e presa à teia
       que o destino lhe tece, jaz vencida
       ante a dama sombria que a rodeia
       do instante de nascer à despedida.

       Se ninguém foge à lei da impermanência
       nem meios tem pata evitar a corte
       da inexorável lâmina da ausência,

       a esperança final da humana sorte
       estará em haver outra existência
       que transcendentalmente vença à morte.

 

*

Página ampliada e republicada em março de 2023

 

 

 

 

Página publicada em março de 2013; AMPLIADA em novembro de 2019

 

 

 

 

 
 
 
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