SIMBOLISMO – POETAS SIMBOLISTAS
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NESTOR VÍTOR
(1868-1932)
Poeta, contista, ensaísta, romancista, crítico e conferencista. Foi amigo e estudioso da obra de Cruz e Sousa. Autor de uma vasta obra, assim também um divulgador da literatura estrangeira, em particular da francesa. Nestor Vítor dos Santos nasceu em Paranaguá, estado do Paraná, Brasil e faleceu no Rio de Janeiro/RJ, onde residia.
MORTE PÓSTUMA
Et vraiment quand la mort viendra que reste-t-il?
P. Verlaine
D'esses nós vemos: lá se vão na vida,
Olhos vagos, sonâmbulos, calados;
O passo é a inconstância repetida,
E os sons que têm são como que emprestados.
— Dia de luz. – Respiração contida
Para encontrá-los despreocupados,
Aí vem a morte, estúpida e bandida,
Rangendo em seco os dentes descarnados.
Mas embalde ela chega, embalde os chama:
Ali não acha nem de longe aqueles
Grandes assombros que aonde vai derrama!
E abre espantada os cavos olhos tortos:
Vê que se eles têm os olhos vítreos, que eles...
Do livro: "Transfigurações", Rio de Janeiro:
H. Garnier Livreiro Editor,1902
DUETO DE SOMBRAS
Ah! descuidosa Ofélia, é o irresistível que me está chamando,
Mas não te deixarei abandonada ...
A coroa de rosas desfolhando,
Não pela doida correnteza,
— Mãos esguias de cera enregelada —,
Irás, mas docemente, aos meus dois braços presa,
Teu olhar, a sorrir, no meu olhar fitando.
— Mas como é frio este caminho!
— Abriga-te em meu manto de loucura!
— Estás tão alto! Não alcanço o teu carinho...
Eu era mais feliz com a paz que há na planura ...
— Sobe! - Subirei, que te amo!
— Sobe, sofrendo embora! Leva para o alto a fé!
Lá em cima de uma árvore nova pende um ramo
(Palma? Loureiro? - áureo_e viril) que não se sabe para quem é.
Turris eburnea (1900)
OS VERSOS
Versos ... são candelabros que se tocam
Tirando estrelas do cristal ferido ...
Óleo de que perfumes se deslocam .
Estranhos, num vapor vago e fluido...
Bergantins marchetados de ouro e prata
A balouçar num mar sonoro e ardente,
Que todo em nenúfares se desata
E em ilhas verdes, infinitamente ...
Versos ... largas cadeias de diamante,
Lançadas de um extremo a outro da Terra
Para pô-la risonha e soluçante,
— Áureas grilhetas de amorosa guerra ...
Flores do Desespero, doloridas,
Lírios feitos de sangue, transmudados,
Sob o ardor das insônias homicidas
Qual um punch a luz verde germinados ...
Versos! que alma sonora e tumultuosa
— Céu em que os astros chocam-se cantando —
Que alma grande, alma nobre, alma ansiosa
Não vos anda risonha procurando.
Dos Eleitos vós sois os mensageiros!
Canta, por eles, florescente rima,
Por eles mergulhais, filtros traiçoeiros,
As almas numa embriaguez opima.
Adernando-vos leves e graciosos
É que o Poeta arrebata e nos transporta
Para aqueles países fabulosos
Do Sonho, abrindo ao Infinito a porta.
Não pode alguém se libertar dos laços
Sob os quais o tenhais escravizado
Enquanto lhe ritmar, sonora, os passos
A grilheta de um verso terso e ousado.
Ah! toda esta ânsia que nos arde ao seio,
Todo este fogo que nos queima a boca,
Se revela das formas neste anseio,
Nesta sofreguidão absurda e louca.
Porém, se nós pudéssemos apenas
Abrir os olhos, dominar o Mundo,
E em atitudes nobres e serenas
Mostrar-lhe todo o nosso estranho fundo ...
Se em palavras se dissesse tudo,
Num ardor, num cantar vivo e direto,
Fora melhor que se ficasse mundo:
Era mais simples e era mais completo ... _
Transfigurações (1902)
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