MARCOS LOSNAK
Formado em Jornalismo pela Universidade Estadual de Londrina, possui trabalhos publicados em vários jornais e revistas do país. Foi editor da revista de arte KAN entre 1988 e 1991. Publica semanalmente, desde 1991, resenhas de livros no jornal Folha de Londrina/Folha do Paraná.
Vea también: TEXTOS EN ESPAÑOL
Unhas Sujas de Terra
No fundo do olho do pássaro
um resto de nuvem
acena um melancólico adeus
Enquanto brincamos na floresta
o lobo afia seus dentes
nos seios de nossa mãe
Escolhemos ser alguma coisa
e não conseguimos suportar
aquilo que escolhemos
Escolhemos ser algo mais
e nem ao menos sabemos
o que é algo que é mais
O céu se despede das penas
entoa um vento quase cinza
e agora somos nós os coveiros
Amargo Trabalho
Daqui a pouco
a noite amanhecerá
com suas oito luas escuras
pingando lentamente nas narinas
o ar com conta-gotas
Daqui a pouco
o tempo enterrará seus pregos em nossa cabeça
martelando num ritmo cardíaco
com obsessão de insano
Veja você mesmo
sorrisos apodrecendo na fruteira
o inferno como sala de espera
o lúdico dissolvido em ácido
o mistério enterrado sem autópsia
a mágica virada ao avesso
ironizando as calorias de um bom emprego
Vazio
As margens distantes de um rio sem margens
A aurora pronunciando palavras com a boca cheia de chuva
Nenhuma formiga esmagada pelo latido do cão
Nenhuma abelha derrubada pelo som do trovão
O vazio é aqui
Espaço desocupado pelo frescor da alma
O silêncio dos dedos bebendo a água dos olhos
O ruído do nada despindo as vísceras
Vazio
O agora é um deserto
Contando os Dedos
Todos os acordos entre minhas mãos fracassaram.
Os dedos romperam os limites,
foram onde não deviam,
tocaram aquilo que não podiam.
As falanges esfolaram suas dobras,
afogaram suas fendas,
deixaram para os ossos o trabalho sujo.
A guerra brotou como sorriso,
desbotou como riso,
deixou pássaros sem pena,
cavalos sem couro.
Tudo sob uma chuva de sal e vinagre.
Os braços decepados
foram atirados em riachos aquarelados.
Precisaram aprender a nadar antes de engatinhar
sugando os seios dos ciscos das chuvas.
Os acordos foram rompidos como fita de inauguração.
Nenhum órgão disse nada,
nenhuma célula abriu a boca.
Os olhos se fecharam da manhã ao entardecer.
Tudo foi perdido.
Lágrimas e lamentos se tornaram um álbum de retrato.
Lâmpadas e sol,
coisas do passado.
Poemas extraídos da ANTOLOGIA DE POETAS LONDRINENSES - 12 – Org. e produção de Christine Vianna. Londrina, Paraná: 2000 - ISBN 124.943-194-105
UM ESTRANHO JEITO DE LER OS VIDROS
As formas de teu rosto arrastando-se pela memória
roubando suavemente meu sorriso
como pássaros colhendo palha para o ninho
fio por fio até o fim
Nada mais que um lago esperando pela pedra
atirada pelas mãos de um menino de idade avançada
com as águas elevando as mãos aos céus
pensando nas formas das limas esquecidas sobre a mesa
A vida um estranho jeito de inspirar o céu e expirar o ego
como se cuspisse um caroço de tâmara
pequenos gestos cozinhando alegria no crepúsculo
quando o futuro arranha a vidraça
Lembranças esfregando dúvidas no rosto do dia
onde a consciência anoitece antes do sol
escamas protegendo a alma da lama
enquanto meus olhos rastelam um campo minado
Todos os órgãos pendurados em meus cabelos
todos os santos dormindo em minha cama
enquanto o frio dedilha a pele
sem dizer nenhuma prece
MEDUSA.revista de poesia e arte. Curitiba - PR Editor Ricardo Corona
N. 3 - fev.-mar. 1999 Ex. bibl. de Antonio Miranda
A noite como quadro negro
Os argumentos da solidão escrevem com giz
todas as alternativas matemáticas na parede do quarto.
Nenhuma colocação é refutada.
Todas são escritas com linguagem clara,
exata e dolorida.
Nada ocupa seu lugar por mais de alguns minutos.
Nos caudalosos rio dos pensamentos
os sentidos são um jogo de dados sob um véu,
encobrindo as pedras
ou sendo dilacerado por elas.
Entre o nascer e o morrer do sol,
um exército de sentidos decepa,
com afiadas línguas,
os raciocínios mais sólidos.
Entre o nascer e o morrer da lua,
os sentimentos mais fortes são esmagados
pelas pesadas pegadas dos pensamentos.
Nenhuma novidade se resolvessem trocar de período,
a noite pelo dia,
o dia pela noite.
Mesmo assim as folhas do limoeiro esmagadas
pronunciam verbos olfativos
relembrando o último solo de violoncelo que sangrou nos ouvidos.
O pesado vazio azul inventando seu próprio alfabeto
para escrever uma nova ética nos desequilíbrios da mente.
Nenhuma frase articulada sobrevive em ventos.
O agora é arrastado para uma vale onde o antes é nada,
onde o depois é menos ainda.
O resto,
o instante,
um ourives lapidando com arte
a mais delicada das obras,
aquilo que o pano molhado não consegue apagar da parede,
o êxtase do pequeno pulsar,
um breve,
um breve sentir.
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MARCOS LOSNAK
nació en Bauru, estado de São Paulo, en 1964. También es artista gráfico. En los años ’80 editó la revista K’na. Actualmente escribe guiones de historietas y reseñas para el diário Folha de Londrina. No há publicado libro hasta el momento. [Traducciones de R.J., revisadas por Ademir Assunção.]
Extraído de la revista
tsé=tsé
7/8 otoño 200
Buenos Aires, Argentina
p´gina em construção
UNA EXTRAÑA MANERA DE LEER LOS VIDRIOS
Las formas de tu rostro arrastrándose por la memória
robando suavemente mim sonrisa
como pájaros, llevando paja para el nido,
hilo por hilo hasta el fin
Nada más que un lago esperando la piedra
arrojada por las manos de un niño de edade avanzada
con las águas elevando las manos a los cielos
pensando en las formas de las limas olvidadas sobre la mesda
La vida una extraña manera de inspirar ele cielo y expirar el ego
como si escupi un carozo de dátil
pequeños gestos cocinando alegria en el crepúsculo
cuando el futuro araña la lámina
Recuerdos restregando dudas en el rostro del día
donde la conciencia anochece antes del sol
escamas protegiendo el alma de la lama
en cuanto mis ojos rastrean un campo minado
Todos los huérfanos colgados en mis cabellos
todos los santos durmiendo en mi cama
en cuanto el frio digita la piel
sin decir ninguna súplica
Vacío
:
Las margenes distantes de un rio sin margens
La aurora pronunciando palabras con la boca llena de lluvia
Ninguna hormiga aplastada por el latido del can
Ninguna abeja derrumbada por el son del trovar
El vacío es aqui
:
Espacio desocupado por el frescor del alma
El silencio de los dedos bebiendo el agua de los ojos
El ruído de nada tirando las vísceras
Vacío
:
El achora es un desierto.
Página publicada em novembro de 2009 , ampliada e republicada em março 2010
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