JANDIRA ZANCHI
Poeta, ficcionista e educadora. Curitibana, licenciou-se em Matemática em 1979 pela Universidade Federal do Paraná. Tem cursos de pós-graduação em astronomia e educação e é profissional de magistério, com experiência em ensino superior, médio e preparatório. Entre as muitas faculdades e colégios em que trabalhou, inclui-se a Universidade Agostinho Neto, em Luanda – Angola, no período de 1985 a 1987, como professora cooperante. É autora de alguns livros de poesia e literatura ainda inéditos.
Outros textos da autora em: http://jandirazanchigueixa.blogspot.com/
http://jandirazanchivapornoite.blogspot.com/
http://jandirazanchibensaio.blogspot.com/
AMENDOEIRA
O poeta é
tão instante
e fronteira
quanto as
estrelas
pisadas
do óleo
de uma
amendoeira.
LUVAS DE AÇO
Desfaço com
luvas de aço
a complexidade
do conhecimento
consciente
Arranho com
punhos da água
a valsa
do recôndito
rebanho
inconsciente
Vago por marés
de plumas e
cortejo jasmins
jesuítas sisudos no
toque de recolher.
LÍNGUA CIFRADA
Língua cifrada
de Arcanjos
NEGROS
Lençóis de agulhas ao vento
lilases as metáforas da sina
em frente e por sobre
a fralda do Tempo
(Anjo Arcanjo
de mim)
na casa do pai
em nome do Santo
Amém
teu verbo é ósculo
de pranto e pompa
arena de sereno
quase estupidez
que flor de vida
nas cores do jardim
GUME DE GUEIXA
Sou uma única mulher
quando a trombeta anuncia
um inverno sem tropeços.
Os legionários da palavra
espiam sua falta de dados
como me fiz por nenhum motivo
conheço o luxo de ser nua e insofismável
inquestionável é a questão e o próximo dia.
Também invoco nas santas armações
da luta contínua por porto algum
as desculpas estilhaçadas em farpas
dos ausentes cansados em dentes de ogro.
Mas me canso descanso de meu fel.
Ardia na boca do estômago a fúria da pretensão
– esqueci-a retaliada no sofá branco e bagunçado –
deve haver algo melhor do que essa faca
gume de gueixa
a ponta de prata que rebola a qualquer ultraje
para dentro através da margem.
e porém... como dizia tenho azia
dor de baço e um cansaço...
aí retomei a pena e o pó dos livros
a lide das pernas e a busca do pão
pensei no amor como um condimento vespertino
dos enfeites adiei o aprumo e por três ou quatro
minutos dos restantes sorri e adormeci
ali ao pé do carvalho planto, morena,
serena e de orvalho em pé e sombra
afogada e deslumbrada
– o nome daquele é o mesmo deste?
Estes os problemas e sua função.
CLAUDICANTE
Alvéolos de partículas semicerradas
alheias e frias, pingando sua calda
quente e quimérica
Ruiva e Romã
enlevos de ouro e prata
azul lançado para água
e estirado no mar
ainda me fazem sonhar......
Claudicante, a neblina da noite, faiscante
de pudor e amassada de desejo, não extraí
em seus ruídos nenhum símbolo sedimentado
nenhuma curva consciência de onipresenças
antes, enrola-se a meus pés, arfante,
vinil de neve agridoce e quase rude em
seu percurso de longa latitude de extorsão
enviesada e serena nos compartimentos
ora fluídos, outros, efervescentes de gases
e experimentos dessas terras extensas.
De
Jandira Zanchi
BALÃO DE ENSAIO
Curitiba: Protexto, 2007
ISBN 978-85-89026-8
8. CIRCUNFLEXOS
valente corrente
ao céu levantada
crua como a lua
divina e insólita
como gorjeio
de uma ave
a luz advinda da cidade
fervilha suas cruzes
amarelas e azuis
de circunflexos anexos
aquarela
passarinho e passante
membrana esquálida
da virtude vazia.
15. CHUVAS MORNAS
Perfilados altares
antevistos à sombra
imolada alma ainda
resguarda na travessia
areia e gelo de águas
marinhas azul perene
borbulham baforadas
deslize na
planície ampla
quase já não me guardo e
antes que se finde a tarde
fundarei a sombra, pois a
vida abaixa a chama
na terra rarefeita,
mas, seus desenhos dourados
sobressaem-se valentes
e vagabundos
almíscar de sonhos e patamares
de desejos cumpridos divagados
chuvas mornas esquecidas
na pálida lua da terra sem lacre.
17. OUTONO
estamos erguidos
em moreno quintal
jardim sem vícios
ou virtudes
por cem anos aspiraremos
um ar de maribondos
e metamorfoses
ondulando-nos
entre as crases
parágrafos
como germens
de cevadas
ou frutos de
outono.
29. VÍRGULAS
Coisificada vida
ao redor dos
Objetos
inevitáveis
vínculos
sólida realidade>
Criatura originada
na fumaça
névoa cristalina
das nuvens vertidas
em véus
e ases
ao redor da Lâmina
disco girado
tempo assumido
em teus dias
diafragmas
domados com vigor
evacuado
por entre rugidos
espremidos...
assim nos fizemos
entre dois goles
— suspiros da natureza —
que por aqui
deu-se à reverência
de encrespar-se
e interrogar, em suas vírgulas,
nossas vozes.
Página republicada em janeiro de 2010
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