BRASIL PINHEIRO MACHADO
Brasil Pinheiro Machado (Ponta Grossa, 12-12-1907; Curitiba18-10-1007) foi um poeta bissexto. Colaborador da Revista de Antropofagia (1928/1929), veículo fundamental para divulgação da linguagem modernista — companheiro de Mário e Oswald de Andrade com quem fazia comícios, conforme me contou, nas carrocerias dos caminhões para fugir com mais facilidade da polícia. Um “menino que não atinha muito a dizer”, segundo Augusto Frederico Schmidt ao apresentar Quatro Poemas. (...)” homem que carregou, com competência, seu país no nome. Jurista prestigiado, professor de história cujos textos foram definitivos, político tão bissexto quanto poeta.” Foi Interventor do Paraná, cargo que ocupou de 26 de fevereiro a 21 de setembro de 1946, quando renunciou.” CASSIANA LÍCIA DE LACERDA
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MACHADO, Brasil Pinheiro. Poemas: seleção de poemas. Ilustrações de Tarsila do Amaral e Pagu. Curitiba: Feira do Poeta – Fundação Cultural de Curitiba, 1997. 82 p. ( Coleção Buquinista. Poesia V ) 12,5x16,5 cm. Coordenação editorial Cassiana LíCia de Lacerda. Impresso em tipografia, na prensa Magdala, por Nivaldo Lopes através da Ócios de Ofício, revisado por Adão de Araújo. Tiragem: 200 exs. numerados. Obs.: as ilustrações e imagem da capa foram extraída da Revista de Antropofagia. Col. A.M.
BRASIL
A tarde é uma rede vermelha e mole
E os nervos da gente esticados como cordas de violão
Vibram no fluido de volúpia que a garoa devagarzinho
Das bandas meio escuras de onde o sol nasce...
uma mariposa começa a enlouquecer.
(de quem será que eu tenho tanta sodade.)
Chorar... Ser homem! Não, homem não chora, não!
... a jaboticabeira se estorce
Ainda não arranjou posição pra dormir...
(a vida...)
Aquele mato deve estar cheinho de lobisôme...
De repente o primeiro apito da coruja!
Imobilidade.
(a gente suspira e pensa no destino...)
Silêncio.
Mistério;
Os fantasmas vestidos de luar dançam...
Nossa Senhora, que medo!
PAISAGEM DE MINHA TERRA
Manhã de domingo de sol reto.
A grande igreja sem estilo
Decorada por dentro por um batismo de Cristo
Feito por um pintor ingénuo
Que quis ser clássico e foi primitivista.
Missa internacional
Com gentes de todas as raças
Ouvindo o padre alemão rezar em latim.
A gente nem tem vontade de olhar o crucifixo desolado
Nem de rezar
Porque tem lá dentro tanta menina bonita
Que não reza também
E fica sapeando a gente com meiguice...
Só os polacos de camisa nova por ser domingo
Que vieram com as famílias de carroça lá das colónias
Rezam fervorosamente
Enquanto nos seus quintais
Os chupins malvados e alegres
Comem todo o centeio
Cantando glórias pró sol de domingo.
Página publicada em dezembro de 2013
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