Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

ALEXANDRE GAIOTO

 

(Maringá, Paraná, 1989)  Jornalista e bacharel em Letras. Mestre em Estudos Literários (UEM).

 

101 POETAS PARANAENSES (V. 2  (1959-1993)  antologia de escritas poéticas do século XIX ao XXI.  Seleção de Ademir Demarchi.  Curitiba, PR: Biblioteca Pública do Paraná, 2014.  398 p. 15X 23 cm.  (Biblioteca Paraná)

 

MANÍACO DA MOTO

 

Eu tinha brigado com o Baiano.
Ele já tava bêbado.

De olho na gordinha da mesa ao lado.
Vai saber o que fez com ela depois do Meu Pato.
No meio da briga me chamou de puta.
Gorda baranga do carai.
Com o taco de sinuca ameaçou uma surra.
Ali mesmo no meio do bar.
O Celso e o Bode tavam junto.
Eles pensam que sou trôxa.
Bem sabia o motivo da alegria.
Comemorando mais um assalto.
Pagando cerveja pra todo mundo.
Era só pedir.
Daí na esquina mesmo liguei pro mototáxi.
Esperei dez minutos.
O cara parou na minha frente.
Esticou o capacete.
Corrida pra onde mesmo?
Moro perto dali.
Na rua perto do Bar do Vermelho.
Mas não arrisco voltar andando não.
Terra de maníaco é Maringá.
Rua Vasco da Gama.
A cor?

Preto feito a morte.
Que era bonito era.
Não tava nervoso.

Subimos pra Avenida Cerro Azul.
Ele virou o redondo certinho.
Seguiu.

No meio da Cerro Azul o pedido.

Se eu incomodava de passar num amigo.

Coisa rápida 5 minutos.

Só pegar um boné emprestado.

Não quis não.

Ele disse que não ia cobrar.

Entrou numa vilinha.

Uma coisa esquisita.

Ruas estranhas.

Logo me perdi.

Vi que tinha algo errado.

Parou a moto numa rua deserta deserta.

Na pressa de descer queimei a perna no     escapamento.

Neguinha minha!

Todo fogoso veio pra cima de mim.

Musculoso.

Macho pra danar.

Se não gritei?

Não parava de tremer.

E a voz nessas horas desaparece.

Em momento algum tirou o capacete.

Deu uns tapinhas na minha bunda.

Eu desesperada.

Ele me fodeu feito um animal.

Descontrolado.

Viseira aberta.

Acabado.

Um último tapa na bunda.
Com o capacete bati nele. E corri.

— minha salvação.

Não posso ouvir barulho de moto.

Entro em desespero.

Lembro dos detalhes.

Do Baiano me ameaçando com taco.

Da vilinha.

Dele deitado sobre eu.

A voz desaparece.

Fico muda sem palavras.

Forte dispara o coração.

 

 

 

QUANDO NENHUMA MÚSICA

 

quando nenhuma música

te conforta mais do que ouvir

os carros amor os carros

passando em volta da gente

e a vontade é de vomitar

antes de chegar à esquina

onde foi parar o controle do portão?

é preciso agachar juntar

os pedaços distantes do que um dia foi o.

para então deixar a casa

(que está à venda)

correr antes do fracasso

escondê-lo na manga da camisa

sem fazer barulho

eu deito no meio da calçada para gritar

um pouco mais alto

balbuciar o seu nome

não só nas noites de porre

tomando socos alguns pontapés

tive o braço quebrado

e a boca cheia de catarro dos outros

para sentir que aqui dentro ainda havia vida

 

 

 

TRAFICANTE EU?

 

A perna perdi na linha do trem
A direita

Se dói não sei não

Desmaiei e acordei assim ó

O eterno manquinho do Borba Gato

Respeitador de todos e muito trabalhador

Meu último emprego era na farmácia do bairro

Levando na casa o remédio dos coitados

E não ficava só na rotina

Eu sempre muito humano sabe?

Conversava com os velhinhos

Aceitava o chá das senhoras solitárias

Ria junto com elas

Fazia piada da minha perna

Deixava o dia um pouco feliz

De bicicleta sim das oito às oito

Cruzando a Vila Operária

Rasgando a Cerro Azul de cima pra baixo

Com cuidado maior na Avenida Brasil

— que não sou besta de ser atropelado, viu?

Dois meses manco já pegava a prática

Nem sentia mais a falta da ausente pedalando

Acho que até ia mais rápido

Não sei de onde tiraram essa ideia

Traficante eu?

Só de amor seu moço

Nunca nem usei essas coisas aí quando jovem

Nem sei a cor o peso ou como se usa

Na hora ali fiquei é com medo

Cinco carros me encurralando e cantando pneu

Os brutamontes gritando com a cabeça pra fora da janela

O que cê faria?

Me joguei na magrela

Pisei fundo

Na confusão até perdi o chinelo

Cansado de tanto trabalho tive mau desempenho

Na subida da ladeira me alcançaram os trogloditas

Rindo da minha cara

E da falta que a perna me faz

Quem me conhecia chegou junto

Dizendo ele é do bem trabalha na farmácia

De nada adiantou

Deram uns tapas no meu rosto

Ofenderam minha mãe morta ano passado

Chamaram de puta maloqueira daí pra baixo

Zombando disseram que vou traficar agora no xadrez

Sei como é na prisão

Perneta e estuprador os prediletos dos marginais

Tapam a boca

Não tem como gritar

Amarram os braços

Passam gel às vezes perfume

Lambem todas as suas partes

As mil loucuras na sua frente atrás no seu ouvido

Um por um em fila organizada

Todos famintos carentes de amor

 

 

 

ME PROFANA, DIABO!

 

Na voz vi um sujeito aflito

Tropeçando em palavra e silêncio

Cheio de três pontinhos sabe?

Cinco anos de rua conheço bem o tipo

Combina no Meu Pato e dá balão

Esperando feito trôxa eu sozinha na mesa

Matando o bicho aqui dentro com goles de Presidente

O lugar?

Uma sobreloja na Vila Operária

Pra surpresa não cancela não

Até bonito o apê em cima duma loja de sapato

Toquei o interfone no primeiro andar

Da linha abriu o portão sem dizer oi pode subir vem tesão

Sem elevador parti pra escada

Bem metida num vestido azul curtinho e salto alto

No 101 o olho me espera atrás da porta meio aberta

Salivando me espia de baixo pra cima e empurra a porta

E quatro talvez cinco mãos menor que eu

Tão miúdo capaz de subir nas coxas daqui?

Num risinho digo bem gostoso hem

Se todos fossem assim que nem cê

Ele fica suado acho que sente a mentira

Não insisto

Tinha um sofá laranja no centro da salinha nada demais

Na mesa o retrato derrubado à pressa

— quem abraçado a ele jurando amor eterno?

Peguei pela mão e levei pro sofá

Numa lambidinha na orelha ele todo contorcido

Sete anos sem bimbar?

Louco com as gemidas da leoa em mim ao pé do ouvido

Escancara o tuzinho da tua cotovia faminta

Benze de leite meu rosto minha boca não perdoa nem a

covinha

Soca tudo inteiro de uma vez sou tua me profana, diabo!

Ele ficou louco ainda mais suado

Lambendo atordoado meu decote até aqui

Daí veio a campainha com alguém batendo na porta

Tão branco tremendo assustado

A voz pela primeira vez respondendo fraquinha calma tô me trocando

Corri pra trás do sofá abaixei muda

Pra minha surpresa ele veio do lado

Levantei achando que tinha outro esconderijo

Nisso a mulher com razão mandando abrir e batendo

Fraco ainda não sei como fez aquilo não

Me erguendo com tudo de uma só vez no colo

Tão rápido não gritei só fechei o olho

Arremessada um andar sem dó pelo escroto

Aqui ó a queda dói como uma faca no tuzinho

Na hora dor alguma

Só a sede de enforcar aquela garganta buscar meu dinheiro bolsa dignidade

Ninguém ali se importou comigo Nem perguntaram de onde como se eu mesma caí Enquanto um velho abria o portão aproveitei e corri Sangue no zóio!

Empurrei a porta num grito alto não lembro o que disse

Quem descia a mão nele era a coitada

Que me jogou vinte pila a bolsa e um olhar de mulher

 

 

 

Página publicada em maio de 2016

 


 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar