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AMAZAN

 

 

De:

AMAZAN.  Palavra de Nordestino.  Capa: Lopes.  Brasília: 1967. 92 p.   Capa: Lopes. Impresso no Cenro Gráfico do Senado Federal por indicação do Senador Humberto Lucena. Apresentação de Zé Laurentino e do Vereador João Danas.  Formato 22,5x15 cm.

 

 

 

Homem de sorte

 

Sou um sujeito de sorte,

não sei por que sou assim,

não existe homem de sorte

pra ter sorte igual a mim.

 

No ano que eu nasci

no Nordeste não choveu,

o meu pai olhou prâ eu

disse: — Esse tá lascado.

Num tinha leite de gado,

nem de cabra, nem de lata.

De tanto comer batata

fiquei cum bucho quebrado.

 

Eu tava desempregado

fiquei logo aperriado,

peguei plantei um roçado

na terra dum tio meu

Nesse ano num choveu,

lavoura não prosperou

e algum pé que escapou

o gafanhoto comeu.

 

Uma vez lá num forró

fui apartar uma briga

o diabo duma intriga

que eu não sei da onde vei

Quando eu saltei no mei

foi peia pra todo lado,

inda hoje ando empenado

das pancadas que levei.

 

Inventei de cortar cana

no Estado de Goiás,

tava achando bom demais,

mas entrei numa sueca,

deu-me uma febre da breca,

fiquei verde que nem lodo

caiu meu cabelo todo,

inda hoje eu sou careca.

 

Inventei de comprar roupa

pra vender a prestação

comprei mais de seis milhão

calça, camisa e cortina

vendi tudinho em Campina,

mas, porém, tudo fiado,

num recebi um cruzado,

fiquei de cara pra cima.

 

Deixei de fumar somente

pra mode economizar

uns tostões pude ajuntar,

comprei um touro de raça,

mas, porém, uma desgraça

aconteceu no cercado

meu touro morreu queimado,

perdi tudo na fumaça.

 

Comprei um carro fiado

a um tal de Cabecinha,

mas um certo dia eu vinha

carregado de batata,

fui livrar uma barata,

o carro velho virou,

na virada se acabou

num prestou nem pra sucata.

 

É por isso que eu digo:

Quem quiser que ache ruim.

Sou um sujeito de sorte,

não sei por que sou assim,

não existe homem de sorte

pra ter sorte igual a mim.

 

 

Página publicada em agosto de 2011


 

 

 

 
 
 
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