ÁGUIA MENDES
É natural de João Pessoa, Paraíba. Graduado em Letras pela Universidade Federal de Paraíba, onde atualmente trabalha. Colaborador de varais revistas e suplementos literários, publicou diversos livros: Jardim da Infância, Contos Policiais, A Bíblia Profana, Blue para um Cadáver Sonhador e O Livros do Adivinhão.
“Bipartida entre os macrotemas da angústia existencial e da eroticidade, a poesia de Águia Mendes normalmente faz apelo de uma ótica às vezes lúdica, às vezes amarga, transubstanciá-los em elementos dramáticos da liricidade. Seus versos são breves e de dicção simples, embora em alguns casos atinja um grau de complexidade retórica.” João Batista Brito, crítico paraibano
A casa
A gustavo fernandes de lima sobrinho
Há quatrocentos anos
eu sonho
uma casa no mundo
varanda dos lados
wc com luar
ruas refulgentes
poltronas & sofás.
há quatrocentos anos
eu sonho
uma casa marítima
alcova com beira-mar
padarias & jardins
vulva crepuscular
casa que é bar
vulgata vulgívaga
retreta lunar.
mercearia
com pomares em órbita
e sonoros pardais
ou um negro coagido
por uma confederação
de poetas marginais
há quatrocentos anos
eu sonho
uma casa em desvario
sala de estar com sol poente
zoológicos & rios.
terraços com auroras boreais
um porsche movido
a sonho
cocas & guaranás.
casa que é mundo
rolando em mar profundo
casa que é casa
com uma manhã cada manhã
nascendo no ar na selva
casa trágica onde habitam
feras intramuros.
há quatrocentos anos
eu sonho
Um home sweet home
londres paris
montanhas carnavais
boulevards colibris.
há quatrocentos anos
eu sonho
uma casa erigida
sobre a areia do sonho.
Morrer
morrer
é apagarem-se
todas as luzes da casa,
quando tudo gela
na noite
maravilhosa e bela
e o céu se infesta
de estrelas
e faz um
silêncio de rachar.
morrer
é não mais
ir à feira.
é ficar em casa
descansando
em trajes
de madeira.
Poema da vagina
a vagina
é um bolso
um calabouço
um poço no jardim.
a caixa de Pandora
a lâmpada de Aladim
que homens adoram
e mulheres que não
e que sim.
a vagina é uma chama
uma chaminé
o chapéu do pênis
o tênis do seu pé.
a boca de um jacaré
sem dentes
um galpão
uma gruta
um grotão
um cano de passar
gente.
a vagina
é uma mala
uma maleta
um vale
uma valise
uma valeta.
um cone
um canal
um monte
uma fonte
um horizonte
vertical.
a vagina
é uma boca
com gula
um forno
uma fornalha
uma fagulha.
Um viaduto
um aqueduto
um bornal
a caixinha de rapé
para o nariz do pau.
Extraído de ANTOLOGIA SONORA – Poesia Paraibana Contemporânea. João Pessoa: Edições O Sebo Cultural, 2009. Produção executiva de Heriberto Coelho de Almeida. Contendo 9 CD com gravações de poemas nas vozes dos autores, e 31 encartes em caixa de madeira. ISBN 978-278-995423
Página publicada em novembro de 2009, a partir do material cedido pelo Editor.
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