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CAUBY CRUZ

(1928-1975)

 

Nasceu em Belém em 1928, contemporâneo

de Mario Faustino e Benedito Nunes. É autor de Os Elementos

do Verbo (1955).   

 

 

OS ELEMENTOS DO VERBO

 

Quando digo água quero que entendas fogo

a palavra se estende e de ora

um novo entendimento uma nova

forma insuspeitada mas viva além

de viva constantemente transformada.

 

Dependo não dela porém da aceitação

em ti: o céu é inferno e mais que inferno

é este termo com que luto

o meu pretérito alcança o meu avô

já morto mas  firme em mim, galopando.

E através dele vou, através de seus pastos

e porque digo pasto entenderás que é noite

e o ar me amansa diante de teus passos.

 

O que fala importa se alcançar tua carne

pois flutuar não serve. E é mister que invadas

e descubras porque foi que hesitei

e hesites comigo, sofras a mesma fome

a mesma água engulas, igual peixe

adores e meus cabelos te cubram.

 

Então, a primavera que invento poderá ser tua

e teu este mistério este cão

que à noite ladra coisas inteligíveis

e o galo, cujo canto acordará teu homem.

 

 

DONATÁRIO

Donatário de terra imersa
procuro meus campos
meu boi que esqueci anos
mergulhado no mesmo gesto invicto
de mastigar, meu cão também
como também meus sapatos.
A terra desapareceu. Aqui ela ficava.

Rio de pedras várias cortava o terreno
mas eu não via as pedras. Amava a posse
de tudo, donatário que fui deste terreno.
Hoje, chão de peixes.


STOP

Não escondo minha face direita
pressinto porém o golpe
o sangue que correrá.

 

Desta janela escuto
sua presença. O vento
a mesa o quadro
invocam o pensamento
e o feixe de memórias
que entregarei de volta.

Minuto breve seja
um ai sem dor
mais de espanto que de penas
para que ninguém perceba
prematura. Mais fundo
neste verso antecipado.
Sentado em meu caminho
para a arrancada final
lanço meu braço inútil
tento mudar a ordem
retroceder o acontecimento
aproximando com anunciações:

 

Coroado entro no reino dos Céus
para amparar meu corpo decaído.

 

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Página publicada em agosto de 2008. 


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