YONE RODRIGUES
Nasceu em Governador Valadares (MG), em 29 de janeiro de 1936. Dipl. em Música, estudou Inglês e Francês na Europa. Veio para Brasília em 1960.
Professora, assessora cultural na Secretaria de Educação e Cultura/GB, musicista, diretora, produtora, criadora do “Jogral da Guanabara” Colab. em periódicos. Pert. à Associação Nacional de Escritores. Detentora dos prêmios Fundação Cultural do Distrito Federal (1960), Bienal Nestlé de Literatura (1984) e Mário Quintana de Poesia (1990). Partic. da Antologia dos poetas laureados no Concurso de Poesia de Leitura, 1958, org. de Carlos Ribeiro; A novíssima poesia brasileira, 1962, org. de Walmir Ayala; Antologia dos poetas de Brasília, 1971; Brasília na poesia brasileira, 1982; Poemas para Brasília, 2004, as três últimas org. de Joanyr de Oliveira.
Faleceu em 2 de dezembro de 2004.
Bibliografia: Cantiga de enamorada, 1953; Pastora da noite, 1957; Eu quero ser, 1983; Bichos, bichinhos, 1983; Flores, florzinhas, 1983; Pedras, pedrinhas, 1983; O terrível espantalho, 1984; Ver de verdade, 1984; A razão do pássaro, 1984; Brincando no céu, 1985; Sentimentos, 1986; Sol e chuva, 1988; Cachorrinho musical, 1988; Brincando na areia, 1988; A menina curiosa, 1990; Os iluminados, 1990; Duetos de amor, 1999.
Fonte da biografia e foto: https://anenet.com.br/
Veja também: POESIA INFANTIL de Yone Rodrigues
OLIVEIRA, Joanyr de, org. Poetas dos anos 30. Brasília, DF: Thesaurus Editora, 2016. 380 p. ISBN 978-85-40904095 Ex. bibl. Antonio Miranda
A P E L O
Os passarinhos estão me chamando
Menina, vem ver a cidade.
A cidade tem fio.
A cidade tem parque.
A cidade tem torre.
O rio está me chamando.
Menina, vem ver a floresta.
A floresta que chora de orvalho,
pingando, tristonha, na face de mel.
A floresta que mostra ao sereno
o galho comprido, tingido de sol.
O sino está me chamando.
Menina, vem ver o noivado.
Tereza enrolada em copo de leite,
seguindo, calada, a metade o amor.
Maninha, me tire da cama.
Me vista de azul.
Me ponha um colar.
Eu vou caminhar.
Pisar de mansinho na terra suada,
morena e cheirosa igual a você.
Lá fora tem noite esperando.
Punhado de estrelas maduras...
Já vou, passarinho.
Eu vou pra ficar.
C A N Ç Ã O
Decerto perdi os olhos
que tinha quando criança.
Aquela concha de outrora
minha mão já não alcança.
Quem mostrará no espelho
minhas sardas, minhas tranças?
Deixei cair minha infância
no chão de desesperança.
De tão rubro e repetido
meu coração já me cansa.
A menina foi-se embora,
foi-se embora, clara e mansa.
Não ouço passos de dança
naquele canto apagado,
nem meu noturno piano
canta a dor de tal mudança.
Restou um cacho de estrelas
e da lua uma aliança.
Decerto perdi os olhos
que tinha quando criança.
P A S T O R A L
Pastora, dá-me de beber.
São líquidos teus olhos transparentes
que lágrima nenhuma desprenderam.
Pastora, dá-me de cantar.
A tua flauta, ontem vago bambu,
hoje é pássaro exato.
Pastora, dá-me de cismar.
Quem se assenta entre flocos de ovelhas
e com seu rebanho medita cada dia
bem pode falar de eternidade.
Pastora, dá-me de viver.
B L U E
Canta, negro, canta
pela noite afora.
Quem canta se esquece
da luta lá fora.
Quem canta não lembra
do mundo onde mora.
Ontem na senzala
só chicote e espora.
Lá dentro a mãe-preta
“judando a senhora”.
Leitando o menino
bem antes da aurora.
Canta, negro, canta
madrugada afora.
Escravo não pensa.
Escravo não chora.
No campo e na mata
carregando toras.
No cais e na mina,
o peito de fora.
Hoje na favela
só miséria, penhora.
Sua na enxada
e o que mais, agora?
Cala e obedece,
sonhando a desforra.
Ai, esta vingança
que tanto demora!
Canta, negro, canta
pela vida afora.
Página publicada em janeiro de 2020
|