Fonte: http://aquareladasletras.blogspot.com.br/
CYRO DOS ANJOS
Quarto ocupante da Cadeira 24, eleito em 1º de abril de 1969, na sucessão de de Manoel Bandeira e recebido pelo Acadêmico Aurélio Buarque de Holanda em 21 de outubro de 1969.
Cyro dos Anjos (C. Versiani dos A.), jornalista, professor, cronista, romancista, ensaísta e memorialista, nasceu em Montes Claros, MG, em 5 de outubro de 1906, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 4 de agosto de 1994. Eleito em 1o de abril de 1969 para a Cadeira n. 24, na sucessão de Manuel Bandeira, foi recebido em 21 de outubro de 1969, pelo acadêmico Aurélio Buarque de Holanda.
Foi o 13o dos quatorze filhos do casal Antônio dos Anjos e Carlota Versiani dos Anjos. Fez o curso primário em Montes Claros e começou seus estudos secundários, aos 13 anos, na Escola Normal da mesma cidade. Em fins de 1923, foi para Belo Horizonte, a fim de estudar humanidades e fazer o curso de Direito na Universidade Federal de Minas Gerais, pela qual se formou em 1932. Durante os anos de faculdade, trabalhou como funcionário público e jornalista. Trabalhou no Diário da Tarde (1927); no Diário do Comércio (1928); no Diário da Manhã (1920); no Diário de Minas (1929-31); em A Tribuna (1933) e no Estado de Minas (1934-35).
Depois de formado, tentou a advocacia na sua cidade natal. Desistindo da profissão, voltou à imprensa e ao serviço público. Em Minas, exerceu os seguintes cargos: oficial de gabinete do secretário das Finanças (1931-35); oficial de gabinete do governador (1935-38); diretor da Imprensa Oficial (1938-40); membro do Conselho Administrativo do Estado (1940-42); presidente do mesmo Conselho (1942-45). Foi professor de Literatura Portuguesa na Faculdade de Filosofia de Minas Gerais (1940-46), na qualidade de fundador.
Em 1933, como redator de A Tribuna, publicou uma série de crônicas que seriam o germe do seu mais famoso romance, O amanuense Belmiro (1937), de análise psicológica, escrito na linha machadiana, explorando a vida de um funcionário público da capital mineira.
Em 1946, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde ocupou, durante o governo Dutra, as funções de assessor do ministro da Justiça, diretor do Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado IPASE (1946-51), e presidente do mesmo Instituto, em 1947. Colaborou também em diversos órgãos da imprensa carioca.
Convidado, em 1952, pelo Itamarati, a reger a cadeira de Estudos Brasileiros, junto à Universidade do México, residiu nesse país até 1954, quando foi transferido para igual posto na Universidade de Lisboa. Em Portugal publicou o ensaio A criação literária (1954).
Em fins de 1955 regressou ao Brasil, e, em 1957, foi nomeado subchefe do gabinete civil da Presidência da República. Com o governo Kubitschek, transferiu-se para Brasília, onde exerceu, depois, as funções de conselheiro do Tribunal de Contas e de professor da Universidade. Participou da Comissão designada pelo Governo Federal, em 1960, para planejar a Universidade Nacional do Brasília, vindo a ocupar a função de coordenador do Instituto de Letras da mesma Universidade. Ali regeu, na qualidade de professor titular extraordinário, em 1962, o curso "Oficina Literária". Aposentado em 1976, voltou a residir no Rio. Não se desligou das atividades do ensino, continuando a ministrar, na Faculdade da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o curso "Oficina Literária".
Recebeu os seguintes prêmios literários: da Academia Brasileira de Letras, pelo romance Abdias (1945); do PEN-Clube do Brasil e da Câmara Brasileira do Livro, pelos livros Explorações no tempo (1963) e A menina do sobrado (1979).
Fonte: http://www.academia.org.br/
ANJOS, Cyro dos. poemas coronários. Brasília: Edições de arte do Instituto Central de Arte, Universidade de Brasília, 1964. 12 folhas dobradas. 31x44 cm. capa dura. Planejamento: Claus P. Bergner, Leo Dexheimer, Glênio Bianchetti e María Rodrigues. Impressão e encadernação: João Oliveira Xavier e Lino Litherio Macedo. Tiragem: 100 exemplares, números e impressos pelo autor. Ex. 63 na bibl. Antonio Miranda.
(fragmentos, conservando a ortografia original)
Não quero o Deus de Aristóteles nem o de Espinosa.
Quero o Deus de grandes barbas repartidas ao meio
que eu via nas estampas da História Sagrada,
sujeito a zangas e birras tal qual meu pai,
mas infinitamente bom e justo.
É no regaço desse Deus que hei-de ser acolhido.
Êle me puxará as orelhas, brincalhão: Vai, Belmiro,
perdoados são os teus pecados!
Fique naquele nuvenzinha côr de laranja
a ver os anjinhos brincarem de roda.
(...)
Não sei quem sou nem o que valho,
qualquer opinião me afeta
qualquer esquivança me agrava.
Invejo Robinson Crusoé
bastante a si mesmo,
forte, jovial, inventivo,
Robinson Crusoé,
acendendo o seu foguinho na ilha.
(...)
Sem rima nem metro
no ritmo do suspiro, do gemido
dialoguei com a morte
que na riba do Aqueronte passeava
entre o Mantuano e o Florentino.
Não é caveira, esqueleto,
nem traz ao ombro a foice longa —
mostrou-se bonita moça
de compassivos olhos, castos gestos.
Sorriram os divos ante a arenga,
na hora do aperto — pensariam —
cada qual se arranja como pode.
Se fiz verso ou prosa, importa pouco,
fui à raiz da aflição, descarnei-a.
(,,,)
Página publicada em julho de 2014
|