Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


CÉLIO CÉSAR PADUANI

LIO CÉSAR PADUANI

Natural de Divinópolis, bacharelou-se em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais em 1965, fez mestrado em Ciências Penais e doutorado em Filosofia do Direito.  Publicou muito na imprensa literária e depois editou o livro “O Estranho Canto do Pássaro”. Toda sua obra foi compilada no volume “Antologia Poética”, em 2002, obtendo a classificação Hours Concours em concurso nacional da Academia Mineira de Letras. Desembargador do Estado de Minas Gerais. É membro da União Brasileira de Escritores de São Paulo.

 

“No início dos anos 60, mantinha correspondência com Célio para discutir as vanguardas de poesia daqueles tempos. E fui a Belo Horizonte, a convite dele, participar de uma exposição de poemas visuais, e levei trabalhos dos poegoespacialistas e de neoconcretos (entre eles o Ferreira Gullar, com seus não-objetos). Tempos depois eu fui para a Venezuela e perdi contato com o poeta mineiro.. Agora o redescubro em livros. E faço aqui o primeiro registro, como forma de reaproximação com o poeta e o amigo.”  ANTONIO MIRANDA, 10/06/2006.

 

ROSABELHA 

Este poema concreto de Célio César Paduani não está datado. No entanto, ele já fazia experiência do tipo no final da década de 50, quando ainda era estudante de Direito na UFMG, e até promoveu uma mostra de poesia de vanguarda por lá, de que participamos Da Nirham Eros (pseudônimo de Antonio Miranda à época), e Ferreira Gullar com um poema objeto. Ele continuou escrevendo poesia nos anos seguintes, mas de cunho literário.  A.M.

Mario Chamie, na Revista de Cultura VOZES (N. 1, 1977, ano 71) escreveu sobre este poema concreto o seguinte comentário:  "O espacejamento gráfico, obedecendo a padrões caros na época, serve de cenário espacial e tipográfico para uma decomposição centrada no termo "rosabela" que, através de ruído, transforma-se, na última linha, em "rosabelha". Talvez seja pouco para um poema se firmar antologicamente."

 

 

 

 

Além da Rosa

 

A flor queima no jardim

a cor que dizem bela,

o corpo que me enlaça

tem seios e nervuras.

 

Não posso ir

além da rosa que ausculto,

a matéria que pesa sobre mim

tem guizos de eternidade.

 

Entretanto,

nada sofro por mim:

— se nas ruas e praças

o suor de corpos

iguala-nos à sombra

- de precárias formas.

 

 

 

Chuva

 

Como chove na noite escura!

nos lares ermos nenhuma luz floresce.

Parece paz, mas é a chuva

que cai,

recolhendo mistérios e medos.

 

Entre a música que alguém toca

ao piano, em um céu distante,

e a chuva que morre nas calçadas,

prefiro a chuva, por ser simplesmente a chuva

que cai, sem enigmas,

esfriando minha noite que abraço

 

              — e me enternece.

 

 

 

O mundo e a flor

 

A noite é a noite, amor,

e já não posso te amar.

A praça é de guerra,

as identidades desconcentram-se

nas pessoas, nas máquinas e no mundo.

Apenas me resta te pensar,

e meu corpo prossegue inexorável

para o que possa vir a ser.

 

Penso-te, livre o pensamento

que não decifra a esfinge

de minha razão de exisir.

Pensar-te, porém pensar

não é o epicentro da posse.

 

Assim, nos exilamos a cada instante,

o relógio bate o fim das horas.

Seres e coisas

explodem bodas de mármore.

A mente implode, globaliza-se,

e descola-se,

mas ainda resistes, oh flor,

posto que exausta, ainda que felina:

 

       — rosa púrpura de minha razão.

 

 

 

Inatingível poesia

 

Poesia que não conheço

e jamais conhecerei.

Luz que mal apalpo

Quisera amá-la como

o amor, mas o amor é mais fácil

que tua essência.

 

Guarda-me para depois.

Em vão: é inútil.

O incompleto acervo de sentimentos

e desrazões será recolhido algum dia.

Poeta, homem recolhido

do interior de Minas:

— o país não comporta

as emoções da técnica.

 

Que nos espera se a poesia

é recôndita e o mundo

insensível além da mídia.

Assim, amante transtornado,

Dante retornou aos infernos.

 

 

 

A chuva

 

A chuva

vertical e em cântaros:

— expectante cruzo a liquidez

marginal da noite.

 

Na quietude do olhar

apenas perscruto

a sutil aparência da queda.

 

Proíbo-me:

— pássaro, míssil, bomba

perseguir a imensidão do cosmos

ou plantar a bandeira de meu sonho

no pico mais alto do universo.

 

Posto que prefiro

a rente luz do chão,

o convívio cógnito de seres vivos

que arrastam dores e presságios

nas ruas anônimas e desertas.

 

 

Extraídos da antologia SONATA POÉTICA. Belo Horizonte: Anome Livros, 2005.

 

PADUANI, Célio César. O Estranho Canto do Pássaro.  Belo Horizonte: Graphilivros, 1988.            253 p.  autografado.  14,5x21 cm.  Capa: pintura a óleo de Franz Marc.  Col. A.M. (EA)

 

ENTRE TEUS SEIOS

A mais não vou,
corpo que nunca vi.

Entre teus seios, poema,
passeio como lagarto.

E na planície erma
acampo meu pânico.

 

          MOMENTO

Não tenho outra coisa para fazer
neste momento;
abro a janela e a noite lá fora
parece um polvo engolindo a cidade.

Nada vejo além da noite erma.
Um ruído sequer, nem o ar parece
varrer os pulmões do mundo.

Assim, não tendo nada a ver
senão a imensa noite escura,
resta aguardar o retorno da luz
que emerge, inútil, dos dias vãos.

 

TOTEM no. 1 revista cultural.  Junho / 1974 — órgão do d. a. da faculdade filosofia e letras de cataguases.   Cataguases, MG: 1974.  Edição mimeografada.

 

         CANTO DE MAESTRIA
         PARA SHARON TATE

         sob a côncava sombra
         de hollywood
         absorto o cortejo
         entre a neblina
                            — bad weather
                                bad weather
         bad weather, sharon tate
         fusíveis ângelos
         à copa de plátanos
                                      emergem
         à paisagem.

         eis o epílogo   rito
         do corpo estrangulado,
         apaguem as luzes
                                         corte
         câmara  luz  no  set  ardente.

         2
         há pouco no lençol
         o símbolo do mito
         no corpo desnudo
         que a última posse
         recobre de cera.

         este é o corpo
         que se fecundava
         este é o lábio
         que se sonhava
         esta é a cena
         que se temia

         nutrido corpo grávido

         que o feto entumescia
         íntimo ser que penetrava
         as entranhas que te colheram
         corpo e fruto desunidos
                                               sharon
                                               tate
        

SLD 3– suplemento/literatura/difusão     anexo ao “Cataguases” 
16 -  6 – 1968      Cataguases, Minas Gerais: 1968   4 p. 

Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

            nênia para laíce

quando te contemplo
imóvel como uma coluna
reclinada de mármore,
quando te contemplo
és a morte, sim,
de que tanto te falaram
quando corrias
lépida como uma garça
sobre as calçadas e passeios.

é dessa imobilidade
e dessa morte
que te ceifaram na manhã
que te sussurro ao ouvido
infenso às batalhas coreanas,
cujo rugido, por mais som que irradiem,
não penetram
a cavidade fira de teus tímpanos.

pois é como a inércia
a que nos preparamos desde a origem
que em teu corpo contemplo,
o que mais me impressiona
e entendo, é isso
é a imobilidade total que te envolveram
em teu corpo, ó morta.

desse momento relâmpago
retorno ao trabalho dinâmico das fábricas
ao convívio dos automóveis,
à leitura mancheteante dos jornais,
e ficas
com tua segurança e tranquilidade de morta,
a deixar a te espreitarem
recoberta de flores e memórias,
o selo do epílogo, a pior sorte do corpo,
ó minha tia moça que morreu.

 

*

 

VEJA e LEIA outros poetas de MINAS GERAIS em nosso Portal:

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/minas_gerais/minas_gerais.html

Página publicada em julho de 2021

 

 



Voltar para o Topo da Página Voltar para a Página de Minas Gerais

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar