ADRI ALEIXO
Adriana Aleixo Neto usa o pseudônimo de Adri Aleixo como assinatura poética. Nasceu em Conselheiro Lafaiete em 08 de outubro de 1975. Formada em Letras, pela UEMG escreve poemas desde a juventude e arrisca alguns contos de vez em quando. Adri vive dos arroubos da música, literatura, cinema e teatro. Possui textos publicados em jornais locais e no espaço virtual Pétalas Poéticas. Des.caminhos, seu livro de poemas pela editora Patuá, em 2014.
Poemas extraídos do SUPLEMENTO LITERÁRIO DE MINAS GERAIS, Edição 1357, da Secretaria de Estado da Cultura.
CALEFAÇÃO
Os pés cansados:
cadafalso, candelabro.
Pisar minúcias
nas costas, o mundo
os filhos nos braços.
E você diz que a mulher deve ter pés delicados.
LÍQUIDA
As pedras
que deixei pelo caminho
desenharam a curva do rio.
FOTOGRAMA
É um rito
um silêncio
um grito
e não há mais vento.
Há um alicerce de palavras me perdendo.
FEBRE
Neste momento são elas, as células,
uma a uma cravando
existência.
Qualquer dia desses
devo nascer.
Há um alicerce de palavras me perdendo.
CIRCE
rotos
tortos
plantados
enfileirados
porque toda reta se curva
e desenha a asa de borboleta
PÁTRIA
alguns avistam
outros pisam
mas há aquele
que flutua
e tateia-lhe
os contornos.
DOS ABSURDOS
Absurdo é ter nascido pronta
e rotulada.
Eu é que não volto para a vida que me deram.
Eu me árvoro.
A FLOR E O AUTODIDATA
Para Jean-Paul Sartre
Qual é mesmo o nome daquela flora, ele perguntava.
Quero catalogar, ele insistia.
Em ordem alfabética, completava.
A mim, basta saber que ontem
era semente.
FRAGMENTO QUÂNTICO
A flor decide
abrir-se
e a pedra
escolhe
a hora do voo.
TRINTA ANOS-LUZ. Poetas celebram 30 anos de Psiu Poético. Aroldo Pereira, Luis Turiba, Wagner Merije, org. São Paulo: Aquarela Brasileira Livros, 2016. 199 p. 16x23 cm ISBN 978-85-92552-01-5 Ex. bibl. Antonio Miranda
ANTEPARO
Sob o desgosto dos dias
há de resistir alguma ternura
desenhos à têmpera
um resto de pratos
um gozo ao poente
Ou a sua palavra
que inunda.
DELTA E ESTUÁRIO
No começo era gota
depois, aquela água toda
e um raro movimento de pedra
inscreveu-se no silêncio
então veio o fim
pétala: antera, carpelo e pés
mas parecer pétala e ter sido gota
alguma vez
me parece suportável.
FLOR DE LÓTUS
Os deuses da paisagem
flor
fruto
fada
sussurram renascimentos
enquanto gentes
passam incólumes, sendo palavra
ou caderno de apontamentos.
CLEPSIDRA
É boa a rasura da cama
aquela torneira aberta na sala
encharca
e quase mata
entre letras e luas
é mais fácil controlar
a goteira
do quarto.
HIATO
Não vê, amor
as estrelas também deambulam
eu sei
é um jorro, um hiato, um flanar de pétalas
basta olhar
entre nós, você vê desertos
eu procuro
só encontro mar.
RE.VOADA
São muitas luas e todas as dores
demora, eu sei.
Está no amplexo das conchas
ou no chão de todas as coisas
o teu pousar em minhas cores.
Página publicada em fevereiro de 2016; ampliada e republicada em julho de 2016.
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