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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

GERALDO RAMON PEREIRA

 

Conhecido como Gê da Viola, o poeta-violeiro, Geraldo Ramon Pereira nasceu em Maracaju, MS, no dia 7 de outubro de 1939.  Vive em Campo Grande desde um ano de idade. Formado inicialmente em Odontologia, depois estudou na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, SP, onde se especializou em Fisiologia Médica e Biofísica, fazendo depois pós-gradução na Unicamp. Professor tiular aposentado da UFMS, é autor de 8 livros publicados, dois CDs com música regionais. Jornalista, coordena o Suplmento Cultgural  do Jornal Correio do Estado. Autor de mais de 250 sonetos.  Site:  www.gedaviola.com.br

 

 

CABELUDO

 

Já estou cheio de tudo ...

Ninguém corta cabelo

e só eu sou cabeludo!

 

No entanto, essa mania

de não ir mais ao barbeiro

só lhe traz economia ...

 

E por outra, lá em casa

todos entraram na roda:

minha irmã usa apenas "saia-cinto"

porque diz que está na moda ...

 

Meu irmão nem usa cueca!

E sou eu quem paga por tudo,

por ser humilde cabeludo

filho de um pai careca!

 

 

A CULPA É DE VOCÊS

 

Me fizeram bonitão:

alto, forte, esbelto,

cabeludo, um pão...

Me criaram com toddy,

caldo de carne, vitaminas ...

Vejam se pode:

Essas boas meninas,

afinal, não estão nem aí

e gamam no papai aqui!

Depois, me deram um carrão:

tala larga, rodas Fittipaldi,

vidros raibã, aquele som ...

Tudo de bom:

Ora, bolas:

E agora vocês me perturbam

com esse falatório indiscreto,

dizendo que eu sou culpado

de tão jovem lhes dar um neto!

E eu nem aí estou:

antes ser um "papai jovem"

do que "coroa vovô"! 

 

 

CONSELHOS DO "VELHO"

 

—Escute o "coroa" aqui:

zíper só vive enguiçando,

é bem melhor o botão ...

Calça larga vai arrastando

e suja toda no chão;

siga, pois, a minha seita:

calça — só de boca estreita;

braguilha — somente com botão.

 

—Meu chapa, que cafonice ...

Quantas vezes já lhe disse

que tempo na vida é ouro:? .. .

E se de repente a polícia

pegar a gente com malícia,

sossegado, nalgum matão ...

Como fazer, no apuro,

pra vestir calça estreita no escuro

e abotoar tanto botão?! ... 

 

 

PEREIRA, Geraldo Ramon.  Auroras e crepúsculos. Espectros poéticos em sonetos.      Campo Grande, MS: Life Editora, 2010.  234 p. 

 

Vai-e-volta

 

Meu Deus, ei-la de volta! E tão mais bela

E tão diaba e tão santa em sua graça,

Que a luta em vão para esquecer-me dela

Só pôs fogo à paixão que me devassa!

 

A um tempo, ela me cura e traz sequela,

E quanto mais machuca, mais me enlaça...

Da vida minha é dúbia sentinela,

Se a mim volta, me alegra e me desgraça!

 

Imploro então que logo vá-se embora,

Que minha dor carregue mundo afora,

Que agora vou sorrir com ela ausente...

 

Mas tão logo a expulso aos olhos meus,

Eis-me de novo suplicando a Deus

Que à minha vida a traga novamente!

 

 

 

Boa-ventura

 

(Para a Profa.. Maria da Glória Sá Rosa)

 

 

Rosa é do amor, espinho é desventura;

 

Deserto é sede, oásis é alento;

A mão divina às vezes refulgura

Plasmada em elo de ouro e sofrimento!

 

Assim, teceu-nos Deus uma Escritura

Tão cheia de contraste e amor-tormento;

A vida esconde em si a sepultura,

Cada alegria agoura algoz lamento!

 

Perdão, Senhor, por esta investidura

Do meu efémero ao teu ab aeterno:

Acho que exageraste na amargura

 

Da mãe que perde o filho amado e temo.

Seria a vida santa Boa-ventura

Se o convívio "mãe-filho" fosse eterno!...

 

 

 

 

REVISTA DA ACADEMIA SUL-MATO-GROSSENSE DE LETRAS.  No. 15.
Dezembro de 2008.
Campo Grande, MS; 2008.  No. 10 412

 

                                         Sonetos Natalinos

I - Milagres da Criação

... E criou Deus os campos do infinito
Pra que estrelas pastassem cintilantes...
Criar mares selvagens foi bonito
Pra que luares banhassem ondulantes!

Em cada criatura pôs um mito,
O homem e a natureza fez amantes...
E no amor pôs e pôs o grito,
Entre cascalhos fez gerar diamantes!

E para que entre os homens pecadores,
Por livre arbítrio, alguns os seus horrores
Deixassem lá nas trevas, vindo à luz,

Deus, num gesto supremo, em doce frêmito,
Fez nascer no Natal seu unigênito,
O eterno Salvador — nosso Jesus!


II - Renascimento

Jesus renasce a todo instante, a cada espaço,
Em cada gruta milenarmente esquecida...
É o parto persistente do amor sem cansaço,
Com que Deus clona ao mundo a Maria escolhida.

Jesus nasce na orquídea, no gelo do mormaço,
No mistério da morte ou nasce à luz da vida...
Na guerra ou calmaria traz o seu regaço
E renasce na causa ganha ou fé perdida!

Jesus nasce ou renasce na flor ou no espinho,
No mais torpe desprezo ou mais santo carinho...
Porém, nada nos traz tanta luz e emoção

Do que quando ao Natal — qual divina magia —
Soa o gemido-prece da Virgem Maria
E de novo Jesus nos nasce no coração!


III - Rimas de Natal

Natal —palavra mágica e sonora,
Com qualquer outra, pelo amor, faz rima;
Seja com ontem... hoje... ou com agora,
A rima do Natal é a mais divina!

Natal — rima com dentre se lá fora
A alma humana com Deus se descortina;
Natal — riam com fica ou vai embora,
Desde que Jesus trace a nossa sina!

Natal — rima com fé, com esperança,
Com homem, mulher, velho ou com criança;
Natal — rima com bem, com eternidade...

Natal — do amor é prece de alegria,
É do cristão a única poesia
Que rima Vida com Felicidade!

IV - Relações Natalinas

Desde a infância fugaz que descortino
— Envolto em sonho de magia e luz —
A imagem sacrossanta de um Menino,
Que nasceu santo, mas morreu na cruz!

Salvar a humanidade, eis seu destino!
Mas o homem se esconde em mau capuz
E em pecado e maldade, ao desatino,
Finge, na maioria, amar Jesus!

"Amai-vos uns aos outros!" — Ele disse.
Mas, em vez de afeição e fé etérea,
Muitos dão, uns aos outros, canalhice.

Dádivas, no Natal, têm seu valor...
Mas desde que os presentes em matéria
Sejam sempre embrulhados com amor!


V - Quatro Reis... Dois Destinos

Na humilde manjedoura dormitava
Um rei-menino de mãe ainda quente...
E uma estrela de mística luz alva
Guiava os três reis magos d´Oriente.

Na caverna José a Deus orava,
Maria delirava de contente...
Ela em fé já sentia o quanto amava
Quem ia amar o mundo e toda gente!

Os reis magos se foram pela aurora
Qual todo rei que chega e vai-se embora
Pelo Tempo a ofuscar-lhe a claridade...

Mas o Rei a quem deram seu presente,
Este veio e acendeu-se eternamente
Num sol de fé e amor à Humanidade!

 

VI -
Inspiração Natalina

Como a água espectral de seca mina
Que, à chuva intensa, eclode novamente,
Também me aflora a inspiração divina
Quando mais um Natal me chove à mente...

Doce emoção me tange e me domina,
E o amor a Cristo jorra em tal torrente,
Que em celestial dilúvio eu cumpro a sina
De fiel cristão e poeta reverente!

E então é o sofrimento do seu parto,
Que vira luz — prazer de que me farto
Sentindo em tudo renascer Jesus!

(Sonetos inspirados e escritos na época de Natal)

 22

REVISTA DA ACADEMIA SUL-MATO-GROSSENSE DE LETRAS.  No. 18.   Dezembro de 2010. Campo Grande, MS: 2010. 
Ex. cedido por Rubenio Marcelo

 

"Versos Livres" e um "Cordel" de um sonetista:
Do livro POEMAS ÍNTIMOS — Vol. II / Edição 19740

I – versos espontâneos

Quero escrever um poema
Sem rima certa,
Sem cadência de soldado...
Como fosse um passarinho
Voejando, sem destino,
No céu, despreocupado...

Talvez qual uma borboleta
Sem preconceito de pousar
Numa flora ou num estrume...
Talvez com um vaga-lume
Cada luz é um lampejo incerto
Nas trevas em que se arrisca.

Quero ter o passo incerto
Do sertanejo indolente
Trilhando o trilho deserto
De um matagal sem fim...
Não importa pisar o vergel
Ou matar cascavel!

Que a rima ou a cadência
Sejam meu próprio interior...
Não importa que o papel
Seja um pedaço do céu
Ou parte do meu amor;
Quero um poema de liberdade!...

Pois quero colocar pra fora
De um ego que tanto chora
Tudo que o tumultua, ao centro;
Quero ser livre como o vento
Que ainda continua, lá fora,
A sua mensagem pra dentro...

Se o compasso for de onda
OU de uma sentinela;
Se a poesia sair redonda
Ou com forma de tigela...
Nada disso me importa!
Quero um poema sem formalidade,

Verso curto
Ou quiçá longo demais para se entender ou analisar...
Que importa isso tudo?!...
Se falo muito, ou me faço mudo
Ao entendimento do meu leitor...
Este buscará em mim apenas o poeta!

Agora, sim.
A mulher que eu amo,
E a quem o poema se destina,
— Esta, sim —
Não buscará cadência nem rima...
Buscará apenas o homem amado
E ele estará presente — com rima e cadência
Em cada verso mal traçado!


II – Alma nas ondas

Gosto de você como você é:
Fugitiva, insinuante, desprezando,
Chamando, chutando...
E amando, até!
Gosto de você como você é:
Após um olhar de amor,
Ternura, afeto,  calor...
Uma fuga inexplicável,
Um ausência deplorável
Me causando tanta dor!
Mas eu gosto de você
Assim como você é...
Ora, eu creio em você,
Ora, não lhe ponho fé!...
Porém, a verdade é só uma:
Amo-a assim, esquisita como é,
Qual nunca amei pessoa alguma!
Amo-a assim como você é...
Todo homem tem na vida
Alguém a quem beija o pé;
E quis fazer o destino
Você santa, você lúcifer!
E eu aprendi a amá-la
Assim como você pé,
Ora, amando a santa,
Ora amando o lúcifer...
Porém, uma coisa me encanta:
Amando lúcifer ou santa
Eu amo em você — a MULHER!


III – Novo contraste

Novo ano
Ano novo...
Nova vida
Vida nova...
Nova esperança
Novo tudo
Tudo novo...
Entrei na sala
Nova sala
De novos alunos...
Nova inquietude
Da nova e quente
Juventude!
Carteiras novas
Novas cortinas
Rapagotes novos
Novas meninas!
Apagador novo
Novo giz...
Quadro novo
De novo matiz!
Novo tudo
Tudo novo!
Em novo canto
Armário novo
De novo tom
Novo e vermelho...
E no armário novo
Novo espelho
A refletir
O novo ambiente!
Objetos novos
Novas gentes.
Novos passos
Do novo professor
Que se vê de novo
No novo espelho
E analisa de novo
Sua nova feição:
Nova fisionomia
De um mestre novo
Que ENVELHECIA!...


Rimas de Natal

Natal — palavra mágica e sonora
Com qualquer outra, pelo amor, faz rima;
Seja como ontem... hoje... ou com agora,
A rima do Natal é a mais divina!

Natal — rima com dentro se lá fora
A alma humana com Deus se descortina;
Natal — rima com fica ou vai embora,
Desde que Jesus trace a nossa alma!

Natal — rima com fé, com esperança,
Com homem, mulher, velho com criança;
Natal — rima com bem, com eternidade...

Natal — do amor é prece de alegria,
É do cristão a única poesia
Que rima Vida com Felicidade!


REVISTA DA ACADEMIA SUL-MATO-GROSSENSE DE LETRAS.  No. 19. Setembro de 2011. Campo Grande, MS: 2011. 
                                                    Ex. cedido por Rubenio Marcelo
 

Frei Gregório de Protásio Alves
Foto: http://historiasdecampogrande.blogspot.com/2017/10/
morre-frei-gregorio-de-protasio-alves.html
 

Freigregório, a-Deus!
(Para Frei Gregório de Protásio Alves)

Fé, luta, amor — a tríade da glória
Com que pautaste, Frei Gregório, a vida...
Com Letras, sons e risos deste à História
Messes em oração mais comovida!

O amor é mais intenso na memória,
Se é, quem partiu, a flama mais querida...
ET eis que minh´alma, em luz tão alva e flórea,
Voa à Igreja de Fátima, sentida.

Busca-te, oh Frei, no quarto agora triste,
Onde, só, a sanfona toca um hino
De adeus a quem fez tanta caridade...

Na nave, está em tudo, e tudo assiste
A um milagre da Santa em desatino:
Fátima chora preces de saudades!


Preferência de Jesus


Sonhei que vi Jesus num lindo prado,
Apascentando homens maus e insanos...
De lira ao peito, orava, em som cantado,
Súplicas de perdão aos vis humanos.

Pela santa canção fui despertado,
Voltei ao tempo mais de dois mil anos,
E Lhe roguei em prece, envergonhado:
—"Senhor, vem cá de novo, há novos planos,

Co´esta voz e instrumentos eletrônicos
Vais cantar aos homens mais irônicos
E nem precisarás da velha lira..."

Ouvi Jesús: —"Cantarei entre vós,
Mas pedirei apenas, a tanger-me a voz,
A santa voz da viola bem caipira!".

 


*

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Página ampliada e republicada em julho de 2022

Página ampliada e republicada em maio de 2012


 

 

 
 
 
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