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Foto: http://ruidomanifesto.org

 

PABLO REZENDE

 

Poeta e professor de Língua Portuguesa, Literatura e Redação da Rede

Pública do Estado do Mato Grosso.

É graduado em Letras – Português/Inglês pela Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e Mestrando em Estudos Literários pela Universidade do

Estado do Mato Grosso (UNEMAT).

 É autor do livro O dever e o haver, publicado pela Literata, em

2011. Têm poemas publicados em várias antologias poéticas nacionais e internacionais.

 

 

Extraído de

 

REVISTA PIXÉ   - Cuiabá - Mato Grosso
EDIÇÃO NO. 5 – ANO 1 – AGOSTO/2019

 

 

O CAMINHO NATURAL

Ao amigo Vicente

 

O caminho natural

Nada está fora do lugar

Todas as coisas ocupam o espaço exato

Os livros na estante, as fotos na gaveta

A natureza toma seu caminho implacável.

As águas de um rio seguem cursos ordinários

na certeza de que não voltarão ao mesmo lugar,

à mesma forma, ao mesmo tempo.

 

Um útero fecundo

Um cacto impedindo o trânsito

Uma orelha cortada em um copo com água

Metamorfose.

 

O caminho natural das coisas é a distância

Sementes de uma mesma flor

Tendem a ser semeadas em lugares diversos

Uma pena quando se desprende da

pele dura de um pássaro

Não voltará a ser uma pena

Corpos tendem a se afastar

A natureza se modifica

O corpo celeste tende a compor um

gesto, uma alegoria, uma metáfora

Uma ferramenta breve sobre um

maquinário qualquer.

 

Uma trilha segue seu curso natural

Corpos tendem a tomar caminhos opostos

Um cachimbo sobre uma cadeira

Filhos de um mesmo pai tendem a

ser criados por mães diversas

Árvores genealógicas plantadas em terras inférteis

 

O caminho natural das coisas é o abandono

Uma história quando exerce teu

potencial de visualizações

Tende a compor a anatomia de uma

memória eternamente efêmera

O que antes era o melhor momento da vida

Tornou se o passado remoto de um tempo qualquer.

 

O caminho natural das coisas é o esquecimento

Todas as coisas em seus devidos lugares

Corpos tendem a se distrair

Um coração partido

Um perfil bloqueado

Uma mente sem lembranças

Mensagens de amor excluídas em

aplicativos instantâneos

Olhos que se olham e não se veem

Não se reparam

Autorretrato

Solidão guardada em um dispositivo eletrônico

A saudade poderia ser o que não foi.

 

Os quadros de Van Gogh também envelhecem

Os girassóis presos a necessidade de uma jarra

Tendem a decompor em sua imagem sólida

O que antes era novidade, luz na luz, se torna obsoleto

Fragmentos do tempo esquecidos

em paredes de casas grandes

Que habitam homens pequenos

O caminho natural das coisas é o envelhecimento

Corpos tendem a falhar

Uma coisa pode ser uma coisa até não ser.

 

 

 

Página publicada em agosto de 2019

 


 

 

 
 
 
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