ARISTIDES KLAFKE
Aristides Sérgio Klafke. Pseudônimo(s): Arik. Nasceu em Paranaíba, Mato Grosso, em 1953. Viveu em São Paulo. Mudou-se para os Estados Unidos em 1986.Vive em NewYork onde se dedica às artes plásticas.
CONTRAMÃO POEMAS. 2ª edição. Aristides Klafe. Arnaldo Xavier. Celso Luiz Marangoni. Lucia Villares. Mauricio Merlini. Tadeu Gonçalves. Ulisses Tavares. São Paulo, SP: Núcleo Pindaíba Edições e Debates, 1978. 91 p. (Coleção PF) Capa e orientação gráfica: Ulisses Tavares.
CONSELHO
você deve devolver o sorriso
ao poder
sem novidade deve passar pelas pessoas
como se o mundo não existisse,
deve passar apenas, alheio.
ficar viúvo de sentimento
desertar em plena luta
armazenar o sexo
você deve ser absurdo, amigo
silencioso
você deve inaugurar-se
no caos.
e passar bem!
É TRISTE PERDER A LIBERDADE
E NÃO FICAR LOUCO
a Homero Klafke
diariamente fica trancado no quarto
apreciando o pinto sempre ereto respirando
sonhando nu subestimando renegado
atitudes masturbando a impotência psíquica
obscuro transparente indivíduo sempre
se protegendo em Reich tecendo melancólicos
pensamentos sexuando os objetos existentes na
mente permanecendo exilado no próprio corpo
abstraindo inutilidades sem perspectivas
sem ter os jornais decretando passivo o ritmo
da vida o tempo todo mastigando aspectos
mutilados da história sem energia sem
pressentimento arrumando os inúteis livros
amontoados na cama covardemente padecendo sob
os ejaculados lençóis sujos de paranoia.
TODAVIA
Resguardo o animal que há
em mim, ferido
até que os músculos arrebentem
a carcaça de meu corpo
liberte a raiva no estalo retumbante
de um relâmpago
até que o canto suprima a dor
FIM DE ÉPOCA
aí declararemos imediatamente novas ordens
aí estruturaremos novos e amplos espetáculos
aí soltaremos as feras, libertaremos todos
os pássaros
aí varreremos do palco fadigas de sonho e passado
SOBRE O CIMENTO DO PEITO
sobre o cimento do peito
algo de pluma algo de água.
sobre o cimento do peito
algo de grave algo de sombra.
sobre o cimento do peito
algo de veia algo de sangue.
sobre o cimento do peito
uma lança de cobre a abrir desiguais
caminhos
— passo a passo
pela carne úmida e fria que protege
os rebelados
ossos.
PEDRA DOR
em cada febre de corpo
em cada canto de pedra
em cada aflito de olho
em cada apego de sexo
em cada grito de amor
em cada gesto desesperado
a unha do opressor
que dilacera e corta
o braço necessário
do meteoro
domesticado
Ver o poema extraído de
POESIA... [edição mimeografada]
Uma série de edições do folheto “POESIA” impresso em mimeógrafo. Encontramos doze exemplares em um velho arquivo na biblioteca particular de Antonio Miranda... Foram editados em 1976 e 1977, com 4 a 6 páginas cada um... Nenhuma informação sobre a procedência, nem dos editores... Só encontramos esta
“A sensibilidade poética foi o fio condutor que reuniu, inicialmente, Gilvan P. Ribeiro e o saudoso José Henrique da Cruz (1957 – 2003) na articulação do folheto Poesia, em 1976, já na Universidade Federal de Juiz de Fora, após os sete primeiros exemplares terem sido editados com o apoio do Colégio Magister, em 1975.”
Fonte: https://jornalggn.com.br/
POEMA de ARISTIDES KLAFKE
EXERCÍCIO DE VIDA
contudo
eu luto.
imponho entretanto
a batalha conveniente.
inauguro
a corrida repentina.
descubro
o provisório albergue do homem.
invento
o indispensável alimento,
e de resistir à loucura
não paro nunca.
sou terrivelmente absoluto
sei o que quero
então resoluto
hoje agora e sempre
recupero-me do triste luto
e canto
e canto
o hino dos perseverantes
e contra as injustiças
luto
luto.
Aristides Klafke
Página publicada em junho de 2018; ampliada em novembro de 2019
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