AFONSO HENRIQUE RODRIGUES ALVES
Nasceu em Rondonópolis, MT (1985). Estuda Ciências Sociais na UFMT, mas se considera ainda um amador em leituras filosóficas e poéticas.
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POEMAS INÉDITOS
Tento, soluço
um parto difícil
Estancar um rio de sangue
Tranças de cabelos escorrem
Salientes de uma mediação vinda do olhar
A pessoa que canta o cipó se envolve na algaravia
Paratática numa quebra que vem e se repete
Pequenos arbustos pretos-cinza
a segurarem o fio – cacho.
Perdi dentro de mim
fio-labirinto-estese
e hoje me sinto-corte;
saudades de só ter linhas e caminhos
pilares da ponte do gozo
a volta da odara no quarto ruidoso
sinto o uno
os pés de sátiro voltam a mexer
e ritmar na cama
Ágora... Há um momento em que perpasso
As sombras, os sonhos e as formas do indefinido
O vulgo de um olhar, étimo
Teus cabelos num instante desnudam-se
O que seria?
O que seria dito pelo vento dos meus sopros?
O que dos zéfiros das previsões?
Apenas o tempo poderá responder
o que o riacho-oráculo previu pelo átimo
Despedimo-nos desapercebidos,
consolados por toques de tons
que acalmam a ponte.
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Conhecimento tem sonoridade de diafragma
enche os pulmões e deixa respirar
o ar puro fluído da vida-indigência
numa panóplia libelada de qualquer criação,
ilação capaz de passar pelo momento celérico
longe do fluxo das armadilhas cotidianas
Fausto de minhas vitórias,
instante de fazer turibular minha aura
em tudo que passa por meu envolto querer.
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Lethes
esquecimento necessário
fibra volúvel que voltará de cor-ação
reminiscências que me fazem sentir...
deixam frisson
chegar de arremesso na orelha
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Olhos se comportam como fontes
modelam o querer
viril ponto-cego – idêntica entrada onde o que é – é
assalto que se torna entre pântanos - sugam, fundo, arredios
Leves ventos feitos pela mão nos cabelos da nuca,
Ressabiados no altar,
Repousam como beija-flor
Ilusão rápida de vários pensamentos
êxtase turvo de vinho
saída rápida do eu
Voz que desabita, sem se esboçar, anda calmamente perto, traz ventos de outros pulsos, mas longínqua, não consegue chegar a ser possuidor. Apenas espera a fatalidade branca que se adormece na boca entreaberta, essa é a forma mais ingênua que um pressagio doma os lábios profundos e traz telúricos subterrâneos para o brado que resistia.
As cinzas estão aqui para transir a pele serena. No estreito do rio, o pó é tragado pelos remoinhos e diluído na profundez da nossa visão. As idéias alheias parecem se irradiar, não sei se ouço algo a mais, somente surgi lembranças anacrônicas, reminiscências de tempos que não vivi.
A luz apreendida do fundo do rio Cumbuco é negra-essência. A cor que matiza é inquieta, não que ela me incomode, mas minha mão treme se colocada na água. Onde estou, vejo pegadas de capivara, rastros pequenos e nodosos, isso me distrai, mas o vento, a fome, o cansaço trazem-me para o instante. Talvez não queira rezar como os outros e nem perceber as faces ruidosas, flamejantes, aspirantes, mas apenas olhar e não lembrar como esse pó há poucos dias era cancro, era sinuoso aceitar.
A visão dentre a turva nas faces
Espinhos num ramo seco, pendem.
A vida no silêncio dos olhos
Véu que furta-cor
Brando projetar de figuras que insistem em
Conservar
Página publicada em 15 outubro de 2007.
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