MORANNO PORTELA
Raimundo José Portela de Carvalho, que assina seus trabalhos como Moranno Portela, é originário de Piauí (de Piripiri) mas viveu sempre no Maranhão. Nasceu em 1956, estudou em Caxias e vive em São Luis, onde lançou seu primeiro livro de versos: Cavalo-marinho.
POETHOMEM
É pouco o peito do homem
para o poeta guardar:
ele está como represa
quando vai arrebentar.
É pouco o peito do homem
para o rio que dentro dele
quer, sôfrego, navegar.
Mas o homem é necessário,
dele o poeta precisa:
um é unho — o outro é vário,
um voa — o outro pisa.
MATURIDADE
Tudo finda.
Tudo um dia finda
e nem percebemos
essa morte súbita
e escorregadia a carcomer
os nervos do que foi espanto.
Vem desde antes
mesmo ainda antes
da elaboração do existir
esse morrer constante
que dá-se à vida.l
Vida:
nome tanto para
tão pouca fruta
que não cessa de madurar seu fruto
e infalível apodrecer
em semente.
TEMPO ÍNTIMO
Inscreve teu poema no tempo
como no tempo estás inscrito: -
um silencioso grito
juntando os cacos da solidão.
Estás partido,
e teu poema é só um eco
sem raízes ou audível chão.
Contudo cantas,
e tua voz, rouca, vai desvendando
as faces do mundo
sob tua pele escondidas.
Canta, canta que aprenderás
o tempo, teu relógio de pulso
ecoando efêmero teu coração
— o relógio enorme da catedral
e o silêncio.
Página publicada em março de 2008. |