LUIZ MORAES
Luiz Carlos Moraes Bruzaca nasceu no povoado de Flecheiras, município de Humberto de Campos, em 1948.
Livros: Planície dos lobos (1986) e Sinfonia no século das águas (1988).
Limites
Vi sofrendo
Outro irmão
Em busca de pão e amor
Na rua deserta
Igual a um profeta
Ou um bicho qualquer
Mais bicho não o é
No céu já não pensa
Perdeu sua crença
No pátio da Sé
Nem um trocado
Sapato furado
E agora como é?
A fome lhe dói
O rato lhe rói
É um bicho ou não é?
Tem medo do escuro
Queria ser duro
Como foi José
No lixo sua mesa
A gula indefesa
Para saciar
Engole impurezas
Vomita tristeza
E começa a chorar
Cheguei mais perto
Para ver de certo
Se aquilo era um cão
Era um homem sem colo
Caído no solo
Dos homens sem mãos
(Planície dos Lobos,1986)
A morte de Nel
Virgem santa ignorância
Onde só viram o ABC,
De doença estoporada
Muitos lá vivem a morrer.
Foi mais um fato concreto
Pois muitos viram de perto
O que aqui vou descrever.
Lá pras bandas onde nasci
Morava um NEL bom de cana,
Uma mulher e três filhos
Em uma pobre choupana.
Se houvesse todo dia
Aguardente ele bebia
Como achava isso bacana.
Um dia uma simples febre
Causando-lhe alguma dor,
Falaram logo é mulesta
Com o ramo de estopor,
Se escapar fica imperfeito
Aí só pode dar jeito
Se for um bom benzedor.
Vá chamar seu Filomeno
Pra benzer não tem melhor,
Tem também João Cachoeira
Que curou a minha vó,
Corre depressa menino
Se não achar trás Orcino
Que o homem já está pior.
Um dos mateiro confirma
Isso é mulesta do ar,
Só cristé de pino roxo
Bota água pra monar
Enquanto o remédio apronta
Azeite e dez pílula contra
Dão logo pra ele tomar
Depois de tudo tomado
Ele foi se esmorecendo,
Todo comê vinha fora
E a barriga crescendo,
Deram outra misturada
Não demorou a zoada
Meu Deus, o NEL tá morrendo!
E assim muitos perecem
Enganados pela crença,
Sob o mal sem lenitivo
Onde a cura é uma sentença.
De purgante e de cristé
Intoxicaram mané
Sem acertar com a doença.
(Sinfonia no Século das Águias, 1988)
SUPLEMENTO CULTURAL & LITERÁRIO JP Guesa Errante. ANUÁRIO. São Luis (MA): n. 8. 2010.
Ex. biblioteca de Antonio Miranda
SOMBRA
Reina o silêncio na flora
durante o instante lendário,
tal sombra que se remove,
sobre o mito imaginário.
Aparece lentamente
e como vem vai embora,
um olhar de quem sorri,
um semblante de que chora.
Não há nada real
a não ser algum martírio,
circulando em minha mente,
sob o efeito do delírio.
E na ânsia do que desejo
desprezo o que não devia,
olhando além do que devo,
revejo o que não queria.
FOLHAS AO VENTO
Aquela cor que cintila
dentro dos olhos atentos
dos caçadores noturnos
que ladram ressentimentos
reflete no orvalho aromado
das rosas livres ao vento,
balançando à luz da lua
sob o azul do firmamento
E chega a mim como estrofe
nas cores de um madrigal
transformando o imaginário
num sentimento real.
EM PRETO E BRANCO
Sorrindo tento esquecer
do que choro ao me lembrar
que perco quando obtenho
e acho sem procurar
E o tempo sem ver o filme
da minha vida passar
com as cores em preto e branco,
envelhecidas no olhar
E o esquecido de volta
sem querer me devolver
o pouco que foi bastante
para ganhar e perder.
ESTRELAS DA MINHA RUA
Outrora foste caminho
na canção provinciana
dois destinos diferentes
numa vida doidivana
Com verde dos campos virgens
e um ego sem estrutura
ostentei os meus anseios
numa vitrine insegura
E se não cheguei ao sol
nem aos encantos da lua
mas convivi com as estrelas
que clareiam minha rua.
OITENTA E CINCO ANOS
DE JOSÉ CHAGAS
Nasceu no sítio Aroeira
no antigo Piancó
José Francisco das Chagas
nosso poeta maior
De família camponesa
criado na agricultura
hoje presença atuante
dentro da nossa cultura
Num chão de Lavoura Azul
Pão e Água germinando
com os Canhões do silêncio
segue o poeta cantando
Canção da expectativa
ou o Discurso da ponte
são águas da mesma fonte
Os Azulejos do tempo
ostentando A Cor do puro
entre os versos do presente
e as obras do futuro
Sobre o Colégio do vento
e os Apanhados do chão
os frutos do sentimento
surgirão como lição
Os telhados que ele edita
tem sombra e mais alegria
como Águas do silêncio
em tempo de calmaria
Aqui citei alguns livros
de um poeta em harmonia
numa grande trajetória
oitenta e cinco anos de Chagas
regados com poesia
(Poemas inéditos do livro O Mensageiro do Tempo)
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Página ampliada e republicada em março de 2024.
Página preparada por Zenilton de Jesus Gayoso Miranda, publicada em out. 2008
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