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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

LUIZ MORAES

 

 

Luiz Carlos Moraes Bruzaca nasceu no povoado de Flecheiras, município de Humberto de Campos, em 1948. 

Livros: Planície dos lobos (1986) e Sinfonia no século das águas (1988).

 

 

Limites

 

Vi sofrendo

Outro irmão

Em busca de pão e amor

Na rua deserta

Igual a um profeta

Ou um bicho qualquer

Mais bicho não o é

No céu já não pensa

Perdeu sua crença

No pátio da Sé

Nem um trocado

Sapato furado

E agora como é?

A fome lhe dói

O rato lhe rói

É um bicho ou não é?

Tem medo do escuro

Queria ser duro

Como foi José

No lixo sua mesa

A gula indefesa

Para saciar

Engole impurezas

Vomita tristeza

E começa a chorar

Cheguei mais perto


Para ver de certo

Se aquilo era um cão

Era um homem sem colo

Caído no solo

Dos homens sem mãos

 

(Planície dos Lobos,1986)

 

 

A morte de Nel

 

Virgem santa ignorância

Onde só viram o ABC,

De doença estoporada

Muitos lá vivem a morrer.

Foi mais um fato concreto

Pois muitos viram de perto

O que aqui vou descrever.

 

Lá pras bandas onde nasci

Morava um NEL bom de cana,

Uma mulher e três filhos

Em uma pobre choupana.

Se houvesse todo dia

Aguardente ele bebia

Como achava isso bacana.

 

Um dia uma simples febre

Causando-lhe alguma dor,

Falaram logo é mulesta

Com o ramo de estopor,

Se escapar fica imperfeito

Aí só pode dar jeito

Se for um bom benzedor.

 

Vá chamar seu Filomeno

Pra benzer não tem melhor,

Tem também João Cachoeira

Que curou a minha vó,

Corre depressa menino

Se não achar trás Orcino

Que o homem já está pior.

 

Um dos mateiro confirma

Isso é mulesta do ar,

Só cristé de pino roxo

Bota água pra monar

Enquanto o remédio apronta

Azeite e dez pílula contra

Dão logo pra ele tomar

Depois de tudo tomado

Ele foi se esmorecendo,

Todo comê vinha fora

E a barriga crescendo,

Deram outra misturada

Não demorou a zoada

Meu Deus, o NEL tá morrendo!

 

E assim muitos perecem

Enganados pela crença,

Sob o mal sem lenitivo

Onde a cura é uma sentença.

De purgante e de cristé

Intoxicaram mané

Sem acertar com a doença.

 

(Sinfonia no Século das Águias, 1988)

 


SUPLEMENTO CULTURAL & LITERÁRIO JP  Guesa Errante. ANUÁRIO.  São Luis (MA):     n. 8.  2010.
Ex. biblioteca de Antonio Miranda

 

SOMBRA

Reina o silêncio na flora
durante o instante lendário,
tal sombra que se remove,
sobre o mito imaginário.

Aparece lentamente
e como vem vai embora,
um olhar de quem sorri,
um semblante de que chora.

Não há nada real
a não ser algum martírio,
circulando em minha mente,
sob o efeito do delírio.

E na ânsia do que desejo
desprezo o que não devia,
olhando além do que devo,
revejo o que não queria.



FOLHAS AO VENTO

Aquela cor que cintila
dentro dos olhos atentos
dos caçadores noturnos
que ladram ressentimentos

reflete no orvalho aromado
das rosas livres ao vento,
balançando à luz da lua
sob o azul do firmamento

E chega a mim como estrofe
nas cores de um madrigal
transformando o imaginário
num sentimento real.


EM PRETO E BRANCO

Sorrindo tento esquecer
do que choro ao me lembrar
que perco quando obtenho
e acho sem procurar

E o tempo sem ver o filme
da minha vida passar
com as cores em preto e branco,
envelhecidas no olhar

E o esquecido de volta
sem querer me devolver
o pouco que foi bastante
para ganhar e perder.


ESTRELAS DA MINHA RUA

Outrora foste caminho
na canção provinciana
dois destinos diferentes
numa vida doidivana

Com verde dos campos virgens
e um ego sem estrutura
ostentei os meus anseios
numa vitrine insegura

E se não cheguei ao sol
nem aos encantos da lua
mas convivi com as estrelas
que clareiam minha rua.


OITENTA E CINCO ANOS
DE JOSÉ CHAGAS

Nasceu no sítio Aroeira
no antigo Piancó
José Francisco das Chagas
nosso poeta maior
De família camponesa
criado na agricultura
hoje presença atuante
dentro da nossa cultura
Num chão de Lavoura Azul
Pão e Água germinando
com os Canhões do silêncio
segue o poeta cantando
Canção da expectativa
ou o Discurso da ponte
são águas da mesma fonte
Os Azulejos do tempo
ostentando A Cor do puro
entre os versos do presente
e as obras do futuro

Sobre o Colégio do vento
e os Apanhados do chão
os frutos do sentimento
surgirão como lição

Os telhados que ele edita
tem sombra e mais alegria
como Águas do silêncio
em tempo de calmaria

Aqui citei alguns livros
de um poeta em harmonia
numa grande trajetória
oitenta e cinco anos de Chagas
regados com poesia

(Poemas inéditos do livro O Mensageiro do Tempo)

 

*
Página ampliada e republicada em março de 2024.

 

 

Página preparada por Zenilton de Jesus Gayoso Miranda, publicada em out. 2008

 




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