EDUARDO BORGES
Eduardo Borges Oliveira nasceu em São Luis do Maranhão.
“...Eduardo Borges, neste seu livro de estréia, indica e nos revela um percurso que haverá de levá-lo à plena realização dos seus versos: frutos verbais, a que ele, diga-se de passagem, imprime uma cor pessoal, sobretudo nos poemas curtos, de uma contenção ancorada pela imagística que lhe é própria e de sugestiva força criadora.” Nauro Machado
De
SUSSURROS
São Luis: Chama Maré, 2008.
SEM DESTINO
Hoje ainda volto.
Vou ali, andar, ou
não sei o quê.
Talvez deslizar
ante o imanente acaso.
E minha alma tão longe do pensamento...
TESTAMENTO
Preparem-me
lentamente
o funeral, com desdém
de tudo
que sou e nunca fui.
Cavem com pouco
esforço e economia
um buraco torto
num ninho de vermes
para que seja rápida
a refeição.
Depois, esqueçam-me.
ACUADO
Gosto de meus óculos escuros — nunca os tive:
são marcas, cicatrizes no rosto, nada mais.
Imagino tê-los e escondo minha vergonha.
Assim, vejo o mundo negro como a lápide que esconde o
labirinto perdido, cheio de ossos indigentes (como eu).
Encosto-me na parede e espero. Sou um corpo nu qu
ninguém percebe.
NO CENTRO DE MIM ESTE SENTIMENTO
eu sou esse
eu sou isso
um cansaço
um aviso
tanto oculto
como omisso
PERTO DE MINHA CASA
O carnaubal queimado
Calor de árvores contorcidas
Uma estrada de barro vermelho
Casa de pau-a-pique
Enxadas carregando braços
Animais secos comendo o chão
Meninos grávidos
Pais endividados e amargos
Mulheres sofridas e secas
— nenhum espaço para o romantismo no sertão
À QUEDA
Quedei,
como muitos,
e veio a solidão
uma senhora
aproveitadora
(velha matreira
sem olhos), alma
escondida
entre os móveis.
Página publicada em setembro de 2008
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