DINACY CORRÊA FEITOSA
DINACY CORRÊA FEITOSA nasceu em Vitória do Mearim, no Maranhão, a 14 de novembro de 1947. Ensaísta, pesquisadora de cultura popular, mantém constante colaboração na imprensa de São Luís. Detentora de diversos prêmios literários, foi bolsista do Programa Bolsa Trabalho/Arte. E concludente do curso de Letras da UFMA. Publicou 0 Teatro na obra de Ferreira Gullar; dois en-foques (São Luís, UFMA, 1980) livro que, de parceria com Euclides Barbosa Moreira Neto, reúne os dois trabalhos vencedores do III Concurso Literário da UFMA, em que à biografada coube o 1º. lugar. Em 1981 lançou Um cordel para São Benedito, e recebeu, por seu ensaio "Odylfada", o premio instituído pela Academia Maranhense de Letras para o melhor trabalho sobre a vida e a obra de Odylo Costa, filho.
Com "São Luís: naturíssima trindade", conquistou o 4º. lugar no II Festival Universitário de Poesia Falada. No ano anterior participou" desse certame com o poema "Legendas emblemáticas".
(Texto de 1981, extraído de:)
NOVOS POETAS DO MARANHÃO. São Luís: Edições UFMA, 1981. 79 p ilus 15 x 22 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
SÃO LUIS: IMATURÍSSIMA TRINDADE
(trioleto poético)
Dinacy Corrêa Feitosa I
IN VÍDEO (ENTRE PALAFITAS E AZULEJOS)
A
Aqui da telejanela
Ondula em tom flutuante
Minha voz palafitada.
Canto abraços de horizonte
Nesta manhã fulgurante
No vídeo vede a novela:
Enfeitado de lacinhos
cabelos do mar - sorrindo
ao sol/namorado. Lindo!!
Idílios de Mar e Sol
Cantigas de Sol e Mar
No coral da Natureza
Minha Ilha tem belezas
Vozes d'água a marulhar
Em conluios sobre a areia
Onde as ondas vão quedar
(Ah! minha doce Ilha
Canto e Poesia
Céu e Mar e Sol
Sol Mar e Luar
Ilha à Beira Mar)
B
Aqui da telejanela
Flutua deste mirante
Minha voz azulejada.
Canto abraços constelados
Nesta noite de brilhantes
No vídeo vede a novela:
Da noite, luar e estrelas
o colo em colar enfeitam
e o mar em noturno seio
fulge imagens liquefeitas!
Idílios de Noite/Mar
Sonata em coro estelar
No coral da Natureza
Um violão que plangeia
Vozes d'amor ao luar
"A glorious night and day"
Mar e. Ceu a orquestrar
(Ah!' minha trilogia
Doce maresia
Céu e Mar e Sol
Sol Mar e Luar
Ilha à Beira Mar)
II
IN AUDIO
(VOZES DA CIDADE)
Maranheia! Maranheia!
Maranheia! Maranheia!
Que o mundo vibra lá fora
E a noite ja abriu suas flores
0 tempo rebenta em luzes
A cidade ergue suas vozes...
No Ribeirão a Fonte é jorro
De música em sinfonia
Enquanto Zezé flauteia
Nas pedras de cantaria...
E o coração sertanejo
Se transplanta no azulejo
No vozear de Josias...
Ubiratan divineia
E Alcântara se alteia
No "beco da escadaria"...
Chico Maranhão pastoreia
E o toc/toc incendeia
0 coração desta Ilha
Mãe de ostras
e siris
camarões
e sururus
e caranguejos
do mangue
palmeiras e juçareiras
praia, mar, ponta d'areia...
Mara, Maranhei... eia!
Maranheia! Maranheia!
... e a Naturíssima Trindade
destilada em poesia
canta em voz de palafita e azulejo
faz apelo:
OOOõôõ "Rabo de Vaca"!
Eia!]... "Levanta a Poeira"!!
Vamos, "Pega pra Capar" !!!
QUE E HORA DE GRITAR
que esta Ilha e nossa
que este Ceu e nosso
e que é nosso este Mar
Eia! Maranhei... ah!
Maranheia! Maranheia!
Maranheia! Maranhei ... ei .
III
IN SENTIO
(CARNA(VÁL)VULA DO POVO)
É carnaval...
- Carnaválvula de escape
(de sufoco, opressão e desespero) -
Sai, meu povo... 0 frenesi te chama
A explosão dos anseios e desejos reprimidos
Em trezentos e sessenta e cinco dias/noite
Mal vivi(dormi)dos...
Sai, rasga o manto da agonia
E traveste a melancolia
Em mascaras e fantasia... Maravilha!
Vai cantando, vai gritando
Vai sambando e transmutando
Tua dor em alegria
Na alquimia da folia
Entre aljôfares de euforia
Da cachaça em maresia...
Abre o peito e ergue tua voz
Deixa escorrer o teu rio
Suor/sangue dos teus sonhos
Consumidos
Entre bolhas de ilusões
Perdidas.
Cai no ritmo, no delírio
No gingado dos teus passos
Ritmados, tresloucados...
Vai cantando, vai dançando, te alegrando
Que a Escola vai passando
E agitando... Sacodindo, eletrizando
Os átomos desta Cidade... Fecundada
Com o sémen da Liberdade... Orgasmado
No útero da Poesia... Ejaculada
No coração desta Ilha...
Derramado na Avenida
No batuque que anuncia
Nova Luz... Muita alegria
à terra de Gonçalves Dias
Carnaval...
VIVA A FOLIA!!
LEGENDAS EMBLEMÁTICAS
Dinacy Corrêa Feitosa
Quem entenderá...
a legenda desta síntese
o segredo destes óculos escuros
o emblema desta roupa nova?
Ah.' meu escudo
meu protesto
Vi meu amor...
Mirava-se em espelho azul
encantado de outros céus.
Fazia que nem me via!
Filhas de Jerusalém...
se o virem por aí, o meu amado,
gritai:
"Enquanto riem, o poeta e a nova musa,
- dois copos de coca-cola, em cada mão um misto quente-
OS FILHOS DE ISABEL PASSAM FOME!"
Página publicada em agosto de 2019
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