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CRISTOVÃO SORIANO DE MELLO

 

Nasceu em Anapuru, Maranhão, em 1-10-1887. 
Faleceu no Rio de Janeiro em 24-10-1950. 

Obras: “Soriânidas”, poesia (inédito).


 

MELLO, Anisio.   Lira amazônica. Antologia.  São Paulo: Edição do Correio do Norte, 1965.  294 p.  12,5x18 cm.  Ex. Biblioteca Nacional de Brasília, doação da família de Francisco Vasconcelos.

 

 

                SE EU PUDESSE

Se eu pudesse aos teus pés, Deusa do amor
Dizer tudo o que sinto no meu peito
E suspiro por ti, ó bela flor,
No silêncio terrível do meu peito...

Se eu pudesse o néctar tentador
Dos teus lábios de rosa todo feito
Sorver como o pequeno beija-flor
Das flores sorve o néctar sem respeito..

Se eu pudesse gozar o teu sorriso,
Relicário de Deus no paraíso,
E o meu amor com o teu correspondesse

Se eu pudesse no jaspe do teu colo
Pousar os lábios meus tal como eu colo
Nos meus sonhos de amor...  Ah! se eu puesse...

 

 

 

 

       O TEMPO DE AS COISAS

O tempo, o industrial atroz e desumano,
No seu ímpio cadinho, eterno, imenso e ardente,
Com aspecto cruel, impávido e profano,
Funde amor, ódio, riso e tudo juntamente.

O amo que ontem floria altivo, efervescente,
Sucumbe e surge o ódio e mais altivo e ufano,
E o parvo gargalhar irônico e indecente
Devora os risos bons, qual férvido Vulcano.

Eis os fatos comuns e as coisas deste mundo
E a humanidade vil com isso se consola,
Acovardada e humilde em servilismo imundo!

A mocidade, o sonho, a vida, o tempo imola...
E as verdes ilusões, num soluçar profundo,
As magras mãos estendem a suplicar-lhe esmola!

 (In: “Correio do Norte”, no. 16, - jan. 1960,
S. Paulo).

 

 

 

 

         CAPRICHOS DO MENINO ALADO

 

                    (Ao Octaviano Mello, meu irmão)

Quando a vejo, ao passar — a criatura
Que de minh´alma algures foi senhora —
Não me lembro dos tempos de ventura
Que a seu lado lhe ouvia a voz sonora!...

A sua, não fiz mais, minh´alma pura;
Nunca mais recordei o amor de outrora!
Entreguei-me, do amor, à noite escura,
Espirando, ao depois, mais bela aurora...

Mas como nesta vida de mentira
O fado contra tudo atroz conspira,
A gente, até no amor, hoje se ilude!...

Assim, hoje a vi de muito perto,
Senti meu coração não ser liberto!...
Pois esquecê-la ao todo inda não pude!...

(Manaus, abril de 1913)

 

 

 

 

Página publicada em novembro de 2020


 

 

 
 
 
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