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                   SÔNIA  MARISE Sônia Marise Teixeira Silva de Souza Campos é  de Goiás. Graduada em   Letras Modernas pela Universidade Católica e em Direito pela  Universidade Federal de Goiás.  “Então, foi uma grata surpresa  constatar, nos Guardados de Sônia  Marise, uma equação diferente e diferenciada de quantos iniciam o difícil  caminho da poesia. Instantes de assombro e encantamento, preservando,  naturalmente, um otimismo romântico, próprio da autora, que conseguiu, numa síntese  de lucidez e amadurecimento, abranger a angústia de todos os seres humanos. A  linguagem é simples, liberada de qualquer modismo, mas carregada de um lirismo  contido, preso à magia das coisas comuns que poderiam ser indiferentes a outras  pessoas], mas não ao poeta”.  MIGUEL JORGE “Estamos diante de uma autora que  desenvolveu, por meio de intuições de leituras ao longo do tempo, uma rara  consciência crítica. Neste livro de poemas [Guardados], tudo tem sua razão de  ser”.  DARCY FRANÇA DENÓFRIO   MARISE, Sônia.  Guardados. Goiânia, GO: Edição do Autor, 2005. 144 p.   ISBN 85-87635-30-1  12.5x21  cm.   “ Sônia Marise “  Ex. bibl. Antonio Miranda    DE PANELAS E VERSOS Eu me entendo bemcom as panelas
 e as palavras.
 Para cozinhare para escrever
 não pode faltar o amor
 tampouco a inspiração.
 Um bom cozidoum bom poema
 exigem do artífice,
 além da vontade,
 um certo talento
 e alguma paixão.
     SENSAÇÃO Já tomei um banhodiferente
 de estrelinhas prateadas
 cintilantes
 escorrendo geladinhas
 no meu corpo
 quando ele tomou minha mãos
 pela primeira vez.
     LIMA FOX-TROT CHARLIE, INICIE  PROCEDIMENTO Piloto doido, decole,venha aqui embaixo me ver
 venha me ouvir, sem demora
 enquanto inda possa falar.
 Preciso tanto, com pressadizer muito, muitas coisas
 que você tão duro e cético
 já não aceita existir:
 um pouco de paz, um carinho,chinelo grande, sossego,
 “papá gostoso” na mesa,
 colo pra você dormir.
 Desça, que estou cá na porta,à sua espera, contente,
 olhando pra cima, pro céu,
 de onde você, voador,
 foi viciado a chegar.
     PARA A VIZINHA  MUTILADA NO PÁTIO Para meus amigos da Celg Sibipiruna frondosa,amiga velha,
 qual foi o seu crime?
 Por acaso é de estorvo
 que acusam você?
 Sozinha no canteiro
 junto ao jardim rasteiro
 você sombreava
 refrescava
 enfeitava
 e emprestava seu verde
 para embelezar o cinzento asfalto
 do espaço dos carros.
 Agora mutilada,num fim de semana,
 sem qualquer defesa
 jaz nos entulhos
 condenada
 desfazendo o arco verde
 que formava
 com sua irmã
 do outro lado.
 E nós, da janela,
 certos de sua inocência
 inconformados ficamos
 com sua execução
 dessa forma tão sumária
 sem processo
 sem recurso
 sem clemência ou apelação.
 Por isto esses versosde amor
 e indignação
 de seus vizinhos mais próximos
 nós os advogados
 fechados
 no caixote de concreto
 aqui do lado.
     HISTORINHA –  EXPLICAÇÃO Uma vez, em criançame contaram um história
 dessas que contam aos meninos
 para explicar coisa triste.
 Disseram que todos nósao nascer deixamos
 no céu, acesa, uma vela
 que fica ardendo, brilhando
 enquanto a gente aqui embaixo
 segue seu rumo, vivendo.
 Esta velinha, explicaram,não é igual em tamanho
 para todos nós que aqui estamos.
 Por isso é que há pessoasque vivem pouquinho
 e vão embora
 enquanto uns outros,
 coitados,
 por sorte (?), sentença ou destino
 donos de velas grandonas
 atravessam o século...
 Vivendo.
   Extraídos de GUARDADOS. Goiânia:  Edição do Autor, 2005.  141 p.  |