POESIA GOIANA
Coordenação de SALOMÃO SOUSA
JOÃO LePife
Era Felipe (mas achava um nome meio broxa): faz zine, escreve poema, prosa, crônica, artigo, dissertação, piada, epopeia e sabe mentir muito bem.
SOBRE GOSTAR MENOS. Antologia POÉTICA /vol. 2/. Organização, prefácio e edição por Larissa Mundim. Goiânia, GO: Selo NegaLilu, 2019. 90 p. 14 x 21 cm. ISBN 978-85-92818-02-9 Apoio institucional da Prefeitura de Goiânia.
SEM TÍTULO 1
Todas as glândulas do corpo humano
Têm dificuldades em aceitar alguns detalhes.
Ao contrário do que pensam, elas não são complexadas.
Falta de vitamina no sangue, na pinga, na cachaça.
Todas elas produzem som.
Todas elas produzem com uma variedade inimaginável de
células-cédula-medula
Interligadas pro um fio de louro
por um fim-agouro.
Nessa linha tênue, sou o corpo na fila do banco de insulina.
Evolução é um papo antigo que gira a cabeça dos presentes.
Um dia todas as evoluções dos pandemônio-glândulas serão
imutáveis.
Conjunto de bilhões de anos nus.
Dos trilhões de ânus luz.
Um bolo de gametas pra comemorar o aniversário de alguém
cujo
nome não passa.
Arma biológica causa danos consideráveis na fauna, na flora,
na tua,
na minha radiação.
Raios-gama-em-mim. Pega na minha. Raio X-de-tudo.
Abiogênese.
E lá vão traumas e tremas e chuvas ácidas. Surto. Auto
aceitação.
Não tenho mais condições para esse niilismo. Queda na bolsa
de valores.
Queda que você tem por mim. Queda no World Trade Center.
Surto de Césio de 87.
Tudo em rota de colisão. Crise da Modernidade. Bomba em
Hiroshima.
Bomba de sangue chamada coração. Tenho problemas renais
e me
faltam bombas para
bombear água nos meus rins. Acidente intracelulares.
Fim de uma meia-vida dos acidentes radioativos.
Fim de um poema com surtos infindáveis de realidade.
SEM TÍTULO 2
Atualmente, me encontro
Perdido, amado, solto, fugido
Viver inspira
O pulmão talvez respira, morre
Meu deus, essa vida sem fim nem início
Só vai indo e indo e num piscar de olhos
O trem já passou
De relapso, atrasado, me atraso
Com os pássaros
O vento vem indo e indo
E vou vindo,, ouvindo o canto
Pasmo da vida num álibi imoral
Corro do risco de viver
Fujo dos que viveram
Vi o Sol ver a Lua se pôr
Nua ao meu lado sem riso, sem pudor
Vi todos os malandras serem enterrados pós vida
Eu só quero nascer do botão de uma
Rosa vermelha
E morrer no colo de que já amou.
Página publicada em fevereiro de 2020.
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