POESIA GOIANA
Coordenação de Salomão Sousa
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ITAMAR PIRES
Nasceu em Goiânia (GO) em 10.10.1960. Foi Secretário de Cultura de Goiânia, e Diretor do Instituto Goiano do Livro. Gerente de Comunicação da Secretaria de Ciência e Tecnologia de Goiás. Foi um dos criadores do antigo Fórum Goiano de Cultura. Diretor de Televisão da Fundação Rádio e Televisão Educativa e Cultura. Detentor dos Prêmios Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, da Prefeitura Municipal de Goiânia e Bolsa de Publicações José Décio Filho, do Governo do Estado.
Bibliografia: LIVRO DE HEITOR (1990), A ARTE DE PINTAR ELEFANTES(1994), entre outros.
SOMBRAS
Sombras que passam, meu filho,
São os mortos voltando para casa.
Cansados, vêm da morte antiga
Vão para o fim da rua
Dobrar a esquina quieta
Onde cantam as donzelas da lenda.
Não os atrapalhe, não os invoque, não.
Contam longos casos, não os ouça.
Mortos e vivos respondem
Mesma pergunta, nada perguntes.
Não vale a pena.
Por que tentá-los?
Cantam tão baixo quanto a brisa
A degolar o orvalho.
Um rio que desliza —
Deslizam.
Ninguém além da noite que cai,
Trespassada, ferida
Pela imagem da lua que nasce,
Imagem da lua que nasce, apenas.
Não creia em lenda.
MADONA
Tecelã da vertigem e do acaso,
Do tenso equilíbrio com que galgamos
A escadaria do sonho e do assombro,
Paixão que condena todos os signos.
Paixão das coisas inertes,
Pesada água que Hades verte,
De luz e pânico desprovida,
Arranca a roupa fungosa de nossa culpa
Que incendeia o cordeiro
Ao ser pelo Tigre aniquilado.
Senhora de ternos olhos,
Onde repousa o ódio
De todos os deuses ancestrais,
Decoro os infinitos nomes
Em que ocultas teus secretos
Desígnios e revelas a chave
E revelados já não servem de nada,
E nada serve a nada,
Em fogo consumos teu ídolo
E nos perdemos na estrada imperial
Do acaso e da imagem.
A LENDA
Governam a nau infantes couraçados
A nau que parte entre sombras e estandartes.
Ao que sangra que se brinde
Ao que agonize nesta nau.
À morte, ao motim, ao vento
A Insígnia tudo trespassa — aberta.
Além a angra do bem, do mal,
Quis o fado fosse a nau-idéia.
Evita os portos desfrutados.
O mar, não como mercado.
Hão de padecer sede, beber água podre,
Ter frio nos dentes, ver coisas.
Onde outras coisas
Existem — imperceptíveis.
Consola teu choro
Com a esmola do sol a pino.
A morte canta a vitória: nenhum escapará…
Sabe a Morte de recifes, tempestades,
Da lenda, nunca saberá.
LÍRICA II
Todos os corpos de todos amantes.
Todos corpos, toda face,
Vibram, gongo de ouro
Através do compacto, do espesso,
O perdido amor retorna.
O coração estoura e bebemos,
Bebemos até perder o senso,
O senso uma aranha
Com economias no banco
E banimos a última poção de enfado.
Página publicada em janeiro de 2010
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