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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POESIA GOIANA
Coordenação de Salomão Sousa
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ITAMAR PIRES

 

 

Nasceu em Goiânia (GO) em 10.10.1960. Foi Secretário de Cultura de Goiânia, e Diretor do Instituto Goiano do Livro. Gerente de Comunicação da Secretaria de Ciência e Tecnologia de Goiás. Foi um dos criadores do antigo Fórum Goiano de Cultura. Diretor de Televisão da Fundação Rádio e Televisão Educativa e Cultura. Detentor dos Prêmios Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, da Prefeitura Municipal de Goiânia e Bolsa de Publicações José Décio Filho, do Governo do Estado.

Bibliografia: LIVRO DE HEITOR (1990), A ARTE DE PINTAR ELEFANTES(1994), entre outros.

 

 

SOMBRAS

 

Sombras que passam, meu filho,

São os mortos voltando para casa.

 

Cansados, vêm da morte antiga

Vão para o fim da rua

Dobrar a esquina quieta

Onde cantam as donzelas da lenda.

 

Não os atrapalhe, não os invoque, não.

Contam longos casos, não os ouça.

Mortos e vivos respondem

Mesma pergunta, nada perguntes.

Não vale a pena.

 

Por que tentá-los?

Cantam tão baixo quanto a brisa

A degolar o orvalho.

 

Um rio que desliza —

Deslizam.

Ninguém além da noite que cai,

Trespassada, ferida

Pela imagem da lua que nasce,

Imagem da lua que nasce, apenas.

Não creia em lenda.


 

MADONA

 

Tecelã da vertigem e do acaso,

Do tenso equilíbrio com que galgamos

A escadaria do sonho e do assombro,

Paixão que condena todos os signos.

Paixão das coisas inertes,

Pesada água que Hades verte,

De luz e pânico desprovida,

Arranca a roupa fungosa de nossa culpa

Que incendeia o cordeiro

Ao ser pelo Tigre aniquilado.

Senhora de ternos olhos,

Onde repousa o ódio

De todos os deuses ancestrais,

Decoro os infinitos nomes

Em que ocultas teus secretos

Desígnios e revelas a chave

E revelados já não servem de nada,

E nada serve a nada,

Em fogo consumos teu ídolo

E nos perdemos na estrada imperial

Do acaso e da imagem.


 

A LENDA

 

Governam a nau infantes couraçados

A nau que parte entre sombras e estandartes.

 

Ao que sangra que se brinde

Ao que agonize nesta nau.

 

À morte, ao motim, ao vento

A Insígnia tudo trespassa — aberta.

 

Além a angra do bem, do mal,

Quis o fado fosse a nau-idéia.

 

Evita os portos desfrutados.

O mar, não como mercado.

 

Hão de padecer sede, beber água podre,

Ter frio nos dentes, ver coisas.

 

Onde outras coisas

Existem — imperceptíveis.

 

Consola teu choro

Com a esmola do sol a pino.

 

A morte canta a vitória: nenhum escapará…

Sabe a Morte de recifes, tempestades,

 

Da lenda, nunca saberá.

 

 

LÍRICA II

 

Todos os corpos de todos amantes.

Todos corpos, toda face,

Vibram, gongo de ouro

Através do compacto, do espesso,

O perdido amor retorna.

O coração estoura e bebemos,

Bebemos até perder o senso,

O senso uma aranha

Com economias no banco

E banimos a última poção de enfado.

 

Página publicada em janeiro de 2010

 

 

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