POESIA GOIANA
Coordenação: Salomão Sousa
COELHO VAZ
Geraldo COELHO VAZ nasceu em Goiânia, em 24 de setembro de 1940. Formado em Direito. Autor de diversos livros de poesia e membro da Academia Goiana de Letras.
ANTONIO POTERO
Barros e mãos
se misturam
na barba branca
do poeta Poteiro a sujar,
silenciosamente,
a matéria colorida.
Mãos que não imploram.
Sonham,
sonhos
na quietude do trabalho
e no êxtase
a modelar rosto.
Não há dor
nem pranto.
Esconde-se na varanda
em meios portugueses
do bem-vindo
e do bem-chegar.
Texto e imagem extraídos da obra VINTE POEMAS E DESENHOS ILUMINADOS, do poeta Geraldo oelho Vaz e do artista plástico José Coelho Vaz. Goiânia: Editora Kelps, 2006
VAZ, Coelho. Águas do Passado. Goiânia: Secretaria de Cultura e Desporto do Estado de Goiás, 1986. 94 p. ilus. 14x21 cm “ Coelho Vaz “ Ex. bibl. Antonio Miranda
TEMPO-ESPAÇO
Eu quis morar
longe das estrelas
e viver a vida
na sombra do mundo.
Passaram
os sorrisos da mocidade,
as alegrias das serenatas,
os realejos da vida,
as retretas das praças,
as procissões da cristandade
e os encontros furtivos
atrás da Velha Matriz.
Não vi a realidade
no tempo-espaço.
Quando olhei as estrelas
já não mais existiam
e fiquei na sombra do mundo
vivendo por viver.
VAZ, Coelho. Mensagem Livre (Poemas). 2ª. edição. Goiânia, GO: Instituto Goiano do Livro, Departaemnto da Cultura, 1971. 82 p. 12x18 cm. Capa e ilustrações: Iza Costa “ Coelho Vaz “ Ex. bibl. Antonio Miranda
“Poemas Errantes”
“... estava dormindo
e não acordou mais não”.
(Afonso Felix de Sousa)
a Wilson Mesquita Vaz
Te buscar num dia de hoje
de céu azul e águas claras.
Pássaros correndo espaço.
Árvores balançando e
vento levando mensagem
de tristeza perdida para infinito.
Te buscar numa tarde
sem nenhuma cerimónia.
Sem nenhum aviso de pássaros,
ou de prévia lembrança,
ou de sentimento cristalino.
Te buscar num dia assim como este.
Num dia todo especial
de tarde tranquila e quente
e levar aos céus
para junto, confundir com os anjos.
Te buscar num dia de hoje,
assim triste e numa tarde triste,
levando saudades
e deixando, assim
casa triste de eterna tristeza.
VAZ, Coelho. Corpo noturno. Goiânia, GOI: Edicões Consorciadas – UBE-Goiás, 1990. S.p. 10,5x21,5 cm. Capa: Alcione Guimarães. “ Coelho Vaz “ Ex. bibl. Antonio Miranda
07
Meu canto,
falo
insatisfeito,
fundo,
profundo
nas águas
de tua solidão.
A POESIA GOIANA NO SÉCULO XX (Antologia) – Organização, introdução e notas de Assis Brasil. Rio de Janeiro: FBN / Imago / IMC, Fundação Biblioteca Nacional, 1998. 324 p. (Coleção Poesia brasileira) ISBN 85-312-0627- 3 Ex. bibl. Antonio Miranda
MENSAGEM LIVRE
I
Não será da tarde
que farei meu poema.
Nem do sol
farei minha canção.
Do sal da terra
argamassa, areia,
estrume e viola
farei com carinho
poemas de amor.
Dos olhos de minha amada
e de tristezas
brotarão da terra
meus poemas e canções.
Cantarei na viola
existência de homem
que luta pelo seu dia,
canta alegria
e não espera por esperar.
Farei minha canção
do al da terra
poemas de amor.
(Mensagem livre/ 1971)
MEMÓRIA
Trago na minha memória
coisas de longes tempos:
A timidez de minha vizinha
e o tropel de cavalos na rua esquecida
de minha infância.
O sorriso puro de minha mãe.
A alegria contagiante de meu pai.
Trago na minha memória
figuras de longe tempo.
Muitas delas jazem no esquecimento.
Outras não as vejo,
mas as tenho dentro de mim.
Brotam e desabrocham
em gesto de longa data.
Trago na minha memória
lembranças da pequena cidade.
Sua iluminação na praça principal
e o frio que gela os músculos.
O chocolate quente do bar do coreto
as papoulas orvalhadas
e os gerânios que embelezam e perfumam
o jardim noturno da cidade.
Trago na minha memória
as coisas que jamais morreram em mim.
(Àguas do passado/ 1986)
*
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Página ampliada e republicada em maio de 2022.
Página publicada em fevereiro de 2009; página ampliada e republicada em julho de 2015. |