Foto de Admilson Ferreira

CÁSSIA FERNANDES

Lucivânia de Cássia nasceu em Pontalina de Goiás, mudou-se para Goiânia para seguir os estudos. Estudou Letras na Universidade Católica – hoje PUC-GO, em 1989, mas foi pra o Jornalismo na Universidade Federal de Goiás, graduando-se em 1997. Viveu em Paris no início do século. Publicou artigos no jornal O Popular. Abriu o blog Almofariz em 2005.

FERNANDES, Cássia. Almofariz do tempo. Goiânia, GO: Pantheon, 2016.  126 p. 11x15,5 cm. Projeto gráfico: Luana Santa Brígica, capa Carlos Sena e Larissa Mundim. ISBN 978-85-92605-01-8  Tiragem: 1000 exs.   “Cássia Fernandes”  ex. Bib. Antonio Miranda

          ENCONTRO

          A vida anda tão corrida,
          que o encontro marcado
          com a amiga
          é no supermercado
          enquanto faço as compras do mês.
          Ela me conta seu dia,
          eu reclamo do ex.
          Enquanto escolho as batatas,
          ela narra os casos de amor e de família.
          Discutimos os temas em alta.
          Declaro que me sinto só,
          enquanto ela me recomenda
          a melhor marca de sabão em pó.
          Falamos sobre o tempo
          e sobre a vida.
          Viu como as maçãs estão bonitas?
          E como vai sua prima?
          E tomamos
          um café
          que a demonstradora da nova marca
          nos oferece ali em pé.
          Ela tenta me ensinar uma receita
          que eu não terei tempo de fazer.
          Você não esqueceu da manteiga?
          Não precisa levar ovos?
          Passemos no caixa
          e os encontraremos logo.
          Você está na minha lista.
          Não me esqueço de você.

          ANTE UM LEITO BRANCO MOÍDO E MASTIGADO,
          COM UMA ESTRELA ESCARLATE

          Os lençóis da insônia.
          Os lençóis de quem ama.
          A mancha de sangue.
          O pacto de sangue.
          Os crimes de amor.
          Os suplícios do amor.
          Apenas o pernilongo.
          O amor em seu berço
          e em seu leito
          de morte e recomeço.
          Duas cabeças sujas
          na mesma fronha.
          As inquietações de quem sonha.
          O amor ao travesseira.
          O virol revirado
          de prazer solitário e desespero.
          Apenas o vermelho
          de mais um mês
          tingindo a cama.

Página publicada em junho de 2016