POESIA GOIANA
Coordenação de SALOMÃO SOUSA
ADALBERTO DE QUEIROZ
É jornalista por formação e poeta. No final da década de 70, participou das antologias “ Qorpo Insano” e “Veia Poética”. Em 1985, lançou “Frágil Armação (Poemas)” e, desde 2002, publica regularmente blogs com temas culturais, religiosos e filosóficos – preferencialmente no blog http://betoqueiroz.com. Lançou em novembro de 2014 o livro intitulado “Cadernos de Sizenando” (poemas & crônicas). Em 2016, lança mais um livro de poesia – "Destino Palavra”, que tem posfácio do mestre (Doutorando) em Letras e poeta Francisco Perna Filho. Capa e projeto gráfico são de Mário Zeidler Filho, com Edição Em 2015, organizou grupo de debates e divulgação de literatura no facebook e, ao final, coordenou e publicou “Literatura Goyaz: Antologia 2015”, com 45 escritores goianos, um livro de poemas e contos, pela Edit. Livres Pensadores/Gráfica PUC, 156 p.
Adalberto de Queiroz foi empossado como membro na Academia Goiana de Letras – cadeira n. 52, em 2019, recepcionado por Brasigóis Felicio, com as devidas honras:
QUEIROZ, Adalberto de. O rio incontornável. Itabuna, Bahia: mondrongo, 2017. 76 p. Capa: Ulisses Góes. ISBN: 978-85-93552-54-0
Nascentes (II) – Goyaz
No outono da vida o sol do cerrado
seca as mesmas sementes — sol a pino;
sementes de abóbora comidas assadas,
coisas de antanho com igual desatino.
Cajá-manga devorado com sal, à sexta hora
o gosto arcaico na boca desata o sonho —
feito pamonhas ao leite ou tortas de amora,
só o torniquete do acerbo deixa tristonho
Minha avó comendo manga com faca
nas tardes de outrora, espectro se evade:
uma sombra morna no sonho somos.
Lembrança similar aperta de mansinho
a segunda costela à sinistra do sono;
— Esquecer, dormir, sonha quem há de?
QUEIROZ, Adalberto de. Frágil armação: poemas. Prefácio por Brasigóis Felicio. Goiânia: Editora Barão de Itararé, 1985. 133 p. Capa: desenho de Zello Visconti, arte e Doriocan Dias Vasconcelos. Miolo e capa impresso em verde.
Os deuses são
a vontade humana de
eternidade
que deu certo.
Implacável
resistência
a de Prometeu
Acorrentado
um rebelde obstinado
pode ceder
mas resiste firme à
tirania dos fatos.
Então Shelley cantando
Goethe e Ovídio
libertados
homens são deuses
se me calo.
NÉON
"meu destino é miúdo,
é um caquinho de vidro na poeira"
(Adélia Prado)
O que sou não me pertence por inteiro
são notas que sobem pelas paredes, apenas
sopro tocado na palheta, a boquilha molhada
grossa saliva inundando a noite.
O que sou inteiro não me pertence:
brilho de vidros, cristais derramados
no asfalto, sob a luz do néon publicitário.
É a presença clara de quem teme os fatos
encarados de imediato e, ao chofre do estalo,
prefere ver-se, de soslaio, em espelho embolorado.
O que sou: fonemas abertos, concertos barrocos,
sem nenhuma tempestade aclarada
Sou o que teme o escuro - temor de fato.
FLOR IMEDIATA
No quarto de hotel, ela
passeia sua nudez
como quem rega um jardim;
e eu nada vejo que não floresça.
Do estreito triângulo ao limite
dos seios, sugo a paixão, flor em fogo
brando, ao poeta consumindo.
Filha e irmão, parceiro e gueixa,
dividimos a companhia do 906,
em projetos de ontem, espinhos
futuros - flor imediata.
Anima divina, mãe, pitonisa e maga
decifra-me os atos, antes que tarde:
- Na ampulheta do corpo o tempo
se esgota célere e o prazer escorre:
areia velocíssima.
E, num segundo, vadeamos o espaço
de crianças solitárias, com medo da cidade,
em vário instante transportados
ao reino da primavera
por faunos e musas visitados.
QUEIROZ, Adalberto de. Destino palavra. Goiânia, GO: Edição do Autor, 2016. 85 p. 13x18 cm. ISBN 978-85-921601-0-4 13x18 cm. Capa e projeto gráfico Mário Zeidler Filho Ex. bibl. Antonio Miranda
NU (UN)
De toda veste despido com a roupa da alma se vê — de toda máscara, de toda persona de toda leitura
de todo orgulho rompido; destituído — Despiram-no banharam-no para a passagem.
Quintana fraternalmente o cond "Quanto mais nu, mais Tu!”
Ouve a voz antiga de Georges (Bernanos, o francês errante) -no leito de morte:
— "Pai, agora somos
só nós dois..."
EMOÇÃO
Vivia de escrever difícil e até ilegível,
Rabiscos sem uso, brilho ou serventia.
Seu sonho: escrever claramente fluído.
À noite a palavra disparava na mente;
Sem retoques: a mão incontida sobre
A página em branco: sem máquina
Ativa; sem teclado, tabuinha — hieróglifo.
Nu feito santo ao desabrigo do frio.
Um brilho novo a cada capítulo.
Uma resenha a cada canto — épico:
Um herói novo recriado sem pranto.
De dia, era outra história. A espremer
O cérebro vazio, alma no corpo retida.
Ausente do corpo a alma tem sentido?
Se da página escapa luz, eis o desatino.
Acontece ao vivente — já não se sabe
Do morto se general ou diplomata;
Se pedreiro ou arquiteto; sabe-se
Que não passa de um corpo vazio
De sentido ou história; de música,
Artimanhas, blague, ou obra de serventia.
Assim é a escrita do século perdido:
Nublada a clareza do pensar, vira búzio
Oco; nuvem negra, névoa que obnubila.
O ÚLTIMO POEMA, À MANEIRA DE MANUEL BANDEIRA
Assim, triste há de ser; curto e doce e terno.
Que seja breve dizendo tudo.
Que seja doce confeito de manhã eterna.
Que seja belo feito água de cachoeira.
Que a pureza o invada: morte indolor.
Da febre curado, como o que ao mar enfrenta incólume.
QUEIROZ, Adalberto de. QORPO INSANO. Porto Alegre, RS: 1977. 108 p.. ilus. 14x21 cm. ISBN 978-85- 400-1588-3 Ex. bibl. Antonio Miranda
LITERATURA GOYAZ. Antologia 2015. Adalberto de Queiroz, org. Goiânia, GO: Ed. Livres Pensadores, 2015. 160 p. Capa: Thálita Miranda. ISBN 978-85-69024-05-7 Ex. bibl. Antonio Miranda
NU
(UN)
de toda veste despido
com a roupa da alma se vê —
de toda máscara
de toda persona
de toda leitura
de todo orgulho
rompido;
destituído —
Despiram-no
banharam-no
para a passagem.
Quintana fraternalmente o conduz —
"Quanto mais nu, mais Tu!"
Ouve a voz antiga de Georges
(Bernanos, o francês errante)—
no leito da morte:
— "Pai, agora somos
só nós dois..."
QUEIROZ, Adalberto. Cadernos de Sizenando. Goiânia: Kelps, 2014, 184 p. 13x21 cm. Capa: rquadro de Leonam Fleury. ISBN 978-85-400-1130-4 Ex. bibl. Antonio Miranda
ÁGUA LIMPA
Se da água limpa dos rios,
o poeta alcança - incólume
as fontes d agua viva...
Oh! claro lume:
bebe em sanga clara.
Bebe c'o as mãos
na vertente rara
sequioso estro.
Não se abaixa
A flor d'agua,
Feito um cão:
Lambendo a água.
Agora, o poeta é
De Ottoniel, soldado
Não colhe a água
na palma da mão.
Pronto pra guerra,
bebe e proclama:
— Eis a Água!
Água da chuva sempre exata.
Água da fonte sempre basta
A água que a todo fogo apaga
Água límpida: minha sede mata.
Veja também o E-BOOK: https://issuu.com/antoniomiranda/docs/adalberto_de_queiroz
QUEIROZ, Adalberto de. chuva feito enxame de abelhas. Goiânia: Edição do Autor, 2016. Folha dobrada em quatro folhas. Projeto gráfaico e execução: Mário Zedler Filho. SEdição limitada de 7 exemplares? Ex. bibl. Antonio Miranda
Página publicada em dezembro de 2012; ampliada em dezembro de 2016; ampliada em junho de 2017
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