MIGUEL DEPES TALLON
(1948-1999)
Poeta, romancista, historiador e advogado espírito-santense, professor universitário da UFES, nasceu em Cachoeiro do Itapemirim. Sua obra poética principal foi reunida e publicada em 1999, pelas Edições Galo Branco, do Rio de Janeiro, com o patrocínio do Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santo, instituição que teve o homenageado como presidente. Um exemplar da referida obra AS RÃS DE BASHÔ E OUTROS POEMAS” —, de onde extraímos os poemas a seguir, foi doado à Biblioteca Nacional de Brasília pelo poeta Aricy Curvello.
INUTILIDADE
Para Henrique Geaquinto Herkenhoff
Eis que salta a rã
contra o espelho. Nada encontra.
Tentativa vã.
PESCARIA
No ribeirão,
piabas pescadas
com iscas de pão.
PAPAGAIO
O papagaio era do padre,
Mas só dizia palavrão.
MORAL
Para Luis Guilherme Santos Neves
Em Itapemirim,
o juiz proibiu
vender galinha
de cabeça para baixo.
PARQUE EM MARATAÍZES
“João Carlos oferece esta música
a Maria Helena,
como prova de alta estima
e bem querer.”
PROPRIEDADE
Mais que a cerca
mais que o arame farpado,
a arrogância da porteira.
SEU ZEZINHO
Para Josafat Joaquim Costa
Campo do Estrela.
Os meninos aprendem
os rudimentos do futebol.
Quando o sararazinho prende a bola,
Seu Zezinho perde a paciência:
“—Passa a bola, menino.
Quer ganhar o jogo sozinho?”
VELHO MENTIROSO
Para Joemar Dessaune
O pai de Fiel era tão mentiroso,
mas tão mentiroso.,
que costumava dizer,
que tinha chegado a Cachoeiro
quando o pico do Itabira
ainda era pequenino.
MURÇA
O pexoal de Murxa
não gosta que digam
que murxense tem xotaque.
Página publicada em janeiro de 2008 |