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LENA JESUS PONTE
Lena Jesus Ponte nasceu em Vitória (ES), em 1950. Filha de Luiz Simões Jesus e Itagilca Ferreira Jesus,
reside no Rio de Janeiro. Professora de Língua Portuguesa, lecionou em escolas da rede municipal de educação e no Colégio Pedro II.
Teve poemas incluídos na revista Poesia Sempre (número 17), da Fundação Biblioteca Nacional, e na Revista Brasileira (número 37), da Academia Brasileira de Letras. Integra a Antologia de escritoras capixabas, organizada pelo professor Francisco Aurélio Ribeiro, da Universidade Federal do Espírito Santo; a coletânea Páginas da infância, organizada por
Elza Rodrigues; os volumes I e II da coletânea O correio, edições anteriores; a coletânea Haicais ilustrados, organizada por P.R. Cecchetti (Nitpress), a Antologia literária da ANE, Antologia I FEC de Poesias, organizada por Raymundo Nery Stelling Júnior e o O cotidiano em prosa e verso – II coletânea quatiense. Escreveu, com Nadya Ferreira Jesus, o Caderno do Professor “Guerra e Paz – Portinari” e 2 Cadernos do Professor “Portinari – Arte e Meio Ambiente”, com Nadya Ferreira Jesus, Suely Avellar e Isabel Reis, pelo Projeto Portinari.
Livros da autora: Meu mundo, Revelação, O corpo da poesia, Estações interiores - haicais, Paçoca: a foca que sonhava em ser poeta, Na trança do tempo - haicais, Ávida palavra, Arca de Haicais e Passeio poético por Niterói.
DESCONCERTO
Morte sem aviso. Bala perdida estilhaça a tarde.
Cai o sol em cacos.
Um susto grita e o eco responde sem rima.
A vida chama e o eco não responde.
Escorre a secura da alma
para um mar deserto.
(De Ávida Palavra, RJ: Editoração, 2007)
Extraído de
POESIA SEMPRE. Revista semestral de poesia. Ano 10. Número 17. Dezembro 2002. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 2002. 260 p. ilus. col. Editor geral Marco Lucchesi. ISSN 0104-0626 Ex. bibl. Antonio Miranda
Soneto volátil
Pra onde vão os seus olhos, pra que portos de fuga,
ariscos galopes em savanas africanas
Pra onde escorre esse rio sem leito, incontido,
por que grotas se infiltra, rolando entre seixos ?
Por que estranhos planetas seus olhos viajam
de inabitáveis mundos, inóspitas paisagens ?
Em que profundos universos abissais
nadam fosforescentes enguias submarinas ?
Como escapam, mercúrio, dos dedos fugindo...
Segredos ou medos por trás das cortinas
preservam cativos sentimentos despidos.
Saltitam seus olhos por sobre reticências...
não param no ponto onde habitam meus olhos,
meninos aflitos rompendo distâncias...
Neve sobre brasa
A pele da matéria viva
descasca ao sol.
Sem protetor, se expõe por inteiro
a cidade suadas, em carne viva.
Um câncer social se adivinha,
se avizinha. As calçadas gritam.
Em gabinetes refrigerados,
o ar condicionado dos economistas
transforma em estatística
o que se mostra víscera.
Agoniza o corpo urbano
sob o olhar gelado das teorias.
Página publicada em agosto de 2018
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