N U V E N S
Alargam asas
no espaço
grandes pássaros brancos
leves estratos
levados na impaciência
do vento
artista de ambíguas intenções
sob eólica magia
transmutam-se fugazes,
seres concebidos para anoitecer
anões em risos silenciosos
bocejam adeus ao sol
rasgão vãos entre cúmulos
espiam a última
flama do dia.
Entre monges e monstros
desvanecem-se longamente
uns longes de rosa-pálida.
(Esparsas, rotas,
alma de anjos
acidentados).
Cavalgando cimos,
cem donzelas entornam cântaros
sacam mil carneirinhos:
(na ponta do arco-íris
pote de ouro enterrado).
Dançam fantasmas em fiapos
investem velhos profetas
em barbas de algodão.
Além, ao poente,
chispam agonia
família de dragões.
(Revejo, num átimo,
tua face em relevo).
Tinhas um quê indefinível:
fluidez da água
altivez de cirros.
Na ardência das pupilas
iscas de tormento:
ânsias inexplicáveis
vagos temores
se o olhar errante
em variadas nuances
fugia de mim.
Tortura íntima
busco por ti.
— Sombra e presença —
Estás e não alcanço
como névoa na lembrança
como nimbos na alma.
À procura de endereço
percorrem avenidas
de arco-íris
palavras não ditas
grito amordaçado.
Soçobram cores
em desmaio
silêncio na paisagem.
Sonho perdido
na tarde mansa
a escorrer entre dedos
inertes de espantos.