Foto: https://www.metropoles.com/
REINALDO LOBO
Poema extraído do CORREIO BRASILIENSE, da matéria intitulada “Corregedoria devolve inquérito de delegado poeta por estar fora do critério”, reproduzida pela versão digital do jornal do dia 04/08/2011 [https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades]
“Um delegado de Brasília surpreendeu colegas e autoridades do Distrito Federal ao relatar um crime. Reinaldo Lobo, plantonista da 29; Delegacia de Polícia (Riacho Fundo), fundamentou, em forma de poesia, a prisão de um homem indiciado por receptação e encaminhou à Justiça. A intenção era fazer um trabalho diferente e proporcionar uma leitura mais agradável, mas o documento acabou devolvido pela Corregedoria-Geral da Polícia Civil para ajuste da redação.
A inspiração para os versos surgiu em 22 de julho, quando policiais militares trouxeram, na viatura, um criminoso conhecido pela extensa ficha corrida...”
(...
O delegado, que também é professor de direito na Universidade Federal de Goiás (UFG), não esperava tamanha repercussão e disse que vai tentar dialogar com a Corregedoria da Polícia Civil para verificar a possibilidade de seus relatórios inspirados serem aceitos. Por ora, ele preferiu repassar o documento devolvido para outro colega refazê-lo.
O relatório do delegado
Já era quase madrugada
Neste querido Riacho Fundo
Cidade muito amada
Que arranca elogios de todo mundo
O plantão estava tranquilo
Até que de longe se escuta um zunido
E todos passam a esperar
A chegada da Polícia Militar
Logo surge a viatura
Desce um policial fardado
Que sem nenhuma frescura
Traz preso um sujeito folgado
Procura pela Autoridade
Narra a ele a sua verdade
Que o prendeu sem piedade
Pois sem nenhuma autorização
Pelas ruas ermas todo tranquilão
Estava em uma motocicleta com restrição
A Autoridade desconfiada
Já iniciou o seu sermão
Mostrou ao preso a papelada
Que a sua ficha era do cão
Ia checar sua situação
O preso pediu desculpa
Disse que não tinha culpa
Pois só estava na garupa
Foi checada a situação
Ele é mesmo sem noção
Estava preso na domiciliar
Não conseguiu mais se explicar
A motocicleta era roubada
A sua boa fé era furada
Se na garupa ou no volante
Sei que fiz esse flagrante
Desse cara petulante
Que no crime não é estreante
Foi lavrado o flagrante
Pelo crime de receptação
Pois só com a polícia atuante
Protegeremos a população
A fiança foi fixada
E claro não foi paga
E enquanto não vier a cutucada
Manteremos assim preso qualquer pessoa má afamada
Já hoje aqui esteve pra testemunhá
A vítima, meu quase chará
Cuja felicidade do seu gargalho
Nos fez compensar todo o trabalho
As diligências foram concluídas
O inquérito me vem pra relatar
Mas como nesta satélite acabamos de chegar
E não trouxemos os modelos pra usar
Resta-nos apenas inovar
Resolvi fazê-lo em poesia
Pois carrego no peito a magia
De quem ama a fantasia
De lutar pela Paz ou contra qualquer covardia
Assim seguimos em mais um plantão
Esperando a próxima situação
De terno, distintivo, pistola e caneta na mão
No cumprimento da fé de nossa missão.
***
Riacho Fundo, 26 de Julho de 2011
Delegado REINALDO LOBO
63.904-4
Poesia de CORDEL
Página publicada em agosto de 2020
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