NEWTON ROSSI
(1926-2007)
Mineiro de Ouro Fino, Newton Egydio Rossi nasceu em 29/09/1926. Mas foi criado em Pouso Alegre, onde passou a juventude e fez os estudos primários e secundários. De lá, transferiu-se para Belo Horizonte, onde se formou em Jornalismo e iniciou-se no mundo das letras. Trabalhou em jornais, revistas e emissoras de rádio, como redator e locutor. No fim da década de 1940, participou do movimento literário mineiro ao lado de Celso Brant, com quem criou a Revista Acaiaca. Nessa época, conheceu Juscelino Kubitschek de Oliveira, de quem se tornou amigo e colaborador, e que mais tarde o traria para Brasília, cuja construção estava ainda no início.
Em Brasília, Newton Rossi fundou a Federação do Comércio do Distrito Federal (Fecomércio), a qual presidiu por 24 anos, de 1970 a 1994. Fundou também A Casa D´Itália, que presidiu por três mandatos. (Em 2006, reassumiu a presidência já em combate à doença que minara sua saúde, com a firme determinação de levar mais atividades literárias para aquele espaço onde funciona também o Teatro Goldoni.) Como empresário, administrador, político, professor, orador, poeta e jornalista, Newton Rossi exerceu variados cargos, tanto na área pública quanto na área privada.
Faleceu em Brasília na noite de 26 de agosto de 2007, deixando a viúva Dona Ninon, os filhos Wagner, Márcia e Gleno, e os netos Rafael, Felipe e Priscila.
Bibliografia: Trovas no Caminho, 1955; Alma da Rua, 1997; Trovas Escolhidas, 2003; e Sextilhas para Reflexão, 2004. Deixou um livro de sonetos inédito. Participou de diversas antologias poéticas, e é autor do famoso poema “Oração dos que não sabem rezar”, traduzido para 15 idiomas.
Resenha crítica:
“Hábil versejador e conhecedor notável da língua portuguesa, Newton Rossi tem praticado em seus vários livros os metros regulares com predomínio da redondilha maior, que manobra com maestria. É principalmente um excelente trovador, com algumas peças admiráveis inseridas recentemente em seu livro Trovas Escolhidas.” Antonio Carlos Osório
“Como poeta, pode-se dizer que se tratava de um grande conhecedor da arte de Camões e de Virgílio. Newton Rossi conhecia profundamente versificação e todos os apetrechos técnicos da metrificação. Era, antes de tudo, um esteta, que só pensava em versos medidos. E isso talvez tenha acarretado para a sua figura, nos meios ditos modernos, o estigma de uma postura de poeta romântico e passadiço. No mundo em que vivemos os poetas bem dotados de inteligência e de refinamento técnico dificilmente são perdoados.” João Carlos Taveira
“Newton Rossi, desde que o conheço, e o conheço desde quando passeávamos a nossa juventude na Rua da Bahia e na Avenida Afonso Pena, em Belo Horizonte, tem professado também as suas crenças cívicas. Para ver o mundo com sua beleza, quer vê-lo também com sua justiça. Cidadão, crente em Deus e em suas criaturas, líder empresarial, jornalista, Newton é, na personalidade do homem que contempla o universo com o sonho da paz, um Poeta.” Mauro Santayana
ROSSI, Newton. Alma da rua. Brasília, DF: Paralelo 15,1997. 196 p. (Coleção Presença) 15,5x23 cm. Capa, editoração eletrônica e diagramação : Estudio Entidade Visual sobre desenho de Zevallos. Ilustrações de Zevallos. “ Newton Rossi “ Ex. bibl. Antonio Miranda
Oração dos que não sabem rezar
Senhor!
Que estas palavras, que não dizem tudo,
Possam chegar um dia aos Teus ouvidos!
Chegar como quem chega sem bater à porta...
Sem roupa nova, sem nenhum requinte
E sem mesmo saber como chegou!...
Que o ódio seja extinto pela paz.
Que haja compreensão e tolerância,
Que os povos se entendam como irmãos!
Que no coração da criatura humana,
Pleno de equilíbrio e de harmonia,
Viceje a planta da fraternidade!...
Senhor!
Que estas palavras, que não dizem tudo
Possam transpor os mundos no infinito,
Levando o apelo mudo dos aflitos,
Os gemidos de dor dos desgraçados,
O remorso dos maus, e dos bons, o perdão...
E a ânsia oculta, da espécie humana,
De atingir, sem saber como, a perfeição!...
Escuta-as Senhor!
São palavras que não foram decoradas,
Não foram feitas apenas para os lábios...
Mensagem de pureza, que mais é um clamor,
Dos que não sabem dizer, dos que não podem falar,
Dos que só sabem sofrer, dos que só sabem sentir,
Dos que só sabem esperar...
Esta é a oração dos que não sabem rezar.
Onde está Deus?
Onde está Deus? Pergunta o cientista,
Ninguém O viu jamais. Quem Ele é?
Responde, às pressas, o materialista:
Deus é somente uma invenção da fé!
O pensador dirá, sensatamente;
Não vejo Deus, mas sinto que Ele existe!
A Natureza mostra claramente
Em que o poder do Criador consiste.
Mas o poeta dirá, com a segurança
De quem afirma porque tem certeza:
Eu vejo Deus no riso da criança,
No Céu , no Mar, na Luz da Natureza!
Contemplo Deus brilhando nas estrelas,
No olhar das mães fitando os filhos seus,
Nas noites de luar, claras e belas,
Que em tudo pulsa o coração de Deus!
Eu vejo Deus nas flores e nos prados,
Nos astros a rolar pelo infinito,
Escuto Deus na voz dos namorados
E sinto Deus nas lágrimas dos aflitos.
Percebo Deus na frase que perdoa,
Contemplo Deus na mão que acaricia,
Encontro Deus na criatura boa
E sinto Deus na paz e na alegria!
Eu vejo Deus no médico salvando,
Pressinto Deus na dor que nos irmana,
Descubro Deus no sábio procurando
Compreender a Natureza humana!
Eu vejo Deus no gesto de bondade,
Escuto Deus nos cânticos do crente .
Percebo Deus no sol, na liberdade
E vejo Deus na planta e na semente!
Eu vejo Deus, enfim, por toda parte.
Que tudo fala dos poderes Seus,
Descubro Deus nas expressões da arte,
No amor dos homens também sinto Deus!
Mas onde eu sinto Deus com mais beleza,
Na Sua mais sublime vibração,
Não é no coração da Natureza,
É dentro de meu próprio coração.
Zamenhof e o Esperanto
Você quer felicidade,
Quer afastar-se do mal?
Pratique a fraternidade
E a língua internacional.
Zamenhof, alma de luz,
Lá na Polônia sofrida,
Os seus trabalhos conduz
E traz o Esperanto à vida.
Inda bem adolescente,
Esse grande criador
Lançou à terra semente
De paz, de luz e de amor.
Bendito sejas, ó Mestre!
Pelo trabalho fecundo
E o bem que nos fizeste
Ao dar o Esperanto ao mundo!
ROSSI,Newton. Trovas escolhidas. 2 a. ed. Capra: Siron Franco. São Paulo: Elevação, 2006. 206 p. 13x17 cm. Prefácio de Arnaldo Niskier. [Numa caixa de papelão com o livro Sextilhas.] “ Newton Rossi “ Ex. bibl. Antonio Miranda
LXXXII
As ilusões foram belas,
Com desencantos, também,
Somos linhas paralelas
Que só se encontram no além.
LXXXV
Não sei se Judas traiu
Pelo que diz a memória.
Pois ele apenas cumpriu
Um papel naquela história.
CXXVI
São de pessoas sem fibra
Onde o vazio condensa,
O coração que não vibra
E a cabeça que não pensa.
CLVII
O malfeitor contumaz,
Que a maldade sempre afaga,
Se esquece que aqui se faz,
Mas aqui também se paga.
ROSSI, Newton. Sextilhas para reflexão. 2ª. ed. Brasília: Ave Branca – ATL Editora, 2004. 176 p. 174 p. Prefácio: Antonio Carlos Osório. Contracapa: texto de Mauro Santayana. [Numa caixa de papelão com o livro Trovas Escolhidas.] “ Newton Rossi “ Ex. bibl. Antonio Miranda
XIX
Há prenúncios gerados pelos desencontros,
Uma explosão inevitável de confrontos,
Num mundo injusto e de contendas desiguais,
Onde o mais fraco é sempre perdedor na liça.
Como é que pode haver a essência da justiça,
Se muitos passam fome, e poucos têm demais?
XCVII
O mar, quando fica bravo,
É, por certo, o desagravo
Contra tanta poluição.
As águas ficam revoltas,
E as marés, bravias, soltas,
Vão revidando a agressão.
Sextilha LX
As estrelas também falam,
Pelo perfume que exalam,
Nas noites de solidão.
Olhando a Terra, demoram...
E, lá do céu, quando choram,
Derramam luzes no chão.
Poema extraído de
DF LETRAS. A REVISTA CULTURAL DE BRASÍLIA. Câmara Legislativa do Distrito Federal. Ano V. No. 59/62.
C L A M O R
Brasil dos sonhos de outrora,
Dos desenganos de agora,
Onde está o teu valor?
Desfralda o verde pendão
Que o pulsar do coração
Vai ser o grande clamor.
As esperanças perdidas,
As crianças esquecidas,
Os velhos abandonados.
Oh! Brasil dos excluídos ,
Ninguém ouve os teus gemidos
Na dor dos desempregados.
Riquezas espoliadas
Em vergonhosas jogadas
Favorecendo os banqueiros.
Os salários congelados,
Cobram dos aposentados
Para dar aos estrangeiros.
Sobe o juro, sobe o imposto..
Aumenta mais o desgosto
E o desencanto é geral.
Não existe mais civismo
E o nosso capitalismo...
Já não tem mais capital.
Venderam tudo por nada,
Nossa dívida aumentada,
E a nossa reputação?...
Um Congresso acovardado,
Com o seu plenário calado,
Sem força e sem reação.
Uma Justiça morosa,
Que é muito dispendiosa,
Pelo pouco que produz.
Voltamos à escravidão,
Vivemos na escuridão
Sem esperança... sem luz.
Chega de tanto sofrer,
Um povo para viver,
Tem que ser alimentado
De corpo, de alma e de mente,
Tem que ser forte e valente
Para não ser humilhado.
Que a corda de Tiradentes
Acorde os inconfidentes,
Salvando a soberania.
Brasil, desvenda a verdade,
Reconquista a liberdade,
Antes que seja tardia.
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TUNHOLI, Nazareth; FERNANDES, Meireluce. GENTE DE EXPRESSÃO III. Brasília, DF: 2012. 184 p. ilus. col. capa dura. No. 10 844 Exemplar doado por Meireluce Fernandes
para a biblioteca de Antonio Miranda.
Sobre a música:
Chamas de Amor
Letra de Newton Rossi / Ubiratán Aguiar/
João Feijão e Praciano
Música de João Feijão.
Volta meu amor venha depressa
O tempo nós também vamos passar
Depressa, meu amor, venha depressa
Confessa para mim o seu temor
Abraça-me outra vez junto ao seu peito
Daquele jeitos que você sabe abraçar
Depressa, meu amor, volta depressa
A vida passa, só não passa o nosso amor.
Texto de João Feijão:
Levei o poema pra minha casa e, logo que coloquei
o violão, percebi que seria uma bela canção, mas estava
muito curto e precisava de algo mais. Liguei para o Minis-
tro Ubiratan Aguiar e ele convidou a mim e o Cel. Praciano
para irmos a sua residência na mesma sexta feira. La mos-
trei a primeira parte da música e discutimos que a pessoa
chamada precisava responder ao chamamento. Assim, ficou
fácil e terminamos o poema com os versos abaixo. Denomi-
namos a música de “Chamas de Amor” que foi gravada por
mim se pela cantora Monica Manakel.
Voltei, meu amor, pelos caminhos
Que junto semeamos de carinho
Para abraçá-la neste berço da saudade
O leito da nossa intimidade
Agora, os nossos corpos estão em chamas
Queimando no calor do nosso amor
E minha ausência já não mais reclama
Você, chamou, meu amor aqui estou.
Quero abraçá-la junto ao peito
Daquele jeito que você sempre gostou
Você minha virtude, eu o seu defeito
Amor perfeito que Deus abençoou.
Vamos guardar dentro do peito
Essa paixão que nos enfeitiçou
Você minha virtude, eu o seu defeito
Amor perfeito que Deus abençoou.
Ao nosso modo, prestamos uma homenagem
ao grande poeta Newton Rossi, que Brasília precisa
ainda precisa muito reverenciar.
João Feijão
Ubiratan Aguiar
Cel. Praciano
(in memoriam).
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Página ampliada e republicada em agosto de 2024. Página elaborada por nosso colaborador João Carlos Taveira e publicada em novembro de 2008. Ampliada e republicada em março de 2015. Ampliada em junho de 2020
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