MAJU GUIMARAENS
Maria de Jesus Evangelista (Maju) nasceu em Santa Cruz dos Milagres (Piauí), morou em São Luís do Maranhão, em Goiânia e atualmente reside em Brasília. Doutora em Letras pela Universidade de Toulouse, na França e professora aposentada da Universidade de Brasília.
“... numa linguagem poética única, de riqueza de imagens e vocábulos pouco explorados, é o que reflete o exemplar de Cartas de Amor nada Exemplares”. Valdisa Moura Soares
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O MAR
A Flávia
Dói-me esta saudade do mar.
Sentia-o todo meu, em qualquer lugar
O mar mundo muitas vezes
O meu mundo
Suas tempestades
Minhas tempestades
Tempo de bonança
Minha bonança se faz nos volteios de golfinhos
Em alegres bandos de sonoros risos
De suas ondas montanhas de nuvens
Fabrico alfaias de garças em vôos
Párea meu acalanto e paz.
Sou uma parte de sua fartura.
CANÇÃO
Para M. e F.
Após escaroçado o algodão,
em caminha almofadada,
a pasta branca se estende.
E no contato de mãos e suave bordão
— parece música e não o que é — para amaciar mais o macio
que muito já era.
Os braços,
em movimentos brandos, suaves,
moldam nuvens branco-diáfanas
que se estendem ... se esticam
no horizonte ao azul longe
e ficam em fatias fitas
em face da V ó que as transforma
no fino fio.
O tear, bem depois
em cores.
Os pés dançam e nas
mãos a lançadeira vai e vem.
E na magia dos cadentes movimentos
(Bach sem o saber)
Harmonia mãos pés ...
A mente em mundos
mergulhada ...
Salta aos olhos deslumbrados
a toalha bordada!
para a mesa farta.
POESIA E DOR
A poesia esta fora de mim.
A dor
Gota gelatinosa cai nevrálgica
Num ponto claro
E anula o ser
Que se desintegra no nada.
Envergonho-me dessa necessidade
De bem-estar vida serena, modo de ser
Ela contudo me aproxima
Do ser perfeito.
Permite a contemplação da Beleza
Fonte perene de poesia
Extraídos de Cartas de Amor nada Exemplares. Brasília: 2002. 64 p.
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