LUIZ TARLEI DE ARAGÃO
(1943-2004)
Nasceu em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Estudou no Colégio Naval de Angra dos Reis, RJ, , estudou na Universidade de São Paulo, autoexilou-se na Europa dos final da década de 60 ao começo da década de 80 e depois foi professor do Departamento de Antropologia, da Universidade de Brasília.
ARAGÃO, Luiz Tarlei de. O amor, todas as horas. Brasília, DF: André Quicé Editor, 1996. 108 p. Ilustração da capa: Elizabeth Rosso. “Luiz Tarlei de Aragão “ Ex. bibl. Antonio Miranda
O CANTO DO GALO
Contei pai nossos,
Contei ave-marias,
Contei horas,
Contei estrelas,
Contei estórias,
Contei vantagens,
Contei fantásticas viagens.
Contei pingos d’água,
No sótão,
Contei abelhas,
Fazendo mel.
Contei amores,
De meninas, fazendo fita.
Hoje não conto mais nada,
Pouco mais me falta.
Interessam-me apenas, as estrelas
Sem conta.
Que, infinitas, vem conversar comigo.
E sozinho, com elas, longamente, falo
Juntando-me ao canto do galo,
Na alta madrugada.
NOITE
Soturnos cânticos
Da rola solitária.
Andar sobejo,
Da juriti andeja,
Ralha da coruja
Na ponta do pau,
Buscando, da noite,
O dissimulado vau.
GNOMOS
Crisálidas
Ao Poente..
Indefinidamente, a sós,
Vejo os dias.
Em corredios nós,
Escorrendo as infinitas partes,
A esmo.
E, com outras, batendo,
Bem no centro do que somos.
Gnomos, de nós mesmos.
VISITAÇÃO
No tempo que me resta,
De quando em quando,
Olho pela fresta,
E vejo, Campo Grande.
O canto da seriema,
Minha prima, o Ivinhema,
Meu primeiro amor,
O anátema.
Minha primeira rima,
Dona Balbina,
Minha mestra,
A única, e doce, reprimenda.
As festas na fazenda...
Quem sabe o que restou,
De tudo isso?
Por quê os anos, passando,
Não fazem um compromisso,
De trazer de quando em quando,
O que foi para mim, o universo
E que, hoje, parte-me ao meio,
Em obliterados versos.
Página publicada em abril de 2016
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