HÉLIO PÓVOAS JÚNIOR
Nasceu no Rio Grande, Rio Grande do Sul, 19.04.1956, escreveu, entre outros, PURA LIRA(1993), SINTO MUITO(1993), sem dados biográficos completos nos livros e sem qualquer outra informação ao alcance da pesquisa, via textos publicados. Após os estudos primários em sua terra, deslocou-se para outros centros, onde também estudou. Formou-se em Letras Anglo-Germânicas. Curso de Aperfeiçoamento de Diplomatas. Mudou-se para Brasília. É encontrado no DICIONÁRIO DE ESCRITORES DE BRASILIA, de Napoleão Valadares. Secretário das Embaixadas do Brasil em Libreville (Gabão), na Santa Sé (Vaticano), em San José (Costa Rica), em Harare (Zimbábue). Membro de diversas entidades sociais, culturais e de classe. Participante de muitas coletâneas, dentre outras, ANTOLOGIA ERÓTICA, 1993, de Urhacy Faustino e Leila Miccolis.
“poesia viva, lúcida, instigante(...)” Carlos Nejar
“Que notável experiência você faz, na linha de desmistificar a retórica poética, articulando na pauta da ironia e da citação a crítica dos hábitos literários. E mais: você persuade o leitor a gostar da arte impura”. Fábio Lucas
“Li os seus poemas com interesse e com prazer. Eles dão testemunho não apenas de uma rica cultura literária mas também de um natural pendor para a cristalização de vivências reais ou imaginárias em artefatos de palavras que se concentram com finura e humor a fim de dar voz aos descorcertos da vida”. José Paulo Paes
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTI IN ITALIANO
De
PURALIRA
2ª. Ed. Brasília: Thesaurus, 1997.
DIAS CRÍTICOS
entre os parênteses de existir
(mas só em tais circunstâncias)
cometer algum verso
em legítima defesa
entre intervalos do viver
— mas somente em tal interstício —
ousar com a lira e ponto
em crime passional
sobreviver entre aspas
afinal “o inferno são os outros”
queima de arquivo: o eu-lírico
em homicídio culposo
subsistir, uma vírgula!
entre o céu e aqui não há limites...
exaltado o-melhor-de-dois-mundos
em atentado fatal
ESPIRAL
no mesmo bloco em que aponto
lembretes vários pra casa
me ocorre agora o poema
as mesmas linhas que encho
com pão xampu papel-higiênico
preencho agora com versos
na mesma folha em que traço
as necessidades mais básicas
refaço agora outro mapa
o mesmo espaço que abarca
valores cifras montantes
limita agora este canto
a mesma espiral suspendendo
doces desejos gulas
seca agora tinta fresca
BÚSSOLA
mar navegável, a página
vai acolhendo tal molhe
naus já predestinadas
náufragos sem mais braçadas
deslizante oceano, qual folha
dando boas-vindas: farol
a sensatos lobos-do-mar
e marujos de prima jornada
inexperto almirante, o poeta
comanda fiéis galés
conhecendo a rota de cor
lhe arrastam desviantes sereias
ENFIM-ME
evitar-me a palavra estro
pra que não me conservem
na confraria dos vates
expurgar-me da frágil mimese
para que não me emplumem
no bando de aves raras
abster-me da fácil rima
pra que não me metam
no anal da arte: honorífício
MARCIAL
junto de ti
punhal recuado
sangue vertendo
dentro de ti
faca escondida
ferida viva
longe de ti
arma invisível
mortal saudade
(...)
PÓVOAS JÚNIOR, Hèlio. Sinto muito .Poesia. Porto Alegre: Movimento, 1993. 157 p. 14x21 cm. Col. A.M.
CLICHÉS
gema dourada
sol da manhã
dedirrósea aurora
nesta luta vã
clara fantasia
limpidez malsã
sol do meio-dia
lua, minha irmã
oval arco-íris
dança de lansã
chuva sobre lírios
se excitam flauta e Pã
escreve, escravo, escreve
dita a musa possessiva
prova, trovador, aprova
exige alerta o escriba
respira, piradão, inspira
reza a cartilha de versos
lima, rimador, arrima
a face escura do estro
semeia, lavrador, semeia
o feijão-nosso a cada palmo
ensina, aprendedor, ensina
este segredo plantado na alma
MÃE-NATURA EM DÍSTICOS
para José jerônimo
moscardo de sonsa
pula por pura beleza o sapo
ou por precisão é que salta?
rima por esteta, o poeta
ou prima por fiel à seta?
chora só por tristeza o romântico
ou por incapaz do cântico?
mente a fêmea por mau costume
ou pra provocar fiel ciúme?
mente por má vingança o homem
ou por involução do mono?
canta por sinfonia a cigarra
ou pra individuar a farra?
morde a seu bel prazer a cobra
ou pra fixar a marca, ao fim da obra?
=========================================================
TEXTI IN ITALIANO
HÉLIO PÓVOAS JúNIOR
Hélio Póvoas Júnior è nato a Rio Grande, Rio Grande do Sul, Brasile, nel 1956. Laureato in lettere nella Universidade Federal di Rio de Janeiro, assistente dei Dipartimento di lettere anglo-germaniche, è entrato in diplomazia nel 1979, svolgendo la carriera diplomática a Libreville, nel Gabon, presso la Santa Sede, a San José, in Costa Rica, e ad Harare, nello Zimbabwe. Docente, nel 1994, di Linguaggio diplomático all'Istituto Rio Branco, a Brasília, dal 1995 è console aggiunto presso il Consolato del Brasile, a Roma, dove vive con la moglie e i tre figli.
Di lui hanno scritto i maggiori critici letterari del Brasile, tanto da suscitare 1'elogio, il piü eloquente, "è sempre una gioia trovare un nuovo (e buon) poeta. Che elenco di critici, accidenti! Magnifico!" di Jorge Amado.
Le sue raccolte di poesia sono: gestos 3toucados (1982); Tudo a ver (19S2); Oropa América Riogrande (1985) [tre raccolte fuori commercio]; Sinto muito. Editora Movimento, Porto Alegre, 1993 [premi "Autor Revelação" delia Associação dos Críticos de Arte di São Paulo e "Luiz Estêvão de Cultura" di Brasília]; Pura lira, Thesaurus Editora, Brasília, 1993 (seconda edizione, 1997); O sutil enfático. Editora Topbooks, Rio de Janeiro, in corso di stampa.
Le poesie del presente volume sono tratte dai libri sopra menzionati; alcune sono inedite. La scelta è dell'autore.
De
POVOAS JUNIOR, Hélio
L´Enfasi Sottili
presentazione di Luciana Stegnano Piccio.
Traduzione di Adelina Aletti.
Roma: Antonio Pellicani Edittore, 1998. 161 p.
Capa: illustrazione di C. Cambelotti per “La Lettura – Rivista mensile del Corriere
dela Sera”, Milano 1914. A editora inclui poucos poetas brasileiros, em edições bem cuidadas. Ex. autografado. Col. A.M.
MARCIAL
junto de ti
punhal recuado
sangue vertendo
dentro de ti
faca escondida
ferida viva
longe de ti
arma invisível
mortal saudade
(1989)
MARZIALE
accanto a te
ritratto pugnale
sangue versando
dentro a te
nascosta lama
ferita viva
lontano da te
invisibile arma
nostalgia mortale
(1989)
ELEMENTOS
para Laurai- companheira
escrevo teu nome ao vento
se dispersa no espaço
ad infinitum
soletro teu nome na água
move ondas leves
ad nauseam
construo teu nome na areia
se desfaz, tal castelo
terra ad hoc
imprimo teu nome ao fogo
a chama ardendo
ab aeterno
(1987)
ELEMENTI
scrivo il tuo nome al vento
si disperde nello spazio
ad infinitum
sillabo il tuo nome sull'acqua
muove onde brevi
ad nauseam
costruisco il tuo nome sulla sabbia
si disfa qual castello
terra ad hoc
imprimo il tuo nome al fuoco
brucia la fíamma
ab aeterno
(1987)
PERVIGÍLIA
a noite inteira procurando
no meio do sonho, do sono
o poema que, pensa, compôs
antes de adormecer
já dá por perdidos os versos
se vira de um lado pro outro;
busca retomar o tema
sob enfoque diverso
tenta reinventar a forma
mudando agora de assunto;
o sono lhe apaga a vigília
o sonho lhe penetra fundo
PROLUNGATA VEGLIA
l'intera notte a cercare
in pieno sogno, sonno
Ia poesia che, immagina, ha composto
prima di addormentarsi
già dá per persi i versi
ora su un fíanco ora sull'altro;
cerca di riprendere il tema
con approccio diverso
tenta di reinventare Ia forma
ora cambiando argomento;
il sonno gli spegne Ia veglia
il sogno Io penetra fondo
Página publicada em fevereiro de 2008; ampliada e republicada em agosto 2011 |