A Aurora da Noite
Em meio as rosas cinzentas ali ele brotou
Em meio ao caos corriqueiro em mim se despertou
Oh! Esplendor de mulher
Aviva em minh'alma a aberta ferida
Para escravo seu ser
Em minha pobre vida
Como a aurora você chegou
Ali sempre estava
Mas comigo nunca se deparava
A melodia harmoniosa
Que do teu olhar sai pomposa
Só vem para me distrair
E ao coração iludir
Minha querida Fausta
Eu sou só mais um
Que se veste feito um índio
Atrás de sua máscara de urucum
Tento esconder
O que não dá pra perceber:
Dentro desse casulo
Há um sentimento puro
Talvez não seja maduro
Talvez não seja seguro
Mas eu quero estar em teu futuro
Para contigo ter
A graça de sempre ser
Alimentado pelo teu viver
A Solidão do Coração
Penumbras negras que cobrem meu coração
Livrai-me dessa solidão
Canto medonho dos abismos fundos de minh'alma
Faz-me ouvir tua voz que acalma
Quem diria... até tu, senhor das luzes
Porque resolveste ofuscar meu dia?
Estava tudo tão perfeito, eu aqui em teu afável leito
Não me preocupava com as coisas vãs, só tua presença me bastava
Mas como o bote da víbora, que sufoca e envenena
Maldito ato cometido, de mim tenho até pena
Na noite necropulosa, de minha boca saiu a palavra
Que dela me separou e afastou o amor que não mais lavra
Sucumbi a solidão que se fez aqui nesse vão
Em meu peito os dizeres: Aqui jaz um coração
Que já amou, se inflou e se recordou
Que em algum dia pensou que só amar bastaria
Triste destino que em mim se fez
Boneco de pano, manipulado
Mas nessas veias costuradas correm sangue
Sangue de gente que ama somente a sua dama
Se soubesses como te amo, Julieta de meus contos
Não me negaria tal amor
Se soubesses como é essa dor
Abraçaria minha pele de pano
Que ridículo sou eu
Mendigar esse simples ato de amar
Não mais te incomodarei
Aqui em meu leito para ti morrerei
A Vinha com um Bê e um Cê
Como a mais bela flor de liz
Sua face exala beleza
Tão delicada como um giz
Oh! Perfeita criação da natureza
Seu andar é como a presença de um ido ente:
Ninguém vê, mas sente
Com maestria angelical
Ela guia esse seu jeito natural
De quem não sabe o que quer
Imagem da perfeita mulher
Como vinha é constituída
Mas a harmonia não lhe é permitida
Porventura, quem se importa com a espessura?
Quero eu sentir sua ternura!
Imagino se sou digno de tal
"Belo casal", dizem eles
Sentimento agro esse
Que quando a terra não está pronta
E a semente não se encanta
Desencanta o plantador
Besta-Fera
A minha luta acabou
A besta-fera vos empossou
Como foi bom te descobrir
Através daquela imagem virtual
Pensei que a solidão já podia ir
Estava encantado, levado pelo irreal
Largada linda se deu
Proseamos, cantamos
A amizade, enfim, aconteceu
Em todas as noites de luar
Por mais corriqueiro que o dia fosse
Estávamos lá a nos falar
E quando rimos e choramos?
Foi tão bom o que se sucedeu
"Para tudo aqui estamos!"
Nossa história havia chegado em seu apogeu
Aquilo era lindo, maravilhoso
Parecíamos o encontro de dois grandes rios
Juntos, o barulho era estrondoso!
Não mais via seu defeito
Tão perfeita...
Era mulher de conceito
Para mim foi feita!
Triste engano
Nada é de ninguém
Antes que sob o pano
O padre diga amém
As águas foram se acalmando,
Aquele sentimento estava fulminando
Sem nunca saborear sua presença
Deixou-a conhecer seu segredo
Percebeu que errada era sua crença
Coitado...
Bem feito!
Estava magoado...
Caiu seu conceito
Ficou dias e dias assim
Sua mente era só dela
Em tudo quanto é cadim
Passou o tempo...
Trazendo esquecimento...
Levando o desalento...
Hoje o que ele deseja é que ela seja feliz
Ao lado da besta-fera que em nada condiz
Pois nada mais afeta
O aprendiz de poeta
Canção do Brasileiro
Minha terra tem palmeiras
Onde rouba o mensaleiro
As aves que aqui gorjeiam
Tem o jeitinho brasileiro
Nosso céu tem mais estrelas
Nossas cordas, mais acordes
As mulheres que aqui rebolam
No juízo se extrapolam
No oriente busco o respeito coexistente
Que já no ocidente não se faz mais presente
Um dia espero eu
Ver a solução
Desse país que vaga
Se esquecendo do cidadão
Enquanto esse dia não chega
Fico eu cá em meu sofá
Esperando a solução
Que um dia há de chegar
(27/2/2008)
O Convertido
Nasci
Vivi
Morri
Cansei
Perdi
Sofri
Ganhei
Tirei
Roubei
Mendiguei
Apelei
Matei
Fugi
Escondi
Bebi
Chorei
Babei
Lamentei
Rezei
Arrependi
Converti
Amei
Aproveitei
Deliciei
Nasci
Vivi
Morri
O Eu-Poeta
Um dia me disseram para escrever sobre o amor
Mas como, jovem Haroldo
Vou escrever sobre o amor se só o que vejo é dor?
Outro dia também falaram que eu era triste
E tem como ser feliz nesse mundo
Onde o pobre morre e rico assiste?
Penso se sou um simples idealista
Talvez seja isso mesmo
Procuro a felicidade que não se conquista
Desculpem o pessimismo
É que tudo conspira contra
A meu simples idealismo
Esse poema vai acabar por aqui
Ninguém liga para o que me afeta
Afinal quanto mais sofrido, melhor o poeta
O Filho do Urubu
Lobos, amigos meus
Vejam como falam meu nome
Chamem os amigos teus
Compartilhem com minha fome
Prostituta dos sentimentos carnais
Infeliz que pelas vãs se fascina
Também controlada pelos vienais
Desregrada que não se domina
De um ato desprevenido
Amaldiçoado pelas forças
Esse ser foi concebido
Em meio às lágrimas poças
Cresceu sendo amado
Pelos quais não eram seus
Honrosos, haviam renegado
A velhice prometida por Deus
Trazido pelo urubu
De um mal ele sofria
Feito um makezu
Viera com demasiada energia
Cercado pela laia de falsários
A dor ele sentiu
Devido ao povaléu de modos precários
Na rejeição ele caiu
Seus entes, quem eram?
Demorava a passar o dia
Por ele esperavam?
Só seus honrados e sua tia
E assim foi até amadurecer
Quando chorou pela primeira vez
Descobriu que o mundo pior podia ser
Ridículo era aquela insensatez
Incompreendido, na rejeição descobriu amiga
Naquela que a todos homens acolhe são
Nos pensamentos seus periga
Beirando a depressão
Vadiava sob as séculas noites
Moribundo da agonia que nunca termina
Cada vez mais rugia os açoites
Que aos idiotas zombadores fascina
O que fazer?
Para onde ir?
Não conseguia mais ver
Não conseguia mais sentir
Se decidiu e para lá partiu
Onde a alma não mais sente o frio
Seus companheiros ali viu
Sua vida estava no último fio
Seu último discurso proferiu
Ao lado de seus companheiros
Quando a luz finalmente não viu
Em seus momentos derradeiros
Lobos, amigos meus
Matem vossa fome
Compartilhem com os amigos teus
A carne que possui o meu nome
Poço de Mágoas
Lá no cume do abismo
Onde escuridão reina soberana
Enterrar-me-ei com todo cismo
Juntamente com essa parte profana
O porto de mágoas se abrirá
Irei com meu barco de ilusões
Sem saber o que lá se dará
Já são muitas as decepções
Morarei perto das grandes águas
Para se preciso for
Sepultar todas as mágoas
Sim, morreria de amor
Sedentos de fome
A vizinhança ofegante se faria amiga
E como tudo que ali some
Meu ossário seria só mais uma viga
Comeria junto ao poço de pensamentos
Onde a fonte nunca se esgota
Afogar-me-ia em doces lamentos
Pensar em ti seria minha única cota
Ao cair da madrugada
Lembraria de ti novamente
Em meus sonhos, sacra namorada
Esqueceria de toda gente
Quando finalmente padecer
E a luz chegar em várias levas
Irá novamente amanhecer
E eu descansarei finalmente nessas trevas