Nasceu em Patos de Minas (MG), no dia 04 de agosto de 1916, e ali faleceu em 28 de junho de 1995. Conhecido, literariamente, como Leão de Formosa. Mudou-se para Brasília em 1970. Diplomado em Farmácia e em Bioquímica. Pertenceu a Academia Mineira de Letras.
Sobre o autor, consultar os seguintes artigos: "Altino de Castro: o guardião das palavras", de Maria Esther Maciel, no Jornal de Poesia; Diário da rosa errância: quando as listras do tigre são letras", de Júlio Pinto, no Suplemento Literário de Minas Gerais, nº 1165, de 18.05.91.
Bibliografia: Cidadela da Rosa: com fissão da flor, Horizonte Editora, Brasília, 1980; Diário da Rosa errância prosoemas, 1989; Sementes de Sol, editora 7Letras, 2004.
Porque o sorriso ficou nos beiços dos carneirinhos
que minha mãe me deu nos currais de meu pai.
Também não vim para sofrer.
Inútil indagar porque cheguei.
Eu vim, apenas, para ser chegado.
SONETO DO ESTRANHO
Para Borges, Foucault, Drummond e outro
A geometria de Euclides me ampara,
mas a de Einstein é que me põe perplexo:
me exibo em versos côncavos-convexos,
minha rosa de rima é curva e clara.
A cicatriz da mágoa tem reflexos
ou se propõe na angústia que não pára.
A flor do lodo, flor do asfalto enfara
se a lésbica mulher mudar de sexo.
O que não muda é o homem (ser estranho)
o ser recente excelso de um rebanho
que ainda em hordas ríspidas resiste.
A minha rosa é côncava-convexa,
agora o que não sei nesta conversa
é o que Einstein e Euclides tem com isto.
Da COROA DE SONETOS PARA UMA CABRA
XIII
As luzes de meu ser e de meu nada,
Truísmo e tropo que não quero e topo,
A própria cabra é sombra no meu corpo,
Coisa que berra e bale misturada.
Coisa assim, penso e existo, como um sopro
Ardendo-me na pele suspirada
Conhece-te a ti mesmo, camarada,
Sem fim, sem meio e fim, sem meio escopo.
Ninguém sabia do a priori dela,
Só se sabia da braveza bela,
Do jeito de ser livre, e era tudo.
Por isso agora piso neste estrume,
Levo pra casa o lúrido volume
Feito de couro para meu estudo.
ROSA DE ISOPOR
Verifico
(em suma):
a indústria do Lirismo
é de consumo
conspícuo.
Do poema Fabricado
sem aporias
Isoporema
emana
a Fragrância
Flor.
A experiência
do aprendizado poético
(em alto nível)
Mestrado de Mímese
é uma experiência para o Consumidor:
Experiência Lyrica
de uma Rosa
de ISOPOR.
LUANA
A Mário Garcia de Paiva, autor de Luana
a lua na janela de Luana
bate tranqüila, não me assusta, pois
Luana é a lua apenas da alvorada
ou é a alvorada a lua de nós dois?
estou cheio de estrelas lualãs,
“belimbelezas” de quem ama ou brilha.
das seis da tarde às sete das manhãs
um galo verde inaugura Brasília.
Luana canta? arranha o céu seu canto.
sírius, lá em cima, gane ganas de gente.
joãozinho enche de aurora a morte má.
ivanildo candango, paulo some
apenas eu, me resto, (amor ou fome)
lua-luando no paranoá.
CASTRO, Altino Caixeta de. Sementes de Sol.
Rio de Janeiro: 7Letras, 2004. 144 p
EXALTAÇÃO DA FORMA
“Ainda é o canto que canta na garganta
A única recompensa pra quem canta”.
GONZAGA
Na palinódia de meu sonho acesa,
trago o esplendor da forma que retrato.
Se ainda canto e em prélios me debato,
é para erguer-me ao culto da beleza.
Praxíteles da forma, eu me arrebato
entre visões sonoras, com certeza.
Que veja o metro de seu verso exato
na cadência da língua portuguesa.
Acastelado assim, não se abacina
meu poetar e a musa me ilumina
o campo para a luta e para o ataque.
Fídias do verso, a estátua que cinzelo
suporta o peso deste amor ao Belo,
que fez um dia a glória de Bilac.
CASTRO, Altino Caixeta de.Coroa de sonetos para uma cabra. Jaboatão, PE, Editora Guararapes, 2015. 50 p. 20,5x13,5 cm. Apresentação de João Carlos Taveira. Editor: Edson Guedes de Moraes. Edição artesanal, tiragem limitada. “Altino Caixeta de Castro “ Ex. bibl. Antonio Miranda.
CASTRO, Altino Caixeta de.Poeta Altino Caixeta de Castro – O Leão de Formosa. Belo Horizonte, MG: SUPLEMENTO LITERÁRIO MINAS GERAIS. Edição Especial. 18 de maio de 1991. Ano XXIV, N. 1165. Orgabizada e preparada por Maria Olívia e Paschoal Motta. 16 p. ilus. 28,5xx43 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
SITUAÇÃO DICIONÁRIA
(Para Paul Celan)
Dicionário rio
a água-palavra
escoa
na ponta
das pedras.
um peixe-aço
se espadana:
o poeta fisga
a face fixa
do cavalo-marinho.
uma sereia
bebendo as páginas
desmancha o mar.
á beira da praia
cabeça na rocha
algum poeta
dicionário-mar
dispersa o cardume
do couro castanho.
as águas se afastam
o poeta enxuto
atravessa as estrelas
com um livro na mão.
MOMENTO
Depois do fogo
que fez uma queimada
ao anoitecer:
tu és uma coivara
que restou fácil
de se encandecer
nos rescaldos da rama:
uma coivara rara
que apenas espera
no fósforo o momento
da chama.
LIMITAÇÕES
Só posso te falar com as falas das falésias.
Só posso te escrever com as tintas da escritura.
Só posso te saber com as somas do ser.
Só posso te abraçar com os braços de teu mar.
Só posso te acenar com os gestos de teu lenço.
Só posso te sofrer com as flores do mistério.
Só posso te querer com as cercas da querência.
Só posso te amar com as cinzas do silêncio.
VIGÍLIA DE ESCRITURA EM PROCESSO
Quero meu Poema
vigília de escritura
fazenda de moenda
mel.
Quero meu Poema
palimpsesto
sob texto
sem contexto
sem textura
de um segrel:
eis o segredo de meu medo:
pastor sagrado
consagrado
sob ramas
sob resmas
sob resmas
de papel.
MOMENTO
Depois do fogo
que fez uma queimada
ao anoitecer:
tu és uma coivara
que restou fácil
de se encandecer
nos rescaldos da rama:
uma coivara rara
que apenas espera
no fósforo o momento
da chama.
ANÁFORAS DE MINHA CARTOLA
Você tirou o pombo de meu adejo
Você tirou a face de minha aurora
Você tirou a ganga de minha lavra
Você tirou o umbigo de meu beijo
Você tirou o gume de minha espora
Você tirou a boca de minha palavra,
Você tirou o punho de meu ensejo
Você tirou a face de minha estória
Você tirou o galo de minha garganta
Você tirou o trigo de meu despejo
Você tirou o lume de minha glória
Você tirou a boa de meu espanto
Leão de Formosa.
Página preparada por Salomão Sousa e publicada em fevereiro de 2008. Ampliada e republicada em julho de 2016. Ampliada em novembro de 2016 ,´ ampliada em outubro de 2020