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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RITA DE CÁSSIA ARAÚJO

(página em construção)

 

Natural de Canindé, Ceará, nascida em 15-01-1941.  Profissão: operadora de sistemas, técnica da Universidade Federal do Ceará.

 

ARAÚJO, Rita de Cássia.  Cajueiro florido.  Fotografias de Beatriz Alcântara.  Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2012.  96 p.  ISBN 978-85-420-0068-9  Col. A.M.

 

          VIOLAS CAIPIRAS

          Quem dera fazer
          um verso.
          Não um verso
          de pé quebrado.

          Um verso inteiro
          que não esgarce,
          nem solte os fios
          no meio do caminho.

          Verso vibrante,
          verso escarlate.
          Um verso ingênuo
          lindo verso de amor.

          Aquele verso de arrepiar o pelo,
          que seja conjugado
          o verbo amar
          não só no presente
          mas em todos os tempos.

 

          EDIFÍCIO

          É urgente e vital
          construir algo maior
          que meu tamanho.
          A velhice vem a galope.
          Até o momento só consegui
          fazer uma toalha de crochê
          com dois metros de diâmetro.

          É muito triste...
          mas, não será estarrecedor
          não vou esmorecer.

 

          LEMBRANÇAS DE JUAZEIRO

          Vez em quando lembro
          o ardor do meio dia,
          dos sons dos violeiros, cantorias,
          benditos, misturados,
          com as vozes dos penitentes.

          Pessoas vestidas de preto
          vindas de muito longe.
          Pagando promessas,
          pedindo graças, deixando
          os ex-votos dos milagres
          alcançados ao Santo Padre Cícero.

          Quanta fé, quanto desprendimento.
          Desconforto nas longas viagens
          em céu ardente do calor de novembro.
          Eles passam deixando marcas
          como ferro de ferrar boi.

          Sou nordestina,
          sou boi destes pastos.
          Pastos cobertos de amor e fé.

 

ARAÚJO, Rita de Cassia.  Manga madura./ Rita de Cássia Fernandes de Araújo.  Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2004.  106 p.  15X15 cm.   ISBN 85-7563-049-0  Projeto gráfico: G. Jesuino.  Capa, orelhas e ilustrações: Nearco Araújo.  Col. A.M. (EA)

 

FARDO   

As amarguras eram tantas
que cobriram o canteiro
das borboletas brancas,
lindas e perfumadas.
Tarde cinza, sombria,
após o dia de chuvas.

O coração que deveria
permanecer leve
parecia mais um fardo
enorme, pesado
sobrecarregando as costas.

O perfume das flores
embriagam as narinas
e a alma continuava
azeda, triste sem
o menor sinal de doçura
ou melhora de vida.

 

 

ESCONDERIJO  

As palavras se escondem
entre as frestas das gavetas
e as folhas de papel amarelado
no armário dos guardados.
Não consigo fisgá-las.

Náusea profunda.
Asfixio sem palavras.

No horizonte
o sol desmaia
e perde as cores
na silenciosa tarde de agosto

 

ARAÚJO, Rita de Cassia.  Por trás das gavetas.  .  Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2008.  118 p. 15x15 cm.  ISBN 85-7563-422-4   Projeto gráfico: Willian de Brito.  Capa e ilustração de Nearco Araújo.  Col. A.M.  (EA)


 

POR TRÁS DAS GAVETAS 

Primeira gaveta

Brincos
Colares
Anéis
Pulseiras
Perfumes
Pinturas

Segunda gaveta

Lenços
Echarpes
Bonés
Luvas
Documentos
Carteiras

 

PRISÃO  

 Nós
Amarras
Cordas
Correntes.

Imaginárias
ou reais.
Velhas
ou novas.

Soltem-se
Desatem-se
Voem.

 

 

ARAÚJO, Rita de Cassia FernandesMulher & terra.  Fortaleza: Expressão gráfica, 2000.  110 p.  15x21 cm.    Capa: Robério Primo. Col. A.M. (EA)

 

 

            TEMPO

            Que faço agora,
            se minha melhor parte
            partiu, foi embora?

            Que faço agora,
            se é a melhor idade
            e nada é como outrora?

 

            Que faço agora,
            se a guerra de fome
            assola Brasil a fora?

            Que faço agora,
            quando a consciência diz:
            “não, não escreva nada”.

            Que faço agora,
            o espelho mostra as marcas
            e o tempo corre, corre.

            Que faço agora,
            se o amor e a solidão
            todos os dias afloram?

 

ARAÚJO, Rita de Cassia FernandesUngüentos.  Fortaleza: Imprensa Universitária, 1992.  76 p.  ilus.  25x21,5 cm.  Ilustrações: Estrigas.   Capa e programação visual: Geraldo Gesuíno da Costa.  Col. A.M.

 

 

ARCO-ÍRIS

Não lamento o tempo perdido
não escrevo verso esquecido.

Não penso na morte dos anjos
não refaço minha dores.

Não falo das tristezas
não comento minhas alegrias.

Hoje tem um arco-íris no céu
e outro dentro de mim.

 

ARAÚJO, Rita de Cassia.  Cartas e poemas ao anjo da guarda.  Fortaleza: UFC, Casa de José de Alencar/ Programa Editorial, s.d.  123 p.  14,5x21,5 cm.  Col. A.M.

 

 

          MARCAS

          Tem algo diferente
          no ar que respiro.

          Tem gosto amargo
          no doce sabor da fruta.

          Tem marcas querendo
          reabrir velhas feridas.

          Tem furacão violento
          em meio à calmaria,.

          Tem escuridão perdida
          à procura de sombras.

          Tem plantas vivas
          com flores e galhos secos.

          Tem peso de chumbo
          o corpo que parecia leve.

 

 

ARAÚJO, Rita de Cassia FernandesSementes.  Fortaleza: Imprensa Universitária,  1990.  77 p.  ilus.  col.  14x21 cm.  Capa: Antonio Caetano T. P. Araújo.  Ilustrações: Floriano Teixeira.  Col. A.M. 

 

 

HOMEM DE LATA

Porte de androide
velocidade de automóvel,
estômago de lagarto.
Não é robot
não é extraterreno.
É habitante deste século
morando nos continentes,
guerreando, dividindo terras.

As características são humanas
inteligência, memoria.
Cabeça feita de circuitos
com coração de aço batendo
num corpo de lata e ferro.

Sorte que um dia queimam,
enferrujam e acabam.

 

ESTORINHA DOIS

Um dia o velho avô
perguntou à neta:
Depois de seu pai e de sua mãe
de quem você mais gosta?
A menina respondeu simplesmente:
É do mar.


Página publicada em janeiro de 2013.


 

 

 
 
 
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