RITA DE CÁSSIA ARAÚJO
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Natural de Canindé, Ceará, nascida em 15-01-1941. Profissão: operadora de sistemas, técnica da Universidade Federal do Ceará.
ARAÚJO, Rita de Cássia. Cajueiro florido. Fotografias de Beatriz Alcântara. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2012. 96 p. ISBN 978-85-420-0068-9 Col. A.M.
VIOLAS CAIPIRAS
Quem dera fazer
um verso.
Não um verso
de pé quebrado.
Um verso inteiro
que não esgarce,
nem solte os fios
no meio do caminho.
Verso vibrante,
verso escarlate.
Um verso ingênuo
lindo verso de amor.
Aquele verso de arrepiar o pelo,
que seja conjugado
o verbo amar
não só no presente
mas em todos os tempos.
EDIFÍCIO
É urgente e vital
construir algo maior
que meu tamanho.
A velhice vem a galope.
Até o momento só consegui
fazer uma toalha de crochê
com dois metros de diâmetro.
É muito triste...
mas, não será estarrecedor
não vou esmorecer.
LEMBRANÇAS DE JUAZEIRO
Vez em quando lembro
o ardor do meio dia,
dos sons dos violeiros, cantorias,
benditos, misturados,
com as vozes dos penitentes.
Pessoas vestidas de preto
vindas de muito longe.
Pagando promessas,
pedindo graças, deixando
os ex-votos dos milagres
alcançados ao Santo Padre Cícero.
Quanta fé, quanto desprendimento.
Desconforto nas longas viagens
em céu ardente do calor de novembro.
Eles passam deixando marcas
como ferro de ferrar boi.
Sou nordestina,
sou boi destes pastos.
Pastos cobertos de amor e fé.
ARAÚJO, Rita de Cassia. Manga madura./ Rita de Cássia Fernandes de Araújo. Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2004. 106 p. 15X15 cm. ISBN 85-7563-049-0 Projeto gráfico: G. Jesuino. Capa, orelhas e ilustrações: Nearco Araújo. Col. A.M. (EA)
FARDO
As amarguras eram tantas
que cobriram o canteiro
das borboletas brancas,
lindas e perfumadas.
Tarde cinza, sombria,
após o dia de chuvas.
O coração que deveria
permanecer leve
parecia mais um fardo
enorme, pesado
sobrecarregando as costas.
O perfume das flores
embriagam as narinas
e a alma continuava
azeda, triste sem
o menor sinal de doçura
ou melhora de vida.
ESCONDERIJO
As palavras se escondem
entre as frestas das gavetas
e as folhas de papel amarelado
no armário dos guardados.
Não consigo fisgá-las.
Náusea profunda.
Asfixio sem palavras.
No horizonte
o sol desmaia
e perde as cores
na silenciosa tarde de agosto
ARAÚJO, Rita de Cassia. Por trás das gavetas. . Fortaleza: Expressão Gráfica Editora, 2008. 118 p. 15x15 cm. ISBN 85-7563-422-4 Projeto gráfico: Willian de Brito. Capa e ilustração de Nearco Araújo. Col. A.M. (EA)
POR TRÁS DAS GAVETAS
Primeira gaveta
Brincos
Colares
Anéis
Pulseiras
Perfumes
Pinturas
Segunda gaveta
Lenços
Echarpes
Bonés
Luvas
Documentos
Carteiras
PRISÃO
Nós
Amarras
Cordas
Correntes.
Imaginárias
ou reais.
Velhas
ou novas.
Soltem-se
Desatem-se
Voem.
ARAÚJO, Rita de Cassia Fernandes. Mulher & terra. Fortaleza: Expressão gráfica, 2000. 110 p. 15x21 cm. Capa: Robério Primo. Col. A.M. (EA)
TEMPO
Que faço agora,
se minha melhor parte
partiu, foi embora?
Que faço agora,
se é a melhor idade
e nada é como outrora?
Que faço agora,
se a guerra de fome
assola Brasil a fora?
Que faço agora,
quando a consciência diz:
“não, não escreva nada”.
Que faço agora,
o espelho mostra as marcas
e o tempo corre, corre.
Que faço agora,
se o amor e a solidão
todos os dias afloram?
ARAÚJO, Rita de Cassia Fernandes. Ungüentos. Fortaleza: Imprensa Universitária, 1992. 76 p. ilus. 25x21,5 cm. Ilustrações: Estrigas. Capa e programação visual: Geraldo Gesuíno da Costa. Col. A.M.
ARCO-ÍRIS
Não lamento o tempo perdido
não escrevo verso esquecido.
Não penso na morte dos anjos
não refaço minha dores.
Não falo das tristezas
não comento minhas alegrias.
Hoje tem um arco-íris no céu
e outro dentro de mim.
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ARAÚJO, Rita de Cassia. Cartas e poemas ao anjo da guarda. Fortaleza: UFC, Casa de José de Alencar/ Programa Editorial, s.d. 123 p. 14,5x21,5 cm. Col. A.M.
MARCAS
Tem algo diferente
no ar que respiro.
Tem gosto amargo
no doce sabor da fruta.
Tem marcas querendo
reabrir velhas feridas.
Tem furacão violento
em meio à calmaria,.
Tem escuridão perdida
à procura de sombras.
Tem plantas vivas
com flores e galhos secos.
Tem peso de chumbo
o corpo que parecia leve.
ARAÚJO, Rita de Cassia Fernandes. Sementes. Fortaleza: Imprensa Universitária, 1990. 77 p. ilus. col. 14x21 cm. Capa: Antonio Caetano T. P. Araújo. Ilustrações: Floriano Teixeira. Col. A.M.
HOMEM DE LATA
Porte de androide
velocidade de automóvel,
estômago de lagarto.
Não é robot
não é extraterreno.
É habitante deste século
morando nos continentes,
guerreando, dividindo terras.
As características são humanas
inteligência, memoria.
Cabeça feita de circuitos
com coração de aço batendo
num corpo de lata e ferro.
Sorte que um dia queimam,
enferrujam e acabam.
ESTORINHA DOIS
Um dia o velho avô
perguntou à neta:
Depois de seu pai e de sua mãe
de quem você mais gosta?
A menina respondeu simplesmente:
É do mar.
Página publicada em janeiro de 2013.
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