JONAS PESSOA
Jonas Pessoa do Nascimento é cearense, professor,
licenciado em português e Inglês.
Poeta, autor dos livros: "O Grito" (clubedeautores.com.br, 2010), "Pedaços da Existência" (clubedeautores.com.br, 2013), “Palavras Trocadas” (clubedeauores.com.br, 2015), “Faces da (in)diferença” (clubedeautores.com.br, 2016), “Lamentos” (clubedeautores.com.br, 2017), “Chão partido” (Editora Kazuá, 2018).
Prêmios: Prêmio José Sarney de poesia – Fundação da Memória republicana – 1993, Prêmio Amazônia de literatura 2018.
O poeta também publicou diversos poemas em coletâneas nacionais.
DISCRIÇÃO
O silêncio é meu idioma,
na calmaria dos prados,
contemplo o rosto das coisas.
Ando sorrateiro,
transitório,
gosto de estar quieto,
dissolvido como a névoa
no calor do sol.
As extensões de mim
são labirintos onde me oculto
na clarividência das estrelas,
sobre a sombra da noite.
Cada dia uma história,
esta de hoje é feita
com o silêncio de mim.
Poema do Livro Chão Partido vencedor do I Prêmio
Literatura do Amazonas 2018.
PROCRASTINAÇÃO
Na voçoroca do mesmo lugar comum,
o amor esbarra na pedra.
A ponta do punhal
levanta a tampa da lata
e liberta a ausência de sonhos.
Tudo o que se deseja
fica sempre para mais tarde.
O inferno, para essa gente,
deve estar no silêncio do tempo.
O pó, sobre a mesma roupa cansada,
é o despejo do vento seco -
atiçado com assovio dormente.
Talvez um amigo morra amanhã,
as coisas começam sempre assim:
primeiro se morre para depois
estatuir-se o remédio que falta.
PARTIDA
Parte o lotação.
Vidas em pé.
Mãos se esbarram.
Pouco espaço; é preciso
manter-se em pé.
Não fossem os filhos
talvez se dormisse
amanhã, o dia... a noite inteira.
Além da janela,
pessoas caminham,
cansadas, arrastando a cruz
sem despir-se
dos fardos da vida...
Dia frio, acinzentado.
no lotação, o aquecimento
é de dramas sociais.
AÇO CRU
Velho esmeril,
carcomido,
vencido no afiar
das esperas
escaldadas
sob os muxoxos
deglutidos
nas bocas fechadas.
Vem a primavera
colorida,
sem tingir o ensejo
de perfumar os dias
de luta invencível.
Sob a telha crua,
mais um dia
sem data.
Página publicada em novembro de 2019
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