1
o olho projetado
no escuro
cria o enigma
do gato
2
que coisa é vida
que gruda no corpo
da gente?
3
o gato fechou o interruptor da noite
sem explicações
O SAPO
inútil o signo
ao banquete inseticida
do sapo comensal
(basta a língua
suicida
dois olhos de lince
seu pulo fatal)
Inútil ao sapo
um poema neuronal
METAFÍSICA
no velório
promotor discute
com o juiz
a morte extemporânea
no outro lado
da vida
defunto reparte
entre os dentes
a morte digerida
RENDEIRA
a velha desfaz o tempo
nos bilros da almofada
(instante breve
de palavra
e
sangue lúcidos)
a velha prende o tempo
nas dobras de sua lembrança
SILÊNCIO
“não se alterou o silêncio”
Pablo Neruda
um grito
preso nos olhos da criança grande
a dez palmos de altura
entre ventos
cores nevoentas
pintando de insônia
o céu crepuscular
do quarto azul
LORCA
de sua boca
hálito e fumaça
a palavra dura e negra
talhada em gritos e paixão
de sua boca
o poema