CID CARVALHO
CID Saboia de CARVALHO Nasceu em Fortaleza – Ceará a 25 de agosto de 1935, filho do poeta e romancista Jáder de Carvalho e da escritora Margarida Saboia de Carvalho. Formado pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará, é professor desta e da Faculdade de Ciências Sociais e Filosofia. Produtor e Noticiarista da Rádio Uirapuru. Publicou com muito êxito, um livro de poemas: PÁSSARO DE FOGO.
De
POESIA CEARENSE DE HOJE
Compilação de Carneiro Portela
Fortaleza: Edioara Henriqueta Galeno, 1973
LIÇÕES DA TERRA
Porque tenho nos olhos mal dormidos
lição das emboscadas dos caminhos,
quero que tu ensines a nós todos
toda a fertilidade de teu íntimo.
De uma simples semente que te damos,
tu nos devolves todo um mundo em flor;
dos rios que se vão seguindo ao mar
ensinas a grandeza desta união.
Por tua semelhança com os sábios
ouvirei dos caminhos bifurcados
a lição que será dada ao viajor.
Seguir pela direita, pela esquerda,
voltar? – Quero o mistério das distancias,
quero a lição das margens que não passam.
OUVINDO A SERENATA DE SHUBERT
Neste instante, sentindo assim, ouvindo assim,
dir-te-ei o que não dizem os nossos mudos lábios
depois que tudo passa e vem a fé dos sábios
bater à alma fria, ávida de calma, enfim...
Porque tanta ternura e tanto amor em mim
desgasta na alma forte a rigidez humana
e me devolve a ti, ai tanto nos irmana
que é preciso morrer sentindo, ouvindo assim...
Baixa a cabeça, amor, ouve frases antigas
que os amantes repetem meigos sem saber
que são versos das velhas e mesmas cantigas.
A alma transborda enquanto o cérebro não pensa:
sentindo assim, ouvindo assim, quero morrer
com mil rasgos de luz na alma já quase imensa!
ANNE FRANK
Eu venho, não sei de onde, buscando ternura;
trago, não sei porque, a alma anuviada, triste,
com lances de protesto, rasgos de amargura
e trancada no peito a revolta me assiste.
Eu não vou perdoar, Anne, os que te assassinaram.
Traze, amigo,o teu peito até junto do meu
e vamos brigar contra os que rosas ceifaram
e vamos protestar porque Anne morreu...
Anne, menina-moça, vítima da guerra;
Anne, quase mulher, colhida pela sanha
dos homens feito feras rugindo na terra...
Em cada flor, menina, que verei nascer
vou descobrir tua alma de menina-moça
renascendo na flor que não pudeste ser!
Página publicada em abril de 2010 |