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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

 

AUGUSTO LINHARES

 

AUGUSTO LINHARES nasceu aos 24 de novembro de 1879, em Baturité, no Ceará, em cuja capital fez os estudos de Humanidades. Matriculando-se, em 1897, na Faculdade de Medicina da Bahia, no ano seguinte passar-se-ia para a do Rio de Janeiro, na qual, em 1902, veio a doutorar-se. Fez estudos especiais de Medicina Tropical em Manguinhos, com Osvaldo Cruz, tendo sido discípulo de Ronald Ross, em Liverpool. Dedicou-se à cirurgia especializada à Larinotologia — trabalhando na "Charité", de Berlim, com o prof. Killiam. No exercício dessa sua especialidade, esteve em Bordéus, França, e nos Estados Unidos da América do Norte. Em nosso país, desempenhou-se de várias comissões, como a de médico do Saneamento de Manaus; a de Inspetor de Saúde dos Portos do Amazonas, e a de Inspetor Escolar da Prefeitura do Distrito Federal. Prosador e poeta, é diretor da revista "Conferências". Do "Pen Clube do Brasil" e sócio-benemérito da A.B.L

Bibliografia: - "Oração na Academia"; "Voltando ao Columbário"; "José de Alen­car"; "Aspectos da Civilização Americana"; "Elogio do Micróbio"; "A Turma de 1902"; Hino ao Café"; "Ora, direis..." (poesia), Ceará, 1948; e "Raimundo Correia", 1949.

Radicou-se no Rio de Janeiro, onde morreu em 21 de outubro de 1963. 

 

 

 

 

REZENDE, Edgar.  O Brasil que os poetas cantam.  2ª ed. revista e comentada.  Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1958.  460 p.  15 x 23 cm. Capa dura.   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

ALÉM,   MUITO ALÉM...

 

 

Alongo os olhos da saudade, e a terra
Adusta vejo, qual se lê no poema:
— No horizonte ainda azula aquela serra,
Que foi meu berço e o berço de Iracema.

 

E o meu sertão em flor! E as vaquejadas...
E as alvas praias, verdes de coqueiros!
E os verdes mares, brancos de jangadas...
Como inda os vejo — os rudes jangadeiros!

 

De tudo aquilo ver, sonho acordado
Esquecendo reveses! E aos risonhos
E verdes anos meus volvo encantado!
Oh! como é verde o vale dos meus sonhos!

 

 

A   S Ê C A

Secaram-se de todos as lágrimas das fontes.
GUERRA JUNQUEIRO.

 

Tudo a seca levou... Oh! maldição!
Tudo! O gado, o cavalo, a plantação...
Não cabe em peito humano tanta mágoa:
A fome, a sede, a peste, a morte — o inferno!
Só o homem resiste! e ainda espera o inverno,
Postos, no Céu, os olhos rasos d'água!...

 

 

A RENDEIRA

 

 

A rendeira o dia inteiro
Faz renda em sua almofada;
E em seu labor costumeiro
Nunca, nunca ela se enfada.

 

Bilros estala entre os dedos,
E ai, Jesus, como os estala!
Deles ouvindo os segredos,
Ouvindo deles a fala!

 

Os espinhos espetando
Para que a linha se prenda;
Vai tecendo, vai traçando
O seu desenho na renda.

 

E esta Aracne sertaneja,
Do meu torrão nordestino,
A vida inteira moureja,
Alheia ao próprio destino.

 

 

 

MÃE PRETA

 

 

Quando Dodora ao céu chegar — é minha crença,
E ao Chaveiro disser: — Dá licença, meu Santo ?
São Pedro, vendo-a, lhe dirá com certo espanto,
— Você, Dodora, não precisa de licença!...

 

E a porta lhe abrirá paternalmente. E ela,

Para de todo ser feliz numa tal hora,

Seu cachimbinho acende. Acende-o numa estrela;

Mas São Pedro lhe diz: — Não, aqui não, Dodora...

 

 

 

Página publicada em dezembro de 2019


 

 

 
 
 
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