Dirás ao universo os teus segredos.
O universo rirá com tuas queixas
e copiará teu corpo nas estrelas
onde irá esperar-te, enternecido.
Ao fugires de ti eu sentirei
o silêncio dos astros no teu corpo;
mas quando descobrir, nesse silêncio,
que tua alma fugiu para as estrelas,
de noite crescerá minha revolta.
Eu me dividirei pelo infinito,
entre os abismos ficarei disperso,
e logo te acharei, eterna e em mim:
a tua alma encarnada nas estrelas,
e minha alma encarnada no universo.
2
Sim, estarei presente no teu beijo.
Meus lábios correrão a tua pele
e eu bendirei o incêndio de teu corpo
na carne de meus braços de universo.
Teu nome queimará a minha voz;
por isso irei lançá-lo como sol
sobre o gelo dos astros esquecidos.
As distâncias em mim se inflamarão
e os astros chisparão com tal violência
que através das galáxias e do tempo
meu sangue explodirá em tuas veias.
Quando mundos surgirem de meus poros,
no cansaço de criar descansaremos.
A vida brotará desse cansaço.
3
Os mundos ideais terão meu fôlego.
Mergulharei as mão em teu silêncio
povoando de mim os seus abismos,
e sonharei.
O tempo a recortar-se entre meus dedos,
e meus gestos cobrindo os horizontes
na exaustão de fundir a eternidade
num punhado de instantes, sonharei.
Que refervam maus sóis ou se espiralem
no inferno da distância as nebulosas,
é chegado meu Sonho:
No embalo ríspido
dos mundos ideais, úmida e sempre,
a vida brotará sem conhecer-se.
4
Quando o assédio da vida, o grande assédio
da vida insinuando-se em silêncio,
possuir nossos mundo,
cantarás.
Seres fluirão de frestas já perdidas,
para a posse da luz. Reminiscências
de formas e de lutas necessárias
fecundarão o ar de onde brotaram
os pântanos primevos, cantarás.
Tempestuem-se os mundos, as idades,
até que a vida em surto se descubra
no espanto de saber-se.
E ouvirei o teu canto como aquele
que há de embalar meu Sonho pelo tempo.