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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto e fragmento de biografia extraídos de
https://ilheuscomamor.wordpress.com/

 

 

 

VALDELICE SOARES PINHEIRO

 

(1929 – 1993)

 

Valdelice Soares Pinheiro nasceu em Itabuna, em 24 de janeiro de 1929, filha de família formada por desbravadores, empreendedores e políticos da região. Filha única, em meio a cinco irmãos, veio estudar em Ilhéus no internato do Colégio da Piedade. Concluiu o curso de Magistério no Instituto Municipal de Ilhéus. Formou-se na primeira turma de professoras daquela instituição de ensino. Licenciou-se em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, tendo sido uma das fundadoras da FAFI – Faculdade de Filosofia de Itabuna, juntamente com Helena dos Anjos e Flávio Simões, dentre outros. A FAFI e a Faculdade de Direito de Ilhéus, deram origem à FESPI, que se transformou em UESC. Na Faculdade de Filosofia lecionou Estética e Ontologia, disciplinas por onde passaram inúmeras pessoas que se tornaram seus amigos; foi também sua diretora.

 

 

 

 

           

 

CANTO BRASILEIRO

 

 

Pego-me aos pedaços. Quinhentos anos

estranhos desfiguram minha face negra,

meus dedos índios. Por que estes dedos

gorduchos se eu nunca fui barroca? Por que

esta lágrima de Pietá, se meu

centro é a fecundidade de minha barriga, a

ligeireza de meus pés?

Restauro-me. Meus dedos de pontas

Achatadas voltam ao rústico bambu de

flautas indizíveis e batem, com a graça do

braço engajando o corpo, doces berimbaus.

Faço minha dança no momento do golpe –

me defendo -e canto para espantar os maus

espíritos. Se cantar vale por rezar duas

vezes, isto fica por conta do próprio canto.

Restaurando-me, cresço.

Crio detalhes que se liberam de minha mente

e de minhas mãos.

Sou da idade de meus príncipes

negros,

jovem como meus guerreiros

tupiniquins.

 

 

 

Extraído de “Escrita do eu em tempos de comunicação e trânsitos: a voz de Valdelice Pinheiro Maria de Lourdes Netto Simões” (Revista Brasileira de Literatura Comparada, n.12, 2008)

 

 

 

RABISCOS

Deixo que a mão vá
como se fosse asa
e traga do silêncio
de mim
o riso,
ou a música
que eu não faço.
Deixo que a mão vá
e busque,
na solidão
de onde não me sei,
o risco que me traça
o grito,
a linha que me traz
a voz.
Deixo que a mão vá e,
como se fosse um deus
fiando luz,
me crie
de meu nada.

 

 

 

 

Página publicada em março de 2020


 

 

 
 
 
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